quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Samuel Pereira – do orgulho à frustração


No final de uma época em que se sagrou campeão nacional de juvenis em estrada e em pista e ainda de juniores em pista, Samuel Pereira participou na fase europeia de apuramento para os I Jogos Olímpicos da Juventude, Singapura-2010. Tendo-se iniciado na marcha em finais de 2008 e representando actualmente o Feras Sportive – União Atlética da Guarda, o atleta treinado pelo marchador olímpico Pedro Martins oferece aos leitores de «O Marchador» o relato que segue da prova realizada em Moscovo, em Maio passado.


No início da época passada (2009-2010), o meu treinador, Pedro Martins, informou-me da realização dos primeiros Jogos Olímpicos da Juventude, em Singapura, e de que existiriam os Apuramentos Europeus (Moscovo) para esta competição. Depois de o ter questionado quanto às possibilidades da minha presença, a resposta foi “…tens que ser o melhor juvenil na especialidade…”.
Sem qualquer tipo de pressão, decidimos, em conjunto, que havendo a possibilidade de representar a Selecção Nacional iria lutar por ela.
Assim, a época foi decorrendo com uma preparação adequada às minhas capacidades e que me permitisse evoluir gradualmente. Realizaram-se algumas provas na distância de 10.000 metros e ficou bem evidente que eu era o Juvenil em melhor estado de forma. Com o avançar da temporada, fui sendo congratulado com triunfos, entre os quais o de Campeão Nacional de Marcha em Estrada, e estabelecendo sucessivos recordes pessoais.
Entretanto foi revelada a selecção dos onze atletas das diferentes disciplinas que iriam a Moscovo e eu fui um dos escolhidos. Quando soube, senti um grande orgulho e uma sensação de que o esforço dispendido foi reconhecido mas também, uma grande responsabilidade, a de querer justificar a minha escolha para esta selecção.
Nos dias que antecederam a viagem para Moscovo, senti-me muito ansioso, pois não era só a ida a uma grande competição mas também o peso da responsabilidade ao vestir a camisola da selecção portuguesa.
O dia da prova amanheceu ameno, estava a sentir-me bem, apesar dos fusos horários e das diferentes condições climatéricas.
Embora não sendo candidato ao apuramento para Singapura as marcas conseguidas e o meu estado de forma indiciavam que poderia chegar na primeira metade da classificação, o que me deixava num estado de alguma ansiedade.
Com o ritmo inicial elevado no qual todo o pelotão se envolveu e sem ninguém para me orientar os andamentos e impor-me alguma calma (uma das funções dos treinadores, nestes casos), marchei sempre muito contraído o que fez com que a segunda metade da prova fosse bem pior que a primeira, o que raramente aconteceu durante toda a época.
No último quilómetro, pensei que “apesar de não estar a ser uma boa prova, darei tudo até ao fim, mesmo que o tudo não seja muito”. A pouco mais de uma volta do fim numa mudança de ritmo com o objectivo de subir na classificação, senti uma indisposição, acabando em vómitos e, instintivamente, fui parar ao relvado. Quando regressei à pista para terminar a competição, pelos juízes foi-me dito que não o poderia fazer, que deveria abandonar a prova.
Os que me conhecem sabem que não sou de deixar uma batalha a meio, logo o desânimo e a frustração acompanharam-me na saída da pista.
Poderia ter feito melhor bastando que para isso alguém me impusesse calma no ritmo inicial. Restou-me a compreensão do meu treinador e de todos os que me apoiaram nesta “aventura”, ganhando experiência para outras batalhas que se seguirão em breve.