quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Marcha em Portugal na Primavera de 1938 (VIII)

Com o fim da Primavera de 1938 terminava também a primeira fase do ciclo de provas de marcha realizadas nesse ano em várias cidades do país. Já no final do Verão e no Outono, outras provas iriam surgir, na sequência do impulso inicial dado pela prova de 25 km levada a efeito pelo jornal «Os Sports» em 10 de Abril e que já estivera na origem de outras competições realizadas em Setúbal (8 de Maio), de novo em Lisboa (5 de Junho) e em Coimbra (também 5 de Junho).

Depois de algumas brevíssimas notícias sobre a actividade da modalidade no estrangeiro surgidas no jornal durante os meses de Junho e Julho, as páginas de «Os Sports» voltariam a mencionar provas de marcha em Portugal na edição de 29 de Agosto. Noticiava-se nessa edição que na véspera, 28 de Agosto, tivera lugar em Lisboa uma prova com partida e chegada à Praça dos Restauradores. Infelizmente, o jornal parece não ter dado tanta importância a esta prova como a outras realizadas antes, de tal forma que nada se diz na peça sobre o percurso, a distância ou sequer a entidade organizadora.

Depois de lembrar que se tratava de uma modalidade «que durante muitos anos esteve em completo abandono e que ressuscitou com a prova há quatro meses organizada por 'Os Sports'» e de acrescentar que a marcha tem a simpatia do público e condições para se desenvolver entre nós, remata com a classificação. O vencedor foi Alberto de Sousa, que já ganhara a competição de Abril, tendo agora sido seguido na classificação por Constantino Gama, Modesto Prisco, Guilherme Duarte, Artur Gomes e Manuel Graça. Também não se sabe de tempos, nem de clubes representados, nem de quantidade de atletas à partida e à chegada.

Não deixa de ser curioso e até significativo que, em ano de Campeonatos da Europa de Atletismo, o trissemanário desportivo anuncie esse importante evento internacional na véspera da abertura, na edição de 2 de Setembro, mencionando a marcha na lista dos campeões em título, mas nada dizendo sobre os marchadores quando trata de referir os recordes europeus vigentes e as expectativas em relação a provas e concursos destes segundos europeus, realizados em Paris. Uma semana depois daria a lista dos principais resultados, incluindo os da marcha, esgotando-se o assunto da marcha nos europeus com uma foto da partida dos 50 km publicada a titulo meramente ilustrativo em 19 de Setembro, sem qualquer texto além da legenda.

O «belo exercício desportivo que é a marcha» - foi assim que «Os Sports» se referiram à modalidade quando, na edição de 21 de Setembro, anunciara estar a ser organizada no Barreiro mais uma prova da modalidade. Iria ter lugar no dia 5 de Outubro e, como já era de esperar, salientava-se o facto de se tratar de mais uma prova surgida após o renascimento da especialidade pelo jornal. Na edição seguinte, dois dias depois (23 de Setembro), acrescentava-se que a prova teria 14 quilómetros de extensão e era organizada por uma comissão de sócios da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste. As inscrições custariam 2$50 por atleta (pouco mais de um cêntimo na moeda actual). Haveria taças para as duas primeiras equipas e medalhas para os primeiros dez atletas da classificação individual.

No dia da prova, o jornal anunciava estarem inscritos atletas de Lisboa, Setúbal e Barreiro. Por fim, na edição de 7 de Outubro, surgia a reportagem, inserida numa coluna dedicada ao festival organizado no Barreiro e que contemplava diversas actividades desportivas de que a marcha era apenas uma. A história foi contada da seguinte maneira:

Albertino Loureiro ganhou a prova de marcha

A prova de marcha despertou grande interesse por ser a primeira vez que se fazia no Barreiro uma competição desta modalidade. Durante o percurso, de cerca de 14 quilómetros, com duas passagens pelo Lavradio, presenciaram a prova algumas centenas de pessoas, que aplaudiram calorosamente os concorrentes.

Estes foram em número de 50, dos 58 que estavam inscritos, tendo cortado a meta 38.

Eis a classificação individual:

1.º, Albertino Loureiro, do Santoantonense S.C., 1 h. 27 m. 3 s.; 2.º, João Silva, do mesmo clube, 1 h. 27 m 5 s.; 3.º, Salvador Antunes, Campo de Ourique, 1 h. 27 m 6 s.; 4.º, Modesto Pisco, Sete Rios; 5.º, Ladislau Dias, Grémio do Alto do Pina; 6.º, Floriano Tavares, do Santoantonense; 7.º, Guilherme Duarte, Sporting; 8.º, Alberto Sousa, do Alto do Pina; 9.º, Manuel Graça, do Sete Rios; 10.º, Carlos Figueira, do Campo de Ourique.

Por equipas: 1.º, Santoantonense F.C., 9 pontos; 2.º, Alto do Pina, 33 pontos; 3.º, Sporting, 33 pontos; 4.º, Sete Rios, 36 pontos.

A classificação do Alto do Pina deve-se ao facto de ter um concorrente que chegou à frente do primeiro do Sporting.

Apesar da aproximação do fim do ano, outras provas ainda iam surgindo sob o impulso da prova inicial de «Os Sports», por vezes com o apoio técnico da equipa do jornal. Anunciava-se já outra prova em Coimbra e mais algumas no Sul do país. Mas, depois...