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Quase se
poderia dizer que, em Portugal, a Primavera de 1938 se prolongou até 1939, pelo
menos no que à marcha atlética diz respeito. Para além da competição organizada
pelo diário «O Século» entre Vila Franca de Xira e Lisboa, realizada a 29 de
Janeiro de 1939 e que pretendia constituir-se como repetição da prova de 18 de
Dezembro no Alto do Pina, em Lisboa, houve ainda, neste início de novo ano, uma
outra competição. Teve lugar em Faro e realizara-se no dia 15 de Janeiro, por
iniciativa do Boavista Futebol Clube Farense, com o patrocínio, ainda, de «O
Século».
Também aqui
a prova foi anunciada como novidade, desta vez como a primeira da modalidade no
Algarve. Pelos relatos publicados, percebe-se que a organização teve alguns
dissabores iniciais, mas a prova terá acabado por «dar brado», tendo-se
inscrito 70 marchadores.
Entre todos
pontificava uma das figuras que se tinham já notabilizado nas provas de marcha
realizadas em vários pontos do país nos meses precedentes: Alberto Sousa, agora
a representar o Sport Lisboa e Benfica, depois de nas primeiras competições ter
alinhado com as camisolas do Raio Lisboa Club, do Sport União Fontessantense e
do Grémio do Alto do Pina. Tratou-se de uma inscrição que, nas palavras do
jornal «Os Sports» de 23 de Janeiro, «muito veio valorizar a prova».
Da competição
dizia-se ter a extensão de 16 quilómetros, a que correspondia um percurso a
envolver o Jardim Manuel Bivar, Meia Légua, São Luiz e de novo Jardim Manuel
Bivar. Além do Benfica e do Boavista Farense, outros clubes da região (e não
só) tinham apresentado atletas: o C.A. Pontense, o C.F. «Os Bonjoanenses», os
Bombeiros Municipais de Faro, o Montenegro, o C.F. São Luiz, o Louletano de
Desportos Clube e os Bombeiros Voluntários de Sul e Sueste (Barreiro).
Como era de
esperar, Alberto Sousa saiu vencedor, com 1.02.05 h, à frente de João Rodrigues
(Bombeiros Municipais de Faro, 1.02.50) e de Domingos dos Santos (Montenegro,
sem tempo divulgado). A revista «Stadium» adianta que à partida terão
comparecido apenas pouco mais de 40 dos 70 inscritos, mas o trissemanário «Os
Sports» informa que foi de 48 o número de concorrentes que concluíram a prova,
«notando-se ainda 14 desistências e 8 desclassificações». Se estes últimos
números estiverem correctos, então justifica-se a ideia dos 70 inscritos.
Para mais, a
presença de atletas de Lisboa e do Barreiro (além dos de Faro e de Loulé) veio
fazer desta prova a competição de marcha que, neste ciclo iniciado na Primavera
de 38, teve mais atletas vindos de longe, facto que adquire maior relevo quando
se tem em conta que, na época, o sistema de circulação e de transportes não
tinha o desenvolvimento e as condições actuais.
O que por
certo não estará correcto é a medição do percurso, já que o tempo do vencedor
evidencia ter-se tratado de distância menor. Mesmo a ritmos dos tempos actuais,
seria difícil aos melhores marchadores do mundo cumprir 16 quilómetros no tempo
creditado a Alberto Sousa.
Desta forma
estava quase concluído o ciclo de provas que durante meses animou o panorama da
marcha em Portugal. Ainda se anunciava uma prova para Coimbra nos finais de
1939, por iniciativa do Vitória da Arregaça, mas já pouco sobrava da dinâmica
organizativa revelada ao longo de 1938 por alguns jornais e por alguns clubes.
Faltará agora conhecer a forma como «O Século» respondeu a iniciativa de «Os
Sports» e ao sucesso registado por este ao reunir mais de 400 atletas na prova
de 10 de Abril de 1938, em Lisboa.