Manuel Guerreiro durante a prova de 25 km marcha em Lisboa, onde já tinha revelado boas qualidades. Foto: Arquivo DN |
A prova de
marcha de 25 km que o jornal «Os Sports» levou a efeito em Lisboa no dia 10 de
Abril de 1938 foi divulgada durante semanas nas páginas do próprio jornal e do
«Diário de Notícias» e visava fazer renascer em Portugal a prática dessa
modalidade desportiva, esquecida havia muitos anos. Tratava-se, portanto, de
uma prova com que «Os Sports» afirmavam desejar inspirar o surgimento de outras
competições da especialidade.
Para além da
elevada quantidade de inscritos e de participantes na competição de 10 de
Abril, o sucesso do evento teve nova expressão no interesse manifestado por
outras entidades de levar a efeito mais provas de marcha. E a primeira a ser
divulgada partia de uma iniciativa do Secil Football Clube, agremiação dos
trabalhadores da cimenteira Secil de Outão, junto a Setúbal. A prova foi
marcada para 8 de Maio e inscrevia-se no programa dos festejos do aniversário
do clube organizador.
«Os Sports»
trataram de ajudar a divulgar o evento, forma aliás de também valorizar ainda
mais a iniciativa que o próprio jornal levara por diante. Na edição de 27 de
Abril dizia-se que a prova setubalense teria a extensão de 20 quilómetros,
sobre um percurso com partida e chegada em Outão e passagem por Setúbal. Uma
semana depois, no jornal de 2 de Maio, já era possível especificar a volta que
os marchadores teriam de dar. Partiriam do campo de jogos do Secil F.C.,
seguiriam pela Estrada da Rasca, Comenda, Saboaria, Avenida Todi (lado sul,
passando frente ao Quartel de Infantaria 11), Fontainhas, Rua Camilo Castelo
Branco, Quatro Caminhos, Bairro Baptista, Avenida Portela, Rua Garrett, Parte
do Bonfim (por trás da capela), Estrada da Algodeia, Ferro de Engomar, Rio de
Figueira, Bairro Alves, Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, Avenida Todi
(lado norte), regressando em sentido inverso ao inicial: Saboaria, Comenda,
Estrada da Rasca e meta no campo de jogos.
De caminho
indicava-se alguma quilometragem intermédia: cinco quilómetros até Setúbal; 7,5
km no Bairro Vitorino (antes dos Quatro Caminhos); 10 km na Estrada da
Algodeia; 12,5 km na Estrada do Rio de Figueira; 15 km na Av. Todi (norte).
Na última
tiragem antes do dia da prova, edição de 6 de Maio, o jornal acrescentava uma
pitada de sal ao interesse pelo evento de Setúbal ao divulgar que entre os
inscritos se encontravam Manuel Guerreiro e Alberto de Sousa, as figuras que
tinham estado em maior destaque na prova de 10 de Abril, em Lisboa.
Chega então
a informação sobre o decurso da competição, com uma breve reportagem publicada
na segunda-feira, 9 de Maio, com um título que dizia quase tudo: «Manuel
Guerreiro ganhou a prova de marcha em 1 h. 58 m. 20 s». Ficava logo aí referido
o que o texto depois explicava um pouco.
«Manuel
Guerreiro, que na prova de marcha de 'Os Sports' havia deixado excelente
impressão, apesar de se haver classificado em quarto lugar, desforrou-se agora,
batendo os melhores da popular competição organizada pelo nosso jornal.
Na marcha de
'Os Sports' Guerreiro chegou a ter grande avanço, mas um desfalecimento no
final da prova fez-lhe perder o lugar que parecia já conquistado.
Ontem,
Manuel Guerreiro soube conduzir melhor o seu esforço e acabou por triunfar,
confirmando as belas qualidades demonstradas na prova de 'Os Sports'. Bateu o
vencedor da competição organizada pelo nosso jornal, Alberto de Sousa e bateu
Ernesto Freitas e Armando Gonçalves, classificados em 2.º e 3.º lugares.»
Como pode
verificar-se, o apontamento do repórter tem mais preocupação em comparar o
resultado desta competição com o da prova que o seu jornal tinha organizado
semanas antes do que propriamente em relatar a prova setubalense. De qualquer
forma, ficava claro que Manuel Guerreiro se afirmava como, provavelmente, o
melhor marchador a competir em Portugal nessa época. Não havendo comparações
possíveis por escassez de provas, a vitória em Setúbal e o bom desempenho em
Lisboa um mês antes eram bons indícios da capacidade do atleta do Secil
Football Clube.
Pela notícia
ficava-se a saber também que tinham alinhado 43 concorrentes na partida em
Outão, 38 dos quais conseguiriam concluir a prova. A classificação dos dez
primeiros foi a seguinte:
1.º, Manuel Guerreiro (Secil),
1.58.20
2.º, Ernesto Freitas (Raio), 2.02.30
3.º, Alberto Pereira (Alto Pina), 2.03
4.º, Amílcar Pereira (S. Domingos), 2.03.15
5.º, Mário Jesus (S. Domingos), 2.03.50
6.º, Floro Sousa (S. Domingos), 2.04
7.º, Joaquim Alvarez (Sporting), 2.04.20
8.º, Armando Gonçalves (Sete Rios), 2.04.35
9.º, Alberto de Sousa (Raio), 2.05
10.º, Manuel Baptista (S. Domingos), 2.05.30
2.º, Ernesto Freitas (Raio), 2.02.30
3.º, Alberto Pereira (Alto Pina), 2.03
4.º, Amílcar Pereira (S. Domingos), 2.03.15
5.º, Mário Jesus (S. Domingos), 2.03.50
6.º, Floro Sousa (S. Domingos), 2.04
7.º, Joaquim Alvarez (Sporting), 2.04.20
8.º, Armando Gonçalves (Sete Rios), 2.04.35
9.º, Alberto de Sousa (Raio), 2.05
10.º, Manuel Baptista (S. Domingos), 2.05.30
A escassez
de rigor que parece transparecer do aparente arredondamento das marcas
transpostas para a classificação não impediu o sucesso da iniciativa do Secil
F.C., facto que poderia ajudar ao desenvolvimento da modalidade na região e até
no país. Um mês depois haveria mais duas competições, uma em Lisboa e outra em
Coimbra.