terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Direcção da FPA esteve ausente dos nacionais de marcha

Hélder Oliveira exibindo uma placa alusiva aos
campeonatos. Foto: O Marchador
Cumprida a 30.ª edição dos Campeonatos Nacionais de Marcha em Estrada, a 1 de Fevereiro em Quarteira, a primeira nota a registar numa apreciação à forma como decorreu vai para a constatação de que algumas das falhas verificadas em 2013, nos campeonatos realizados no Montijo, foram emendadas. Desta vez, notou-se uma identificação clara do local onde estava instalada a meta, houve cronómetros de grande visibilidade assinalando a contagem do tempo de prova nos 50 km e dos 20 km femininos, incluindo as restantes provas que tiveram partidas simultâneas com essas. Igualmente positivas foram a boa localização e a funcionalidade da câmara de chamada. Pena foi que a zona da chegada não tivesse maior largura, dando origem a alguma confusão na identificação dos atletas que seguiam para mais uma volta e dos que viravam à direita a fim de encaminhar-se para a meta.

A locução foi assegurada por Hélder Oliveira, consagrado marchador internacional em cuja honra foi baptizada esta edição dos campeonatos, tendo o histórico marchador olhanense garantido alguma informação a respeito dos atletas que se mantinham em competição.

No entanto, nem tudo correu pelo melhor e, tal como em 2013, a maior fatia da responsabilidade vai para a estrutura central da Federação Portuguesa de Atletismo. E desde logo, um aspecto se tornou evidente: nenhum membro da direcção da federação esteve a acompanhar estes campeonatos nacionais (naturalmente, com a excepção de Susana Feitor, que, sendo dirigente federativa, é também atleta em actividade e encontrava-se em Quarteira com importantes objectivos nos 20 km femininos). Nem o presidente Jorge Vieira nem qualquer outro membro da direcção esteve a acompanhar estes campeonatos, facto que visivelmente não agradou aos dirigentes distritais. O facto não traduz consideração nem respeito pelos participantes e é provavelmente caso único em 29 anos de história dos nacionais de marcha em estrada.

Como consequência, as funções de delegado técnico e de delegado da organização tiveram de ser asseguradas por elementos que não os inicialmente indicados para o efeito. Ainda assim, assinale-se a impressão de excelente trabalho do árbitro indicado para a competição, Jorge Aniceto, traduzido na imediata chamada de atenção para qualquer deficiência e na articulação com os juízes locais. À última hora, Jorge Aniceto teve de assumir ainda as funções de delegado técnico e de delegado de doping.

Para além do atraso de cerca de 15 minutos na partida das primeiras competições, foi estranha a inclusão no programa de uma prova extra de 35 km para sub-23 na qual nenhum atleta alinhou. Depois de a FPA ter decidido, há alguns anos, que a prova masculina de sub-23 dos campeonatos de marcha em estrada passava de 35 para 20 km, é difícil entender a inclusão da antiga distância como prova extra nesta edição sem que, aparentemente, suscitasse o interesse de qualquer concorrente.

Atletas de nível internacional e motivos de orgulho do desporto de Olhão, do Algarve e de Portugal, Hélder Oliveira e Jorge Costa foram as figuras honradas com a inclusão dos respectivos nomes nas designações oficiais dos Campeonatos Nacionais de Marcha em Estrada e do Torneio Marchador Jovem. Era, por isso, de esperar que um e outro fossem objecto de alguma homenagem da parte da organização do evento. No entanto, nenhuma homenagem teve lugar. Em determinado momento percebeu-se que Susana Feitor, numa fase da entrega dos prémios, ofereceu a Hélder Oliveira uma placa alusiva aos campeonatos, num gesto simpático mas ao qual terá faltado a devida expressão pública e a respectiva extensão a Jorge Costa.

E já que se fala de entrega de prémios, convirá recordar que, perante a demora do início das cerimónias protocolares, acabou por ser o presidente da Associação de Atletismo do Algarve, Lara Ramos, a começar a chamar os atletas para receberem as medalhas no pódio. No entanto, tratou-se de cerimónias sem a organização que tem sido habitual nos últimos anos (em campeonatos de marcha e noutros), sem trecho musical específico, sem desfile dos medalhados, enfim, sem nenhuma forma de emprestar maior dignidade às cerimónias protocolares. O procedimento não deverá ter sido estruturado com a devida antecedência, as diferentes cerimónias não ocorreram logo que os resultados eram finalizados em cada prova, acabou por ser tudo um pouco à pressa e com uma estranha chamada de atenção para o risco de desclassificação dos atletas que faltassem à premiação. Pode compreender-se que houvesse alguma pressão em certa fase da jornada em consequência dos improvisos que a organização local teve de fazer à última hora, mas daí a ameaçar os atletas com uma desclassificação que nenhum regulamento prevê e quando era de prever que alguns, com a demora, já estivessem no banho ou no controlo de dopagem - isso é que já parece difícil de entender.

Assinalando que hoje, terça-feira, três dias passados sobre os campeonatos, os resultados publicados no «site» da FPA continuam provisórios, revelando omissões e erros de classificação, quase não mencionando desistentes nem desclassificados e carecendo de tempos parciais, terminemos esta apreciação com mais um aspecto positivo. Perante a ausência de dirigentes federativos, mais razões há para enaltecer a presença de dois dirigentes das secções de atletismo de dois grandes clubes nacionais, Sporting e Benfica, a acompanhar as respectivas equipas. Figuras históricas do atletismo português, Carlos Lopes e Ana Oliveira foram presenças notadas nestes campeonatos. E bem poderiam ter sido convidados a participar nas cerimónias de entrega de prémios, o que muito ajudaria a dignificar essa parte do programa.