Maria Vasco em Sydney-2000 onde alcançou uma medalha olímpica. |
«Sempre
soube que a minha carreira tinha prazo de validade e queria ser eu a decidir.
Esse momento chegou», declarou aos jornalistas de forma emocionada, adiantando
a falta de motivação e novos horizontes na sua vida como justificação para se
decidir a parar: «Muitas pessoas que me estão próximas não querem que me
retire, mas na vida há já outras coisas que me iluminam o olhar e me fazem
seguir para uma nova etapa pessoal.»
Nascida em
Dezembro de 1975, María Vasco iniciou-se na marcha atlética aos 11 anos,
inspirada por ver a treinar no seu bairro as credenciadas marchadoras Mari Cruz
Díaz e María Reyes Sobrino, as mais destacadas especialistas espanholas dos
anos 80 e início da década de 90. «Foi Manolo Díaz, pai de Mari Cruz, quem me
iniciou na marcha e curiosamente não foi preciso ensinarem-me a marchar, porque
tinha aprendido a técnica vendo a Mari Cruz e a Reyes a treinar», revelou
durante a conferência de imprensa.
Para o
futuro, esta já «ex-»marchadora que se caracteriza a si própria como uma mulher
inquieta diz querer continuar ligada ao desporto e à marcha atlética, mas
desvenda que também a maternidade, a beleza e a moda estão a atraí-la.
María del
Monte Vasco Gallardo termina assim a carreira de marchadora competitiva como
única atleta feminina do atletismo espanhol a ter alcançado uma medalha
olímpica. Aconteceu nos Jogos de Sydney de 2000, quando terminou os 20 km no
terceiro lugar, sendo a única entre os 58 membros da delegação (34 masculinos e
24 femininos) a fazer subir a bandeira de Espanha aos mastros protocolares da
modalidade.
Esse terá
sido o momento mais alto da carreira da atleta catalã, que viveu nos europeus
de Barcelona, em 2010, a maior tristeza desportiva, ao desistir por lesão na
prova de 20 km marcha femininos. «Sabia que era o meu último europeu e
lesionei-me. Não consegui chegar ao fim e passei um mau bocado. Com as vitórias
aprende-se muito, mas mais ainda se aprende com as derrotas. E dessa vez
aprendi mesmo muito», explicou.
A primeira
internacionalização de María Vasco aconteceu aos 14 anos, por ocasião dos
mundiais de juniores de Plovdiv, na Bulgária. Foi 15.ª classificada, num dia em
que a vitória sorriu a Susana Feitor, apenas uns meses mais velha. Terá sido
esse o primeiro de muitos encontros entre as duas maiores figuras da marcha
feminina da Península Ibérica.
Nos anos
seguintes, María Vasco melhoraria os desempenhos nos mundiais desse escalão,
passando a sexta em Seul-1992 e a quarta em Lisboa-1994. Pelo meio foi também
quarta nos europeus de San Sebastian, em 1993.
Já como
sénior participou em cinco edições dos Jogos Olímpicos, de Atlanta-1996 a Londres-2012,
e ainda em oito mundiais de atletismo, quatro europeus, oito taças do mundo de
marcha e oito taças da Europa. Para além da já referida medalha olímpica de
Sydney, María Vasco obteve nessas participações outras importantes
classificações, como as vitórias na Taça da Europa de Metz (2009) e na Taça do
Mundo de Chihuahua (2010) ou os terceiros lugares na Taça da Europa de
Cheboksary (2003), na Taça do Mundo de Naumburg (2004) e nos mundiais de Ósaca
(2007), a que se juntam ainda os segundos lugares nos Jogos do Mediterrâneo de
2005 (Almería) e nos europeus de sub-23 de 1997 (Türkü).
Entre 1990 e
2012 vestiu a camisola nacional em 41 ocasiões: 36 em selecções absolutas,
quatro como júnior e uma em sub-23. Permanece como recordista de Espanha de 5
km, 10 km e 20 km marcha em estrada e ainda de 3000 m marcha em pista, tendo
sido no passado também detentora dos máximos espanhóis de 5000 e 10.000 metros
marcha em pista.
María Vasco
manifesta agora vontade de correr uma maratona e garante que vai continuar a
praticar desporto ao longo da vida. «Já levo 27 anos nesta actividade, mas
daqui em diante não vou calçar as sapatilhas por obrigação. Quero correr uma
maratona. Já fiz muitas meias-maratonas e quero saber como é fazer uma
maratona. Tenho muito respeito por essa distância e devo prepará-la. O que
agora me motiva é correr e subir para uma bicicleta para perceber o que se
sente», comentou.
Apesar do
grande valor das melhores marchadoras de Espanha, María Vasco tem um lugar
ímpar na história da marcha do país vizinho, sendo ao mesmo tempo um nome que
foi capaz de granjear o maior respeito no muito selecto mundo da marcha
atlética.