Jerzy Hausleber. Foto: Hidalgo Sport |
A ele se ficam a
dever os desenvolvimentos registados na marcha atlética do México, país que
durante a década de 70 do século passado, sob a sua batuta, se tornou uma das
grandes potências mundiais da especialidade, ao mesmo nível da União Soviética
e da RDA, mas também da Itália e da Grã-Bretanha. Em consequência do trabalho
realizado por Hausleber e pela sua equipa, os grandes sucessos internacionais dos
marchadores mexicanos começaram a surgir, primeiro com a medalha de prata de
José Pedraza nos 20 km marcha dos Jogos Olímpicos de 1968, depois com os
espantosos desempenhos de diferentes atletas nas taças do mundo e nas
competições do continente americano, até aos pontos máximos das vitórias
olímpicas de Daniel Bautista nos 20 km dos Jogos de 1976 (Montreal) e de
Ernesto Canto (20 km) e Raúl González (50 km) nos Jogos Olímpicos de 1984 (Los
Angeles).
Considerando apenas
as grandes competições mundiais (Jogos Olímpicos, campeonatos do mundo de
atletismo e taças do mundo de marcha), os atletas orientados por Jerzy
Hausleber conquistaram nada menos que 36 medalhas individuais entre 1968 e
2000, das quais 17 foram de ouro. José Pedraza, Daniel Bautista, Ernesto Canto,
Raúl González, Carlos Mercenario, Bernardo Segura, Joel Sánchez e Noé Hernández
foram os marchadores mexicanos medalhados em Jogos Olímpicos. Mas muitos outros
obtiveram importantes classificações em momentos de menor expressão mediática
mas de igual valor desportivo, como foram os casos de Enrique Vera, Domingo
Colín, Pedro Aroche, Martín Bermúdez, Graciela Mendoza, Alberto Cruz, Germán
Sánchez e Miguel Rodríguez.
Na memória fica
também o episódio ocorrido em 1985, quando, poucos dias antes da realização da
Taça do Mundo de Marcha, em St. John's, na Ilha de Man, a Cidade do México foi
sacudida por um violento tremor de terra que derrubou numerosos edifícios e
causou elevado número de vítimas. A equipa de marchadores decidiu então abdicar
de participar na competição internacional para a qual estivera a preparar-se.
Jerzy Hausleber reuniu os filhos e os atletas e todos se juntaram aos trabalhos
de socorro, constituindo uma improvisada brigada de ajuda aos sinistrados.
Nascido na Polónia em
1 de Agosto de 1930, Jerzy Hausleber instalou-se no México em Maio de 1966, a
fim de levar por diante um projecto de preparação dos marchadores mexicanos
para os Jogos Olímpicos de 1968, que iriam ter lugar na capital daquele país.
Apesar de o contrato que o atraiu a terras aztecas ser por período limitado,
nunca mais abandonou aquele país, onde o trabalho levado a cabo o transformou
numa das figuras de maior relevo na história mundial da modalidade.
Entretanto vencedor
do Prémio Nacional de Desporto do México em 1995 e 2011, Jerzy Hausleber foi
agraciado em 1993 com a Águia Azteca, a mais alta condecoração do Senado
mexicano para cidadãos estrangeiros (apesar de ser cidadão nacional havia quase
uma década). Com o seu nome e em sua honra foram baptizados o auditório da
Escola Nacional de Treinadores Desportivos e a pista do Centro Nacional de
Desenvolvimento de Talentos Desportivos e Alto Rendimento.
Bastante debilitado
pela idade, Hausleber sofreu em Agosto de 2013 uma embolia cerebral em
consequência de queda, a que se seguiu um enfarte do miocárdio. Nos últimos
dias encontrava-se internado numa unidade hospitalar da Cidade do México, como
já acontecera várias vezes desde o Verão passado.
De Jerzy Hausleber
fica essa herança de um dos contributos mais decisivos e inovadores para o
desenvolvimento da marcha a nível mundial. E fica também a memória de toda uma
geração de marchadores para quem a sua obra foi marcante, transformando-o numa
lenda viva, agora desaparecida.
Como disse em 29 de
Julho de 2011 o presidente da Federação Mexicana de Associações de Atletismo,
Antonio Lozano, durante uma homenagem ao grande treinador de marcha, «há poucas
pessoas no mundo com tão grande impacte sobre a experiência desportiva de um
país, transformando-a praticamente sozinho numa potência mundial de determinada
modalidade. É esse o grande legado que um dia Jerzy Hausleber deixará ao
México, um país que em 1966 pouco ou nada contava no concerto internacional do
desporto e que poucos anos depois era reconhecido como pátria dos melhores
especialistas mundiais da marcha atlética».