Estátua dedicada a Jefferson Pérez, em Cuenca, sua terra natal. Foto: Viajero del Norte |
O Equador amanheceu em festa no dia 26 de Julho de 1996. Quatro mil quilómetros mais a norte, na cidade de Atlanta (EUA), Jefferson Pérez acabava de vencer os 20 km marcha nos Jogos Olímpicos do Centenário. Era a primeira vez que um atleta equatoriano conquistava o mais ambicionado prémio que um desportista pode almejar – a medalha de ouro olímpica.
No final de uma prova empolgante, aquele jovem de 22 anos natural de Cuenca tinha conseguido impor-se aos principais favoritos e venceu com 1.20.07 h, diante do russo Ilya Markov e do mexicano Bernardo Segura, que o acompanharam no pódio. Antes deste feito de Pérez, o melhor que o Equador tinha conseguido em Jogos Olímpicos fora o 4.º lugar do nadador Jorge Delgado nos 200 metros mariposa dos Jogos de 1972, em Munique.
Consta que na véspera da prova, o irmão de Jefferson, Fausto Pérez, quis comprar por dez dólares uma réplica das medalhas outorgadas aos vencedores das diferentes competições dos Jogos. Mas Jefferson disse-lhe que não o fizesse, porque no dia seguinte iria levar uma verdadeira para casa. E assim aconteceu mesmo, para satisfação da família Pérez Quezada e de todo o povo do Equador, cujo Governo proclamou o 26 de Julho de cada ano como Dia Nacional do Desporto.
O problema depois foi encontrar uma bandeira do Equador e descobrir uma gravação do hino para a realização da cerimónia protocolar. Jefferson Pérez tinha chegado à capital da Jórgia como mais um participante nos Jogos Olímpicos, sem que ninguém o encarasse como favorito para a prova em que iria alinhar. O sabor de uma vitória alcançada em tais condições só podia ser o mais doce.
Nas duas edições seguintes dos Jogos, tanto em Sydney (2000) como em Atenas (2004), Pérez teve de contentar-se com o quarto lugar, mas voltaria ao pódio olímpico em 2008, quando em Pequim perdeu apenas para o russo Valeriy Borchin, conquistando a medalha de prata.
Para trás estava uma carreira de marchador internacional marcada por outros sucessos que só podiam prenunciar o que o futuro viria confirmar. Em 1992 sagrou-se campeão mundial de juniores em Seul (10 mil metros marcha), dois anos depois de ter ganho a medalha de bronze nos mundiais do escalão em Plovdiv (Bulgária). Já entre os mais velhos, sempre em 20 km e considerando apenas as grandes competições mundiais, venceria nos campeonatos do mundo de 2003 (Paris), 2005 (Helsínquia) e 2007 (Ósaca) e ainda nas Taças do Mundo de Marcha de 1997 (Podebrady), 2002 (Turim) e 2004 (Naumburg).
Na capital francesa, competindo no traçado definido na cidade operária de Saint-Denis, nos subúrbios de Paris, o resultado final de 1.17.21 h permitiou a Jefferson Pérez não apenas a medalha de ouro do mundial mas o estabelecimento de novo recorde do mundo dos 20 km marcha. De uma penada, Pérez tornava-se o primeiro sul-americano campeão do mundo e o primeiro atleta do continente a deter um máximo mundial depois do recorde estabelecido em 1975 no triplo salto pelo brasileiro João Carlos de Oliveira, o «João do Pulo», com 17,89 m.
Jefferson Pérez abandonou a marcha de alta competição em Setembro de 2008. O seu sucesso foi a faísca que impulsionou o desporto equatoriano ao longo dos últimos anos, tanto através do surgimento de novos marchadores de qualidade como também pelos resultados alcançados noutras especialidades, desde o atletismo (vitórias equatorianas em campeonatos pan-americanos) ao futebol (apuramento inédito para os mundiais de Coreia/Japão-2002 e Alemanha-2006).
Perto de concluir um curso superior em Marketing Desportivo numa universidade espanhola depois de ter estudado Gestão de Empresas no seu país, Jefferson dedica-se actualmente à vida empresarial através da sua firma JP Sport Marketing e também à fundação que criou para apoiar os estudos de 1200 crianças carenciadas do seu país. E foi precisamente para as crianças do Equador que a jornalista Sandra López escreveu «Nardo y los Zapatitos de Oro», um livro que conta a história do desportista Jefferson Leonardo Pérez Quezada.
A cidade natal de Jefferson Pérez tem erigida no Parque das Mães uma estátua de bronze em homenagem ao mais ilustre filho da terra (na foto), que com o dorsal 1326 triunfou nos Jogos Olímpicos, faz hoje 15 anos. No pedestal pode ler-se: «A Jefferson Pérez Quezada, o maior e mais célebre desportista equatoriano de todos os tempos. Campeão olímpico em 1996 e histórico embaixador do país nos confins do mundo. Testemunho de gratidão de todo o povo. Cuenca, Julho de 2006».
Por cima, em epígrafe, ficou escrito: «La gloria no tiene sombra.»