Cabeçalho da notícia de «Os Sports» sobre a Volta à Conraria em marcha. Pesquisa: O Marchador |
No mesmo dia
5 de Junho de 1938 em que o Sport União Fonte Santense levava a efeito em
Lisboa uma prova de marcha de 25 quilómetros, Coimbra conhecia aquela que terá
sido a primeira competição da especialidade realizada na cidade. Na verdade, a
competição desenrolou-se quase toda fora do perímetro urbano, na margem
esquerda do Mondego, sobre um percurso hoje famoso no atletismo coimbrão: a
Volta à Conraria. A prova totalizava 14 quilómetros e resultava da
iniciativa do Sporting Clube das Lajes, uma das primeiras filiais em Coimbra do
Sporting Clube de Portugal e que naquela ocasião contou com o apoio, mais uma
vez, do jornal «Os Sports».
De resto, o
jornal foi pródigo na divulgação da prova, fazendo um primeiro anúncio na
edição de 6 de Maio. Aí se indicava que a competição teria lugar a 22 desse mês
(Maio), por iniciativa do Sporting Clube das Lajes. Duas semanas mais tarde, a
20 de Maio, actualizava-se a data escolhida para o acontecimento, agora 5 de
Junho, e garantia-se que se tratava, de facto, de uma novidade desportiva em
Coimbra, razão pela qual a prova estava a despertar um interesse extraordinário
nos clubes da região.
A 27 de Maio
anunciava-se que já estavam abertas as inscrições, que poderiam ser feitas até
à antevéspera da prova. Eram admitidas inscrições por equipas de cinco
elementos ou a título individual. Aquelas custavam dez escudos, enquanto os
atletas individuais deveriam pagar três escudos. E acrescentava-se que haveria
três taças de prata em disputa, sendo uma para o vencedor individual e as
restantes para as duas primeiras equipas.
Por fim, a 3
de Junho, no dia em que terminava o prazo para as inscrições, garantia-se
estarem «já inscritos pedestrianistas dos mais importantes clubes da região»,
estando a partida marcada para as 16.00 horas de 5 de Junho, nas Lajes.
Apesar de
todo o desvanecimento com que «Os Sports» se mostravam por mais uma vez terem
sido convidados a apoiar tecnicamente uma prova de marcha na sequência da
competição organizada pelo próprio jornal dois meses antes, a notícia com os
resultados da prova surgiu apenas cinco dias depois de a competição ter tido
lugar. Foi então necessário esperar por sexta-feira, 10 de Junho, para que «Os
Sports» noticiassem: «A prova de marcha do Sporting das Lages foi ganha por
Manuel Rodrigues, do Vitória da Arregaça».
Era esse o
título da reportagem (apesar de tudo, um pouco mais desenvolvida que a
publicada dois dias antes sobre a prova do Fonte Santense, em Lisboa), que a
dado passo rezava assim:
À partida,
efectuada nas Lajes, compareceram 19 atletas, número muito considerável se
atendermos que a marcha era modalidade totalmente inédita no nosso meio.
O percurso
compreendia a conhecida Volta da Conraria, num total de 14 quilómetros. Apenas
se verificou uma desistência: a de Manuel Casimiro, do Sporting das Lajes, o
que é também interessante registar.
Foi a partir
de Ceira que começou a desenhar-se o triunfo final, destacando-se imediatamente
o vencedor, com boa e vigorosa passada. Seguiam-no um pelotão composto por
Eduardo Santos, José Machado, Fausto Gonçalves, o recente vencedor da Légua de
Campanhã, João Silva e José Pereira. Fragmentados, marchavam na retaguarda os
restantes concorrentes.
Segundo o
relato de «Os Sports», que assinalava a grande adesão do público que brindou os
atletas com aplausos e incentivos, nada de significativo aconteceu até final,
apenas se definindo a classificação, que ficou ordenada da seguinte forma:
1.º, Manuel Rodrigues (Vitória
Football Clube, da Arregaça), 1h24m
2.º, José Machado (Sporting Clube das Lajes), 1h27m50s
3.º, João Silva (Sporting Clube das Lajes)
4.º, Eduardo Santos (Sporting Clube das Lajes)
5.º, Eduardo Madeira (Sporting Clube das Lajes)
6.º, Ramiro Rodrigues (Vitória da Arregaça)
7.º, José Ferreira (Vitória da Arregaça)
8.º, António Lopes (Vitória da Arregaça)
9.º, Maximino de Oliveira (Sporting Clube das Lajes)
10.º, António José de Sá (Sporting das Lajes)
11.º, Armando Simões (Sporting das Lajes)
12.º, J. Bento Roseiro (Sporting das Lajes)
13.º, Manuel Bacelar (Vitória da Arregaça)
14.º, Fausto Gonçalves (Vitória da Arregaça)
15.º, António Simões (Sporting das Lajes)
16.º, Manuel França (União Football Coimbra Clube)
17.º, António Nugata (Vitória da Arregaça)
18.º, Diamantino França (União Football Coimbra Clube)
2.º, José Machado (Sporting Clube das Lajes), 1h27m50s
3.º, João Silva (Sporting Clube das Lajes)
4.º, Eduardo Santos (Sporting Clube das Lajes)
5.º, Eduardo Madeira (Sporting Clube das Lajes)
6.º, Ramiro Rodrigues (Vitória da Arregaça)
7.º, José Ferreira (Vitória da Arregaça)
8.º, António Lopes (Vitória da Arregaça)
9.º, Maximino de Oliveira (Sporting Clube das Lajes)
10.º, António José de Sá (Sporting das Lajes)
11.º, Armando Simões (Sporting das Lajes)
12.º, J. Bento Roseiro (Sporting das Lajes)
13.º, Manuel Bacelar (Vitória da Arregaça)
14.º, Fausto Gonçalves (Vitória da Arregaça)
15.º, António Simões (Sporting das Lajes)
16.º, Manuel França (União Football Coimbra Clube)
17.º, António Nugata (Vitória da Arregaça)
18.º, Diamantino França (União Football Coimbra Clube)
Colectivamente
venceu a equipa A do Sporting Clube das Lajes (2+3+4+12=21 pontos), seguida do Vitória
Football Clube, da Arregaça (1+6+7+13=27 potos) e da equipa B do S.C. Lajes
(5+8+9+10=32 pontos).
A reportagem
assinala ainda entre as notas positivas a presença de atletas do União, «que
deu assim um alto exemplo aos clubes que não estão para massadas».
Mais uma vez
pode descortinar-se alguma falta de rigor que pode ser atribuída tanto à organização
da prova como ao nível de exigência redactorial da equipa de «Os Sports». Como
já se verificara antes, volta a surgir uma classificação com tempos incompletos
e atribuídos unicamente aos primeiros (talvez por limitação de espaço no
jornal). Para além de formas diferentes de registar o nome dos clubes e da
carência de clara identificação de quais os atletas das equipas A e B de um dos
clubes participantes, constata-se outro problema que põe em causa a
credibilidade do jornal: se havia 19 atletas concorrentes, de apenas três
clubes, todos de Coimbra, como foi possível que «Os Sports» tivessem garantido
nos dias precedentes que a prova estava a suscitar interesse extraordinário nos
clubes da região?
É uma dúvida
que paira sobre os critérios jornalísticos daquele afamado título, mesmo
descontando que os critérios de exigência e rigor dos nossos dias não podem ser
aplicados a 75 anos atrás.
Em todo o
caso, uma verdade é garantida: a Primavera de 1938 chegava ao fim com o grande
sucesso do evento levado a efeito pelo jornal em Abril desse ano e com as
significativas repercussões que dele resultaram. Depois do Verão, outras provas
seguiriam a inspiração de «Os Sports», entrando mesmo pelo ano de 1939 e por
outras regiões do país.