quinta-feira, 28 de maio de 2020

Evocando Simon Baker (Austrália)

Simon Baker e a vitória nos 50 km da Taça do Mundo de Marcha de L’Hospitalet 1989.
Fotos: Emmanuel Tardi, Multimedia Visini e VRWC
Montagem: O Marchador
Quando as estações de televisão transmitiram a prova de 50 km da Taça do Mundo de 1989, em L’Hospitalet, Espanha, poucas pessoas não se terão surpreendido com a presença de um australiano na liderança. Desde sempre, esta era uma competição por equipas e havia muito tempo que seleções como as da União Soviética, da R.D.A. e do México exerciam domínio, levando os respetivos melhores especialistas a imporem uma competição quase limitada a esses três países.

Mas o que fazia naquele dia esse esguio australiano chamado Simon Baker no comando dos 50 km? A resposta é simples: preparava-se para ganhar.

Essa terá sido a jornada de maior glória do marchador australiano. Poucas vezes até aí se tinha apresentado em grande destaque nas principais competições internacionais, ainda que fosse uma presença já habitual no pelotão.

Treinado por Craig Hilliard, este atleta magro de quase um metro e 90 de altura participou pela primeira vez em provas da Taça do Mundo na edição de 1983, obtendo o 14.º lugar nos 20 km. Nas duas edições seguintes, Douglas-85 e Nova Iorque-87, alcançou sucessivamente os 12.º e 11.º lugares. Pelo meio tinham ficado novo 14.º lugar nos 20 km dos Jogos de Los Angeles, em 1984, e a primeira vitória internacional relevante, a registada nos 20 km dos Jogos da Comunidade Britânica de 1986, em Edimburgo. Em 1988 estreia-se internacionalmente nos 50 km, obtendo o 6.º lugar nos Jogos de Seul, poucos dias depois de ter sido 11.º nos 20 km, com um recorde pessoal de 1:21:47.

Estava aberto o caminho para uma participação especial na Taça do Mundo de L’Hospitalet. E ela ocorreu mesmo. Ainda na primeira metade da prova longa, Simon Baker destacou-se dos favoritos, entre os quais estavam praticamente todos os soviéticos, liderados por Andrei Perlov e Viacheslav Vezhel.

A surpresa não terá sido pequena e talvez tenha justificado a liberdade concedida ao australiano. Só que saiu cara a facilidade que lhe foi concedida e nunca mais ninguém o apanhou. Perlov bem se esforçou mas de nada valeu o empenho, porque a determinação de Baker era decisiva. E a motivação era ainda maior depois de ter conseguido isolar. Terminou com 3:43:13, então recorde nacional da Austrália e que hoje, passados 31 anos, apenas dois dos seus compatriotas fizeram melhor: Nathan Deakes, com 3:35:47 (1986) e Jared Tallent, com 3:36:53 (2012).

O auge da carreira estava atingido. A partir desse momento tudo se tornava mais difícil. Improvavelmente voltaria a dispor das mesmas facilidades de que desfrutou naquela manhã calorenta catalã de 28 de maio de 1989, perfazem hoje 31 anos. Em 1990 mais não conseguiu do que ser 7.º nos Jogos da Comunidade Britânica, melhorando um lugar quatro anos depois. Mas outro resultado de grande valia alcançaria dois anos mais tarde. Em 1991, nos 50 km da Taça do Mundo de San Jose, nos Estados Unidos, voltaria ao pódio com um excelente 2.º lugar, atrás do mexicano Carlos Mercenario. De regresso à Catalunha registou um dececionante 19.º lugar nos Jogos Olímpicos de 1992.

Mas não se pense que estes resultados, mesmo assim, estão ao alcance de qualquer um. Só com forte caráter e grande talento técnico se consegue o que Simon Baker alcançou durante a carreira competitiva que desenvolveu. E de par com essa atividade ainda se empenhou na criação da Comissão Australiana de Atletas, que dinamizou como mais ninguém.

Nascido no dia 6 de fevereiro de 1958, em Melbourne (Victoria), Simon Baker é o único marchador australiano, no setor masculino, que representou o seu país em quatro edições dos Jogos Olímpicos: 1984-1988-1992-1996.