Hélder Oliveira exibindo uma placa alusiva aos campeonatos. Foto: O Marchador |
Cumprida a
30.ª edição dos Campeonatos Nacionais de Marcha em Estrada, a 1 de Fevereiro em
Quarteira, a primeira nota a registar numa apreciação à forma como decorreu vai
para a constatação de que algumas das falhas verificadas em 2013, nos
campeonatos realizados no Montijo, foram emendadas. Desta vez, notou-se uma
identificação clara do local onde estava instalada a meta, houve cronómetros de
grande visibilidade assinalando a contagem do tempo de prova nos 50 km e dos 20
km femininos, incluindo as restantes provas que tiveram partidas simultâneas
com essas. Igualmente positivas foram a boa localização e a funcionalidade da
câmara de chamada. Pena foi que a zona da chegada não tivesse maior largura, dando
origem a alguma confusão na identificação dos atletas que seguiam para mais uma
volta e dos que viravam à direita a fim de encaminhar-se para a meta.
A locução
foi assegurada por Hélder Oliveira, consagrado marchador internacional em cuja
honra foi baptizada esta edição dos campeonatos, tendo o histórico marchador
olhanense garantido alguma informação a respeito dos atletas que se mantinham
em competição.
No entanto,
nem tudo correu pelo melhor e, tal como em 2013, a maior fatia da
responsabilidade vai para a estrutura central da Federação Portuguesa de
Atletismo. E desde logo, um aspecto se tornou evidente: nenhum membro da
direcção da federação esteve a acompanhar estes campeonatos nacionais
(naturalmente, com a excepção de Susana Feitor, que, sendo dirigente
federativa, é também atleta em actividade e encontrava-se em Quarteira com
importantes objectivos nos 20 km femininos). Nem o presidente Jorge Vieira nem
qualquer outro membro da direcção esteve a acompanhar estes campeonatos, facto
que visivelmente não agradou aos dirigentes distritais. O facto não traduz
consideração nem respeito pelos participantes e é provavelmente caso único em
29 anos de história dos nacionais de marcha em estrada.
Como
consequência, as funções de delegado técnico e de delegado da organização
tiveram de ser asseguradas por elementos que não os inicialmente indicados para
o efeito. Ainda assim, assinale-se a impressão de excelente trabalho do árbitro
indicado para a competição, Jorge Aniceto, traduzido na imediata chamada de atenção
para qualquer deficiência e na articulação com os juízes locais. À última hora,
Jorge Aniceto teve de assumir ainda as funções de delegado técnico e de
delegado de doping.
Para além do
atraso de cerca de 15 minutos na partida das primeiras competições, foi
estranha a inclusão no programa de uma prova extra de 35 km para sub-23 na qual
nenhum atleta alinhou. Depois de a FPA ter decidido, há alguns anos, que a
prova masculina de sub-23 dos campeonatos de marcha em estrada passava de 35
para 20 km, é difícil entender a inclusão da antiga distância como prova extra
nesta edição sem que, aparentemente, suscitasse o interesse de qualquer
concorrente.
Atletas de
nível internacional e motivos de orgulho do desporto de Olhão, do Algarve e de
Portugal, Hélder Oliveira e Jorge Costa foram as figuras honradas com a
inclusão dos respectivos nomes nas designações oficiais dos Campeonatos
Nacionais de Marcha em Estrada e do Torneio Marchador Jovem. Era, por isso, de
esperar que um e outro fossem objecto de alguma homenagem da parte da
organização do evento. No entanto, nenhuma homenagem teve lugar. Em determinado
momento percebeu-se que Susana Feitor, numa fase da entrega dos prémios,
ofereceu a Hélder Oliveira uma placa alusiva aos campeonatos, num gesto
simpático mas ao qual terá faltado a devida expressão pública e a respectiva
extensão a Jorge Costa.
E já que se
fala de entrega de prémios, convirá recordar que, perante a demora do início
das cerimónias protocolares, acabou por ser o presidente da Associação de Atletismo
do Algarve, Lara Ramos, a começar a chamar os atletas para receberem as
medalhas no pódio. No entanto, tratou-se de cerimónias sem a organização que
tem sido habitual nos últimos anos (em campeonatos de marcha e noutros), sem
trecho musical específico, sem desfile dos medalhados, enfim, sem nenhuma forma
de emprestar maior dignidade às cerimónias protocolares. O procedimento não
deverá ter sido estruturado com a devida antecedência, as diferentes cerimónias
não ocorreram logo que os resultados eram finalizados em cada prova, acabou por
ser tudo um pouco à pressa e com uma estranha chamada de atenção para o risco
de desclassificação dos atletas que faltassem à premiação. Pode compreender-se
que houvesse alguma pressão em certa fase da jornada em consequência dos
improvisos que a organização local teve de fazer à última hora, mas daí a
ameaçar os atletas com uma desclassificação que nenhum regulamento prevê e
quando era de prever que alguns, com a demora, já estivessem no banho ou no
controlo de dopagem - isso é que já parece difícil de entender.
Assinalando
que hoje, terça-feira, três dias passados sobre os campeonatos, os resultados
publicados no «site» da FPA continuam provisórios, revelando omissões e erros
de classificação, quase não mencionando desistentes nem desclassificados e
carecendo de tempos parciais, terminemos esta apreciação com mais um aspecto
positivo. Perante a ausência de dirigentes federativos, mais razões há para
enaltecer a presença de dois dirigentes das secções de atletismo de dois
grandes clubes nacionais, Sporting e Benfica, a acompanhar as respectivas
equipas. Figuras históricas do atletismo português, Carlos Lopes e Ana Oliveira
foram presenças notadas nestes campeonatos. E bem poderiam ter sido convidados
a participar nas cerimónias de entrega de prémios, o que muito ajudaria a
dignificar essa parte do programa.