No próximo dia 21, Olhão vai ser a capital mundial da marcha, apesar de a competição que acolhe ser de âmbito continental. A 9.ª Taça da Europa de Marcha Atlética oferecerá aos adeptos da especialidade a oportunidade para assistir a grandes momentos desportivos, tanto pela presença em prova de muitos dos melhores especialistas mundiais da modalidade como pela esperada competição que vai estabelecer-se nos planos individual e colectivo (apesar de em cada prova serem atribuídos apenas títulos por equipas). O blogue «O Marchador» apresenta de seguida uma antevisão do que pode esperar-se de cada uma das cinco provas que compõem o programa.
50 km
A prova da mais longa distância olímpica do atletismo é uma incógnita nesta Taça da Europa. Em abstracto pode afirmar-se sem grande risco que a formação russa reúne quase todo o favoritismo colectivo (e porque não o individual?). Só que esse comentário tem mesmo de ser feito em abstracto, uma vez que os marchadores russos ainda não se mostraram nesta distância em 2011. Entre os atletas europeus, as melhores marcas foram as registadas no encontro internacional de Dudince e nos Campeonatos de Espanha. Na prova eslovaca, o atleta «da casa» Matej Tóth averbou a melhor marca europeia do ano em estrada (3.39.46) para vencer a competição. Só que, desde a vitória na Taça do Mundo de 2010, Matej Tóth deixou de ser encarado como mais outro qualquer, pelo que em Olhão deverá ter os russos à perna desde o primeiro metro de prova. E também teria os polacos se estes trouxessem os quatro atletas que, igualmente em Dudince, averbaram entre 3.46.05 e 3.46.56 h! O problema é que apenas um deles vem ao Algarve competir nos 50 km... Por certo estarão mais preocupados com os mundiais de Daegu, no final do próximo Verão.
Quanto aos portugueses, o equilíbrio de valores do quarteto pode ser uma vantagem que resulte nalguma surpresa agradável. A prova deverá ser oportunidade para os primeiros resultados portugueses do ano abaixo das quatro horas.
20 km femininos
Ana Cabecinha, Inês Henriques, Susana Feitor e Vera Santos: esta é a equipa mais habilitada a enfrentar o colosso russo nesta Taça da Europa de Marcha Atlética. É também a formação que mais expectativa suscita entre os portugueses, em vista a uma jornada de glória para as cores nacionais. Pode até dizer-se que esta equipa, vencedora da Taça do Mundo de 2010, no México, dificilmente encontra paralelo na história do desporto português, consideradas todas as modalidades, tal o nível a que ascenderam as suas componentes e o equilíbrio entre elas.
A selecção feminina de Portugal é clara candidata ao pódio colectivo (podendo até chegar ao ouro), sem esquecer o pódio individual. Mas a Taça da Europa é uma competição colectiva e a estratégia da selecção nacional deverá ser a de apostar no trabalho de equipa, pensando no colectivo (e sem correr riscos demasiados que possam ocasionar desclassificações). Por outro lado, será uma prova que decidirá (em definitivo ou quase) quem serão as atletas para Daegu. Neste aparente conflito de interesses pode haver o lado positivo. Ou não...
Da Rússia surge um quarteto que se inscreve nos sete primeiros lugares da lista mundial do ano, incluindo à cabeça Vera Sokolova e Anisya Kirdyapkina, que a 26 de Fevereiro, durante os campeonatos daquele país, disputados em Sóchi, superaram o recorde mundial de outra russa, Olimpiada Ivanova, respectivamente com 1.25.08 h e 1.25.09 h. Aliás, a jovem Sokolova é uma atleta habituada a triunfos em taças da Europa, depois das vitórias nas provas de juniores nas últimas duas edições.
Individualmente, está tudo em aberto, dada a ausência da que seria a incontestável favorita, a russa Olga Kaniskina. Mas também não comparecerá em Olhão a mais destacada espanhola dos tempos recentes, Beatriz Pascual. Ainda assim, de Espanha vem uma poderosa formação composta pelas experientes María Vasco e María José Poves e ainda pelas mais jovens Julia Takacs e Lorena Luaces.
20 km masculinos
Voltam a ser russos os melhores europeus do ano, cinco ao cimo da tabela, sendo que quatro deles constituem a selecção da Rússia presente em Olhão. Só uma grande surpresa lhes roubará o título colectivo. E mesmo individualmente não deverá haver rivais à altura. Esta será uma prova para ver onde poderá chegar a formação italiana, herdeira de uma tradição de grandes sucessos ao mais alto nível, apresentando nesta prova da taça da Europa um conjunto de atletas entre os 21 e os 26 anos: Daniele Paris, Federico Tontodonati, Giorgio Rubino e Matteo Giupponi.
Tal como noutras ocasiões, João Vieira é a esperança portuguesa para uma surpresazinha. Uma espécie de «outsider» de grande nível mas que de tão discreto nunca foi apontado por ninguém como favorito em provas internacionais.
10 km juniores femininos
A prova das meninas mais jovens será, porventura, aquela em que menos se espera incómodos ao seleccionado russo, que apresenta «apenas» as três melhores mundiais deste ano. O favoritismo individual vai para as destacadíssimas Svetlana Vasilyeva e Elena Lashmanova, atletas de 18 anos creditadas, respectivamente, com 42.43 m e 43.41 m (marcas de 2011). Olga Dubrovina, ainda com 17 anos, fecha a equipa, apresentando um recorde pessoal de 47.34 m. Pelo meio interpõem-se, com marcas de 2010, a italiana campeã olímpica da juventude Anna Clemente (recorde pessoal de 46.42) e a irlandesa Kate Veale (46.43), atletas de inegável valia mas certamente incapazes de pôr em causa a superioridade de Vasilyeva e Lashmanova.
Portugal faz-se representar por apenas uma concorrente, Sandra Monteiro, à procura de superar o recorde pessoal de 51.57,1 m. Se o conseguir será muito bom. Se baixar os 50 minutos será fabuloso. De resto, está livre de compromissos colectivos, o que a deixa à vontade para pensar a prova a título exclusivamente pessoal.
10 km juniores masculinos
Quem não tiver tempo para acompanhar todo o programa e precisar de optar por uma única prova, talvez valha a pena dar atenção à competição dos juniores masculinos. Esta prova poderá constituir uma reedição do duelo travado há menos de um ano entre o ucraniano Ihor Lyashchenko e o russo Pavel Parshin, durante os Jogos Olímpicos da Juventude, em Singapura. Dessa vez, o ucraniano levou a melhor, numa época em que à sua altura esteve ainda outro compatriota: Ihor Puzanov. Em Olhão, a selecção ucraniana nesta prova incluirá Oleksandr Verbytskyi, o melhor júnior do país em 2011. Quanto à Rússia, terá a equipa composta ainda por Dementiy Cheparev, o segundo melhor mundial deste ano, e esse novo fenómeno da marcha russa chamado Damir Baybikov, um juvenil este ano creditado com 42.36 m.
Com menos ilusões colectivas apresentam-se alguns outros concorrentes que poderão baralhar as contas dos eslavos: o alemão Hagen Pohle (este ano, 42.13 em Podebrady), o italiano Massimo Stano (42.21 no ano passado, também em Podebrady) e o espanhol Luís Alberto Amezcua (42.06,71 nos mundiais de juniores de 2010). Pena é que esta seja uma das provas nas quais a Bielorrússia não se faz representar, apesar de ter nada menos que três dos quatro melhores juniores europeus do ano nos 10 km em estrada (o «pior» deles com 42.52).
No tocante a Portugal, bom será que a dupla constituída por Bruno Pedro e Samuel Pereira termine e, assim, classifique a equipa. Estarão 12 países com equipas classificáveis, mas nem todas têm atletas de maior valia que a dos portugueses. Se estes estiverem ao melhor nível pessoal, mais não será preciso para um resultado muito positivo.
Em resumo, a Rússia apresenta-se capaz de dominar estes campeonatos em todas as vertentes, esperando-se para ver quem poderá beliscar o seu domínio. Beliscaduras que, de resto, até têm existido. Veja-se como, atendo-nos às classificações colectivas das últimas três edições, Portugal venceu os 20 km femininos em Miskolc-2005, a Bielorrússia fez o mesmo nas provas de 20 km em Leamington-2007 e a Itália se impôs nos 20 km masculinos e nos 10 km juniores femininos em Metz-2009.
Entre a certeza do valor russo e as surpresas que terão sempre de acontecer se vai gerir a primeira grande competição internacional de marcha realizada no nosso país. Sempre na esperança da concretização de potenciais façanhas dos atletas portugueses.
50 km
A prova da mais longa distância olímpica do atletismo é uma incógnita nesta Taça da Europa. Em abstracto pode afirmar-se sem grande risco que a formação russa reúne quase todo o favoritismo colectivo (e porque não o individual?). Só que esse comentário tem mesmo de ser feito em abstracto, uma vez que os marchadores russos ainda não se mostraram nesta distância em 2011. Entre os atletas europeus, as melhores marcas foram as registadas no encontro internacional de Dudince e nos Campeonatos de Espanha. Na prova eslovaca, o atleta «da casa» Matej Tóth averbou a melhor marca europeia do ano em estrada (3.39.46) para vencer a competição. Só que, desde a vitória na Taça do Mundo de 2010, Matej Tóth deixou de ser encarado como mais outro qualquer, pelo que em Olhão deverá ter os russos à perna desde o primeiro metro de prova. E também teria os polacos se estes trouxessem os quatro atletas que, igualmente em Dudince, averbaram entre 3.46.05 e 3.46.56 h! O problema é que apenas um deles vem ao Algarve competir nos 50 km... Por certo estarão mais preocupados com os mundiais de Daegu, no final do próximo Verão.
Quanto aos portugueses, o equilíbrio de valores do quarteto pode ser uma vantagem que resulte nalguma surpresa agradável. A prova deverá ser oportunidade para os primeiros resultados portugueses do ano abaixo das quatro horas.
20 km femininos
Ana Cabecinha, Inês Henriques, Susana Feitor e Vera Santos: esta é a equipa mais habilitada a enfrentar o colosso russo nesta Taça da Europa de Marcha Atlética. É também a formação que mais expectativa suscita entre os portugueses, em vista a uma jornada de glória para as cores nacionais. Pode até dizer-se que esta equipa, vencedora da Taça do Mundo de 2010, no México, dificilmente encontra paralelo na história do desporto português, consideradas todas as modalidades, tal o nível a que ascenderam as suas componentes e o equilíbrio entre elas.
A selecção feminina de Portugal é clara candidata ao pódio colectivo (podendo até chegar ao ouro), sem esquecer o pódio individual. Mas a Taça da Europa é uma competição colectiva e a estratégia da selecção nacional deverá ser a de apostar no trabalho de equipa, pensando no colectivo (e sem correr riscos demasiados que possam ocasionar desclassificações). Por outro lado, será uma prova que decidirá (em definitivo ou quase) quem serão as atletas para Daegu. Neste aparente conflito de interesses pode haver o lado positivo. Ou não...
Da Rússia surge um quarteto que se inscreve nos sete primeiros lugares da lista mundial do ano, incluindo à cabeça Vera Sokolova e Anisya Kirdyapkina, que a 26 de Fevereiro, durante os campeonatos daquele país, disputados em Sóchi, superaram o recorde mundial de outra russa, Olimpiada Ivanova, respectivamente com 1.25.08 h e 1.25.09 h. Aliás, a jovem Sokolova é uma atleta habituada a triunfos em taças da Europa, depois das vitórias nas provas de juniores nas últimas duas edições.
Individualmente, está tudo em aberto, dada a ausência da que seria a incontestável favorita, a russa Olga Kaniskina. Mas também não comparecerá em Olhão a mais destacada espanhola dos tempos recentes, Beatriz Pascual. Ainda assim, de Espanha vem uma poderosa formação composta pelas experientes María Vasco e María José Poves e ainda pelas mais jovens Julia Takacs e Lorena Luaces.
20 km masculinos
Voltam a ser russos os melhores europeus do ano, cinco ao cimo da tabela, sendo que quatro deles constituem a selecção da Rússia presente em Olhão. Só uma grande surpresa lhes roubará o título colectivo. E mesmo individualmente não deverá haver rivais à altura. Esta será uma prova para ver onde poderá chegar a formação italiana, herdeira de uma tradição de grandes sucessos ao mais alto nível, apresentando nesta prova da taça da Europa um conjunto de atletas entre os 21 e os 26 anos: Daniele Paris, Federico Tontodonati, Giorgio Rubino e Matteo Giupponi.
Tal como noutras ocasiões, João Vieira é a esperança portuguesa para uma surpresazinha. Uma espécie de «outsider» de grande nível mas que de tão discreto nunca foi apontado por ninguém como favorito em provas internacionais.
10 km juniores femininos
A prova das meninas mais jovens será, porventura, aquela em que menos se espera incómodos ao seleccionado russo, que apresenta «apenas» as três melhores mundiais deste ano. O favoritismo individual vai para as destacadíssimas Svetlana Vasilyeva e Elena Lashmanova, atletas de 18 anos creditadas, respectivamente, com 42.43 m e 43.41 m (marcas de 2011). Olga Dubrovina, ainda com 17 anos, fecha a equipa, apresentando um recorde pessoal de 47.34 m. Pelo meio interpõem-se, com marcas de 2010, a italiana campeã olímpica da juventude Anna Clemente (recorde pessoal de 46.42) e a irlandesa Kate Veale (46.43), atletas de inegável valia mas certamente incapazes de pôr em causa a superioridade de Vasilyeva e Lashmanova.
Portugal faz-se representar por apenas uma concorrente, Sandra Monteiro, à procura de superar o recorde pessoal de 51.57,1 m. Se o conseguir será muito bom. Se baixar os 50 minutos será fabuloso. De resto, está livre de compromissos colectivos, o que a deixa à vontade para pensar a prova a título exclusivamente pessoal.
10 km juniores masculinos
Quem não tiver tempo para acompanhar todo o programa e precisar de optar por uma única prova, talvez valha a pena dar atenção à competição dos juniores masculinos. Esta prova poderá constituir uma reedição do duelo travado há menos de um ano entre o ucraniano Ihor Lyashchenko e o russo Pavel Parshin, durante os Jogos Olímpicos da Juventude, em Singapura. Dessa vez, o ucraniano levou a melhor, numa época em que à sua altura esteve ainda outro compatriota: Ihor Puzanov. Em Olhão, a selecção ucraniana nesta prova incluirá Oleksandr Verbytskyi, o melhor júnior do país em 2011. Quanto à Rússia, terá a equipa composta ainda por Dementiy Cheparev, o segundo melhor mundial deste ano, e esse novo fenómeno da marcha russa chamado Damir Baybikov, um juvenil este ano creditado com 42.36 m.
Com menos ilusões colectivas apresentam-se alguns outros concorrentes que poderão baralhar as contas dos eslavos: o alemão Hagen Pohle (este ano, 42.13 em Podebrady), o italiano Massimo Stano (42.21 no ano passado, também em Podebrady) e o espanhol Luís Alberto Amezcua (42.06,71 nos mundiais de juniores de 2010). Pena é que esta seja uma das provas nas quais a Bielorrússia não se faz representar, apesar de ter nada menos que três dos quatro melhores juniores europeus do ano nos 10 km em estrada (o «pior» deles com 42.52).
No tocante a Portugal, bom será que a dupla constituída por Bruno Pedro e Samuel Pereira termine e, assim, classifique a equipa. Estarão 12 países com equipas classificáveis, mas nem todas têm atletas de maior valia que a dos portugueses. Se estes estiverem ao melhor nível pessoal, mais não será preciso para um resultado muito positivo.
Em resumo, a Rússia apresenta-se capaz de dominar estes campeonatos em todas as vertentes, esperando-se para ver quem poderá beliscar o seu domínio. Beliscaduras que, de resto, até têm existido. Veja-se como, atendo-nos às classificações colectivas das últimas três edições, Portugal venceu os 20 km femininos em Miskolc-2005, a Bielorrússia fez o mesmo nas provas de 20 km em Leamington-2007 e a Itália se impôs nos 20 km masculinos e nos 10 km juniores femininos em Metz-2009.
Entre a certeza do valor russo e as surpresas que terão sempre de acontecer se vai gerir a primeira grande competição internacional de marcha realizada no nosso país. Sempre na esperança da concretização de potenciais façanhas dos atletas portugueses.