Os portugueses Paulo Alves e Rui Oliveira em Madrid 1979. Fotos: arquivo Aires Denis. Montagem: O Marchador |
Passam hoje 40 anos sobre a data da
primeira vez em que marchadores portugueses participaram num encontro
internacional de juniores (Sub-20) em representação da seleção nacional de
atletismo. A competição teve lugar em Madrid, na pista do INEF e a delegação
portuguesa deslocou-se de autocarro e pernoitou na Residência Universitária. Na
comitiva seguia António Leitão, uma das grandes promessas do atletismo luso,
que naquele ano conquistaria a medalha de bronze nos Europeus de Juniores, em
Bydgoszcz, na Polónia, e cinco anos mais tarde a medalha de bronze na prova dos
5.000 m dos Jogos Olímpicos de Los Angeles.
Foi um marco histórico para a marcha
atlética portuguesa em que Paulo Alves e Rui Oliveira tomaram parte na prova de
10.000 metros.
Os resultados, que se sabiam de
antemão, não seriam o fator mais importante nesta presença da marcha atlética
lusa no primeiro confronto perante países com outro nível de desenvolvimento,
absolutamente incomparável, na medida em que só após os primeiros passos, dados
após o 25 de abril de 1974, a disciplina se implantaria definitivamente em
Portugal.
Para a história ficariam registadas
as classificações daquela prova de marcha realizada a 7 de julho de 1979, com
os dois primeiros lugares a serem preenchidos pelos excelentes atletas
italianos Groselle (45.19,6) e Pettorino (45.24,8), nos segundo e terceiro
lugares pelos espanhóis Carné (48.07,2) e Jimet (53.08,0) e nas posições
seguintes, Paulo Alves (54.50,4) e Rui Oliveira (56.13,8), este a estabelecer um
novo recorde nacional de juvenis (Sub-18).
Os dois atletas que representaram a
seleção portuguesa nesse ano eram provenientes de dois dos principais polos de
desenvolvimento da marcha atlética em Portugal: o Clube de Futebol Santa Iria e
o Sport Lisboa e Benfica.
Paulo Alves, um dos mais destacados
atletas no panorama nacional daquele tempo viria, principalmente, e ainda no
escalão júnior, a bater uma série de recordes nacionais absolutos no primeiro
semestre de 1980. Representava o CFSI. Foi aqui que Aires Denis e o seu colega
francês Raymond Ismal desenvolveram um excelente trabalho de coordenação da
atividade, secundados pelo técnico local, o sr. Sardinha, e que deu frutos com
o aparecimento de talentosos jovens e de onde surgiram as duas primeiras especialistas
de marcha, Evelina Fernando e Isaura Tavares. Com provas da especialidade
realizadas com caráter regular em Santa Iria, Póvoa de Santa Iria, Alhandra,
Vialonga e Vila Franca de Xira e a participação de atletas do Santa Iria,
Povoense, Benfica, CPM Urgeiriça, entre outros clubes, estavam lançadas as
bases para a sua definitiva implantação.
Rui Oliveira representava o SLB que
naqueles anos 70, por força do dinamismo de Francisco Assis levou a marcha
atlética aos torneios de bairros do SLB e revelou vários dos mais destacados
primeiros especialistas na disciplina como, por exemplo, José Dias, Luís Dias
ou José Pinto, que seguiriam mais tarde o exemplo de Assis no desbravamento da
marcha atlética por esse país fora, com o forte suporte de Aires Denis. O SLB, então sob o impulso de Arnaldo Santos, que mais tarde exerceria funções de presidente
do Conselho de Arbitragem da FPA, ainda viria a organizar dois grandes prémios
de marcha nas imediações do antigo Estádio da Luz. Foram muitos os jovens que
despontaram no clube, sendo o caso do José Urbano um dos exemplos mais
paradigmáticos.