Delegação portuguesa à Taça do Mundo de 2006. Foto: O Marchador |
A 22.ª edição da Taça do Mundo de Marcha teve lugar na Galiza, em Espanha, nos dias 13 e 14 de maio de 2006. Ao circuito, de 2 km, delineado numa das mais belas e movimentadas avenidas da Corunha, acorreram vários milhares de espetadores que não regatearam aplausos aos atletas participantes com especial fervor para a seleção espanhola que brindou o público com uma espetacular exibição, uma das que ficam marcadas para a história da especialidade no país vizinho.
A primeira competição internacional de marcha atlética levada a efeito na Corunha aconteceu em 1987, numa prova essencialmente de exibição que contou, então, com a presença de alguns dos melhores especialistas mundiais, casos de Maurizio Damilano, Ernesto Canto, Bo Gustafsson, Jordi Llopart, entre outros, tendo sido ainda convidados a participar no “Cantones” os portugueses Hélder Oliveira e Paula Gracioso. O êxito foi tal que para o ano seguinte ficou marcada a realização de um encontro de oito seleções nacionais no qual o nosso país, pela primeira vez, marcou presença. Daí para a frente o Grande Prémio Cantones de La Coruna tem sido uma realidade constante. Um nome ficará indelevelmente associado aos grandes acontecimentos da marcha atlética na cidade galega: Sergio Vázquez. Personalidade de fino trato e eloquente orador, sempre tem tecido os mais encomiásticos elogios aos “amigos portugueses”, como gosta de os referir. Durante décadas foi presidente da Federação Galega de Atletismo.
A Espanha saboreou os triunfos coletivos nos 20 e 50 km homens, enquanto a Rússia vencia nos 20 km femininos e nas duas provas de juniores. Individualmente, vitórias de Francisco Fernández (Espanha) e Ryta Turava (Bielorrússia), nos 20 km, Denis Nizhegorodov (Rússia), nos 50 km, Sergey Morozov e Vera Sokolova, nas provas de juniores, evidenciando a supremacia russa na especialidade e, no caso particular, da República da Chuváquia, que levou uma forte delegação, chefiada pelo então ministro dos Desportos, Vyacheslav Krasnov.
De notar que o juiz português José Dias fez parte do corpo de juízes internacionais de marcha que tiveram por missão avaliar a progressão regulamentar dos atletas. Na Corunha já atuara em importantes provas como foram a do encontro internacional de 1988 e a Taça da Europa de 1996, tendo mais recentemente atuado na final do challenge mundial de 2011.
Da representação portuguesa há a destacar o excelente resultado obtido por João Vieira nos 20 km (1.20.33, 8.º) e que ainda hoje constitui a melhor marca alguma vez realizada por atletas portugueses em Taças do Mundo de Marcha. Mas, de um modo geral, as nossas seleções estiveram muito bem. Com especial relevo para a representação feminina, a “cheirar” o pódium, no 4.º lugar, com Inês Henriques (13.ª), Ana Cabecinha (14.ª) e Vera Santos (27.ª). Susana Feitor desistiu. Nos 20 km masculinos, além de João Vieira, a equipa contou com Diogo Martins (44.º) e Sérgio Vieira (45.º) e um muito aceitável 9.º lugar coletivo. Nos 50 km, uma muito consistente equipa lusa tornou possível alcançar um excelente 6.º lugar através de Pedro Martins (21.º), António Pereira (22.º), Jorge Costa (27.º), Dionísio Ventura (28.º) e Augusto Cardoso (31.º). Na prova feminina de 10 km juniores, Catarina Godinho, ainda juvenil, classificou-se em 15.º lugar, e Márcia Silva em 27.º
Luís Dias, à época técnico nacional de marcha, foi o responsável técnico da comitiva, que também teve a enquadrá-la os treinadores Jorge Miguel, Paulo Murta e José Magalhães. Pedro Branco (médico) e João Martins (fisioterapeuta) integraram a delegação oficia, chefiada pelo sempre sereno e cordial Fernando Boquinhas, dirigente federativo.
João Vieira, o melhor marchador da atualidade, faz-nos o balanço da sua presença nessa Taça do Mundo:
“Para mim, a Corunha é verdadeiramente uma cidade talismã. Sempre que aí competia obtinha bons resultados.”
“Fizemos a viagem de autocarro. Conheço bem a cidade e o circuito da prova. Sempre mantiveram o mesmo traçado. Há mais de 20 anos que a Câmara Municipal da cidade organiza uma das boas competições internacionais e todos os anos aí competem os melhores atletas do mundo. Há realmente uma boa tradição na marcha atlética.”
“Para a Taça do Mundo parti com a ambição de aí realizar um bom resultado na que foi a primeira competição sob a minha própria orientação. Realmente foi excelente, o meu 8.º lugar”, concluiu o recordista nacional de 20 e 50 km marcha.