quarta-feira, 26 de março de 2014

Marcha em Portugal na Primavera de 1938 (XII)

Início da breve notícia publicada por «Os Sports»
Quase se poderia dizer que, em Portugal, a Primavera de 1938 se prolongou até 1939, pelo menos no que à marcha atlética diz respeito. Para além da competição organizada pelo diário «O Século» entre Vila Franca de Xira e Lisboa, realizada a 29 de Janeiro de 1939 e que pretendia constituir-se como repetição da prova de 18 de Dezembro no Alto do Pina, em Lisboa, houve ainda, neste início de novo ano, uma outra competição. Teve lugar em Faro e realizara-se no dia 15 de Janeiro, por iniciativa do Boavista Futebol Clube Farense, com o patrocínio, ainda, de «O Século».

Também aqui a prova foi anunciada como novidade, desta vez como a primeira da modalidade no Algarve. Pelos relatos publicados, percebe-se que a organização teve alguns dissabores iniciais, mas a prova terá acabado por «dar brado», tendo-se inscrito 70 marchadores.

Entre todos pontificava uma das figuras que se tinham já notabilizado nas provas de marcha realizadas em vários pontos do país nos meses precedentes: Alberto Sousa, agora a representar o Sport Lisboa e Benfica, depois de nas primeiras competições ter alinhado com as camisolas do Raio Lisboa Club, do Sport União Fontessantense e do Grémio do Alto do Pina. Tratou-se de uma inscrição que, nas palavras do jornal «Os Sports» de 23 de Janeiro, «muito veio valorizar a prova».

Da competição dizia-se ter a extensão de 16 quilómetros, a que correspondia um percurso a envolver o Jardim Manuel Bivar, Meia Légua, São Luiz e de novo Jardim Manuel Bivar. Além do Benfica e do Boavista Farense, outros clubes da região (e não só) tinham apresentado atletas: o C.A. Pontense, o C.F. «Os Bonjoanenses», os Bombeiros Municipais de Faro, o Montenegro, o C.F. São Luiz, o Louletano de Desportos Clube e os Bombeiros Voluntários de Sul e Sueste (Barreiro).

Como era de esperar, Alberto Sousa saiu vencedor, com 1.02.05 h, à frente de João Rodrigues (Bombeiros Municipais de Faro, 1.02.50) e de Domingos dos Santos (Montenegro, sem tempo divulgado). A revista «Stadium» adianta que à partida terão comparecido apenas pouco mais de 40 dos 70 inscritos, mas o trissemanário «Os Sports» informa que foi de 48 o número de concorrentes que concluíram a prova, «notando-se ainda 14 desistências e 8 desclassificações». Se estes últimos números estiverem correctos, então justifica-se a ideia dos 70 inscritos.

Para mais, a presença de atletas de Lisboa e do Barreiro (além dos de Faro e de Loulé) veio fazer desta prova a competição de marcha que, neste ciclo iniciado na Primavera de 38, teve mais atletas vindos de longe, facto que adquire maior relevo quando se tem em conta que, na época, o sistema de circulação e de transportes não tinha o desenvolvimento e as condições actuais.

O que por certo não estará correcto é a medição do percurso, já que o tempo do vencedor evidencia ter-se tratado de distância menor. Mesmo a ritmos dos tempos actuais, seria difícil aos melhores marchadores do mundo cumprir 16 quilómetros no tempo creditado a Alberto Sousa.

Desta forma estava quase concluído o ciclo de provas que durante meses animou o panorama da marcha em Portugal. Ainda se anunciava uma prova para Coimbra nos finais de 1939, por iniciativa do Vitória da Arregaça, mas já pouco sobrava da dinâmica organizativa revelada ao longo de 1938 por alguns jornais e por alguns clubes. Faltará agora conhecer a forma como «O Século» respondeu a iniciativa de «Os Sports» e ao sucesso registado por este ao reunir mais de 400 atletas na prova de 10 de Abril de 1938, em Lisboa.