domingo, 7 de julho de 2019

Paulo Alves e Rui Oliveira, os primeiros marchadores em representação de Portugal

Os portugueses Paulo Alves e Rui Oliveira em Madrid 1979.
Fotos: arquivo Aires Denis. Montagem: O Marchador

Passam hoje 40 anos sobre a data da primeira vez em que marchadores portugueses participaram num encontro internacional de juniores (Sub-20) em representação da seleção nacional de atletismo. A competição teve lugar em Madrid, na pista do INEF e a delegação portuguesa deslocou-se de autocarro e pernoitou na Residência Universitária. Na comitiva seguia António Leitão, uma das grandes promessas do atletismo luso, que naquele ano conquistaria a medalha de bronze nos Europeus de Juniores, em Bydgoszcz, na Polónia, e cinco anos mais tarde a medalha de bronze na prova dos 5.000 m dos Jogos Olímpicos de Los Angeles.

Foi um marco histórico para a marcha atlética portuguesa em que Paulo Alves e Rui Oliveira tomaram parte na prova de 10.000 metros.

Os resultados, que se sabiam de antemão, não seriam o fator mais importante nesta presença da marcha atlética lusa no primeiro confronto perante países com outro nível de desenvolvimento, absolutamente incomparável, na medida em que só após os primeiros passos, dados após o 25 de abril de 1974, a disciplina se implantaria definitivamente em Portugal.

Para a história ficariam registadas as classificações daquela prova de marcha realizada a 7 de julho de 1979, com os dois primeiros lugares a serem preenchidos pelos excelentes atletas italianos Groselle (45.19,6) e Pettorino (45.24,8), nos segundo e terceiro lugares pelos espanhóis Carné (48.07,2) e Jimet (53.08,0) e nas posições seguintes, Paulo Alves (54.50,4) e Rui Oliveira (56.13,8), este a estabelecer um novo recorde nacional de juvenis (Sub-18).

Os dois atletas que representaram a seleção portuguesa nesse ano eram provenientes de dois dos principais polos de desenvolvimento da marcha atlética em Portugal: o Clube de Futebol Santa Iria e o Sport Lisboa e Benfica.

Paulo Alves, um dos mais destacados atletas no panorama nacional daquele tempo viria, principalmente, e ainda no escalão júnior, a bater uma série de recordes nacionais absolutos no primeiro semestre de 1980. Representava o CFSI. Foi aqui que Aires Denis e o seu colega francês Raymond Ismal desenvolveram um excelente trabalho de coordenação da atividade, secundados pelo técnico local, o sr. Sardinha, e que deu frutos com o aparecimento de talentosos jovens e de onde surgiram as duas primeiras especialistas de marcha, Evelina Fernando e Isaura Tavares. Com provas da especialidade realizadas com caráter regular em Santa Iria, Póvoa de Santa Iria, Alhandra, Vialonga e Vila Franca de Xira e a participação de atletas do Santa Iria, Povoense, Benfica, CPM Urgeiriça, entre outros clubes, estavam lançadas as bases para a sua definitiva implantação.

Rui Oliveira representava o SLB que naqueles anos 70, por força do dinamismo de Francisco Assis levou a marcha atlética aos torneios de bairros do SLB e revelou vários dos mais destacados primeiros especialistas na disciplina como, por exemplo, José Dias, Luís Dias ou José Pinto, que seguiriam mais tarde o exemplo de Assis no desbravamento da marcha atlética por esse país fora, com o forte suporte de Aires Denis. O SLB, então sob o impulso de Arnaldo Santos, que mais tarde exerceria funções de presidente do Conselho de Arbitragem da FPA, ainda viria a organizar dois grandes prémios de marcha nas imediações do antigo Estádio da Luz. Foram muitos os jovens que despontaram no clube, sendo o caso do José Urbano um dos exemplos mais paradigmáticos.