sábado, 13 de novembro de 2010

Guilherme Jacinto - quando se pode ou deve começar algo?


Guilherme Jacinto, dedicado atleta veterano da Casa do Povo de Corroios, e assíduo participante nas provas de marcha, oferece aos leitores de “O Marchador” o relato de uma vivência de quase um quarto de século nas lides do atletismo.
Foto: Atletismo
Magazine
Como diz o provérbio, nunca é tarde para aprender ou começar alguma coisa. Assim se passou comigo em relação à marcha atlética, pois foi já aos 62 anos, mais ou menos, que se deu o início da minha presença na marcha. Mas vamos a um pequeno historial.

Hoje, a juventude reclama, e com razão, falta de condições, mas na minha juventude era bem pior. Eu, por exemplo, treinei futebol no clube da terra, mas apenas para servir de ginásio, o que era raro na época. Era a minha preparação física, apenas porque futebol em mim não existia, não havia jeito algum. Pratiquei como amador ciclismo, mas treinar durante a semana, ao sábado borga e corrida ao domingo, situações incompatíveis. Os anos passaram, profissionalmente estive sempre bem, fui evoluindo sempre. Surgem casamento e dois filhos. São esses dois pequenos seres que, já com algum peso, são meus colegas na ginástica e me empurram para o atletismo, tinha eu já 40 anos de idade.

Depois de apanhar o bichinho fiquei só, porque os meus amiguinhos abandonaram a corrida. Mas, pronto, fui evoluindo até fazer a «meia» em 1 hora e 13 minutos e a maratona em 2 horas e 48 minutos. Aos 48 anos surge uma operação ao estômago, que fez com que parasse por uns meses. Fui operado em Março mas em Setembro fiz a corrida do «Avante!» (Loures-Odivelas-Loures). Correu bem mas no ano seguinte fiz menos 15 minutos na mesma prova. E muitos bons resultados vieram seguidamente.

Alguns anos mais tarde, por motivos psíquicos (o pior tempo da minha vida), tive que abandonar.

Estamos quase a chegar à marcha.

Quando há muita força e bons amigos consegue-se dar a volta por cima das más situações, e é ao dar essa volta que sinto vontade de voltar. Ao recomeçar a preparação física na pista da Sobreda vou encontrar velhos amigos que me entusiasmam e o que eu julgava que iria ser apenas manutenção passou a ser competição quase contínua. Pisei muitos pódios já com mais de 60 anos e ainda hoje se vai pisando alguns.

E é nesta altura que o meu grande amigo Francisco Rodrigues, ao saber que eu já andava a correr outra vez, me chamou para a Casa do Povo de Corroios. Tu vais correr aqui e vais colaborar com o Mário Rato, pois o Rato e eu já nos conhecíamos há muitos anos. Foi um prazer satisfazer esse pedido do Rodrigues.

Mas, claro, escusado será dizer, qualquer atleta que se aproxime do Mário Rato tem que ver se tem jeito para a marcha, é obrigatório. Convenceu-me, comecei com dedicação e empenho, mas sem deixar a corrida, simultaneamente ia praticando as duas modalidades.

É aos 63 anos que faço a primeira prova de marcha, na linda cidade alentejana de Grândola: 5000 m em 39 minutos, sem faltas. No ano seguinte, no mesmo percurso, faço em 29 minutos. Quem gosta não para – eu ainda cá ando.

Em 2005, europeus de estrada em Vila Real de S. António, medalha de prata nos 10.000 metros, com o tempo de 56.48 m, no dia seguinte fiz a meia-maratona (6.º classificado). No mesmo ano, mundiais de San Sebastian, pela primeira vez 20 km, em duas horas. Na última volta era 3.º, mas perdi dois lugares até à chegada. Mesmo assim fiquei dois lugares à frente do medalha de ouro de M60. Foi nesse ano que passei a ser M65. Já tinha feito os 5000 metros em pista (9.º, 27.45 m), também fiz 10.000 m corrida em pista (7.º, 41 minutos). Foi o meu grande amigo Armando Aldegalega o medalha de prata.

A nível nacional, em provas do Inatel, passei a ser campeão nacional em todas as distâncias em que participei como M65, batendo todos os recordes das mesmas distâncias.

Em 2007, mundiais de Riccione. Estava muito bem, mas uma massagem mal sucedida activou a dor ciática e as coisas correram pior do que julgava. Nos 5000 m, 5.º lugar, com 28 minutos; nos 10.000 m, 6.º, 59.52 m; e nos 20 km, aos treze desisti. Foi a minha primeira desistência, mas a ciática não quis que fosse além.

Ano de 2008: duas vezes operado à coluna. E aqui vamos em frente! Agora M70, já campeão em algumas distâncias e com recordes batidos. Já pensei parar mas, quando a época começa, a vontade de continuar também. No entanto, quando um dia parar, olharei para trás e direi: gostei, foi muito bom e ganhei mais um grande grupo de amigos, a juntar a muitos outros que já cá estavam. Obrigado!

Guilherme Teotónio Jacinto