Com o fim da
Primavera de 1938 terminava também a primeira fase do ciclo de provas de marcha
realizadas nesse ano em várias cidades do país. Já no final do Verão e no
Outono, outras provas iriam surgir, na sequência do impulso inicial dado pela
prova de 25 km levada a efeito pelo jornal «Os Sports» em 10 de Abril e que já
estivera na origem de outras competições realizadas em Setúbal (8 de Maio), de
novo em Lisboa (5 de Junho) e em Coimbra (também 5 de Junho).
Depois de
algumas brevíssimas notícias sobre a actividade da modalidade no estrangeiro
surgidas no jornal durante os meses de Junho e Julho, as páginas de «Os Sports»
voltariam a mencionar provas de marcha em Portugal na edição de 29 de Agosto.
Noticiava-se nessa edição que na véspera, 28 de Agosto, tivera lugar em Lisboa
uma prova com partida e chegada à Praça dos Restauradores. Infelizmente, o
jornal parece não ter dado tanta importância a esta prova como a outras
realizadas antes, de tal forma que nada se diz na peça sobre o percurso, a
distância ou sequer a entidade organizadora.
Depois de
lembrar que se tratava de uma modalidade «que durante muitos anos esteve em
completo abandono e que ressuscitou com a prova há quatro meses organizada por
'Os Sports'» e de acrescentar que a marcha tem a simpatia do público e
condições para se desenvolver entre nós, remata com a classificação. O vencedor
foi Alberto de Sousa, que já ganhara a competição de Abril, tendo agora sido
seguido na classificação por Constantino Gama, Modesto Prisco, Guilherme
Duarte, Artur Gomes e Manuel Graça. Também não se sabe de tempos, nem de clubes
representados, nem de quantidade de atletas à partida e à chegada.
Não deixa de
ser curioso e até significativo que, em ano de Campeonatos da Europa de
Atletismo, o trissemanário desportivo anuncie esse importante evento
internacional na véspera da abertura, na edição de 2 de Setembro, mencionando a
marcha na lista dos campeões em título, mas nada dizendo sobre os marchadores
quando trata de referir os recordes europeus vigentes e as expectativas em
relação a provas e concursos destes segundos europeus, realizados em Paris. Uma
semana depois daria a lista dos principais resultados, incluindo os da marcha,
esgotando-se o assunto da marcha nos europeus com uma foto da partida dos 50 km
publicada a titulo meramente ilustrativo em 19 de Setembro, sem qualquer texto
além da legenda.
O «belo
exercício desportivo que é a marcha» - foi assim que «Os Sports» se referiram à
modalidade quando, na edição de 21 de Setembro, anunciara estar a ser organizada
no Barreiro mais uma prova da modalidade. Iria ter lugar no dia 5 de Outubro e,
como já era de esperar, salientava-se o facto de se tratar de mais uma prova
surgida após o renascimento da especialidade pelo jornal. Na edição seguinte,
dois dias depois (23 de Setembro), acrescentava-se que a prova teria 14
quilómetros de extensão e era organizada por uma comissão de sócios da
Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários dos Caminhos de Ferro do Sul e
Sueste. As inscrições custariam 2$50 por atleta (pouco mais de um cêntimo na
moeda actual). Haveria taças para as duas primeiras equipas e medalhas para os
primeiros dez atletas da classificação individual.
No dia da
prova, o jornal anunciava estarem inscritos atletas de Lisboa, Setúbal e
Barreiro. Por fim, na edição de 7 de Outubro, surgia a reportagem, inserida
numa coluna dedicada ao festival organizado no Barreiro e que contemplava
diversas actividades desportivas de que a marcha era apenas uma. A história foi
contada da seguinte maneira:
Albertino Loureiro
ganhou a prova de marcha
A prova de
marcha despertou grande interesse por ser a primeira vez que se fazia no
Barreiro uma competição desta modalidade. Durante o percurso, de cerca de 14
quilómetros, com duas passagens pelo Lavradio, presenciaram a prova algumas
centenas de pessoas, que aplaudiram calorosamente os concorrentes.
Estes foram
em número de 50, dos 58 que estavam inscritos, tendo cortado a meta 38.
Eis a
classificação individual:
1.º,
Albertino Loureiro, do Santoantonense S.C., 1 h. 27 m. 3 s.; 2.º, João Silva,
do mesmo clube, 1 h. 27 m 5 s.; 3.º, Salvador Antunes, Campo de Ourique, 1 h.
27 m 6 s.; 4.º, Modesto Pisco, Sete Rios; 5.º, Ladislau Dias, Grémio do Alto do
Pina; 6.º, Floriano Tavares, do Santoantonense; 7.º, Guilherme Duarte,
Sporting; 8.º, Alberto Sousa, do Alto do Pina; 9.º, Manuel Graça, do Sete Rios;
10.º, Carlos Figueira, do Campo de Ourique.
Por equipas:
1.º, Santoantonense F.C., 9 pontos; 2.º, Alto do Pina, 33 pontos; 3.º,
Sporting, 33 pontos; 4.º, Sete Rios, 36 pontos.
A
classificação do Alto do Pina deve-se ao facto de ter um concorrente que chegou
à frente do primeiro do Sporting.
Apesar da
aproximação do fim do ano, outras provas ainda iam surgindo sob o impulso da
prova inicial de «Os Sports», por vezes com o apoio técnico da equipa do
jornal. Anunciava-se já outra prova em Coimbra e mais algumas no Sul do país.
Mas, depois...