Golubnichiy nos Jogos Olímpicos de Roma 1960 (20 km) e na atualidade junto à estátua erigida em sua honra. Fotos: Day.Kyiv e Flaso.Sumy. Montagem: O Marchador |
Hoje, lembramos a figura de um grande marchador, Vladimir Stepanovich Golubnichiy, precisamente no dia em que se completam 60 anos sobre o seu título olímpico conquistado na prova dos 20 km marcha dos Jogos Olímpicos de 1960, realizados no Estádio Olímpico de Roma.
Golubnichiy nasceu em Sumy, na Ucrânia, a 2 de junho de 1936, brilhando nos grandes eventos internacionais, então em representação da União Soviética. Foi um dos poucos marchadores no mundo a participar em cinco Jogos Olímpicos, sempre na prova dos 20 km marcha.
Foi, realmente, um atleta inspirador para uma geração de jovens marchadores, que teve uma longa e brilhante carreira no atletismo. Em 1955, com apenas 19 anos de idade, estabeleceu, em Kiev, o recorde do mundo na distância (1:30:02.8), que voltaria a bater em 1959 (Moscovo, 1:27:04), mas será sempre lembrado pelos seus dois títulos olímpicos, o primeiro, nos Jogos de Roma, sob um calor escaldante e que viria a refletir-se nos tempos alcançados, e o segundo, nos Jogos da Cidade do México, em 1968. Entre estes dois, nos Jogos de Tóquio, em 1964, conquistou a medalha de bronze.
A sua carreira, recheada de medalhas, não ficou por aí. Na sua quarta participação olímpica, em Munique, no ano de 1972, é vice-campeão olímpico, terminando o ciclo nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, já com 40 anos de idade, na 7.ª posição. Nos Campeonatos Europeus, fez a tripla: medalha de bronze em Belgrado (1962), prata em Budapeste (1966) e ouro em Roma (1974).
A sua carreira na marcha atlética iniciou-se quase por acaso. Aos 13 anos de idade quando um seu companheiro de escola, que iria participar no campeonato escolar, adoeceu, sendo persuadido a substitui-lo. Ganhou a prova, e a partir daí foi vencendo os mais credenciados marchadores da época.
A escola de marcha da União Soviética daqueles tempos produzia excelentes marchadores e eram vários que ficavam de fora das seleções, por falta de vagas. Em 1968, nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, fica-nos na retina aquela foto icónica da chegada dos primeiros marchadores da prova dos 20 km, que contaremos.
Golubnichiy e Nicolay Smaga, eram companheiros de quarto e de treino, e assumidos candidatos às medalhas, o primeiro ao ouro, e o segundo à prata, e assim controlaram a prova até aos derradeiros dois quilómetros finais. E foi nessa condição que os dois soviéticos entraram na pista. Então, eis que entra o campeão mexicano Jose Pedraza ultrapassando, a 200 metros da meta, Smaga, perante a autêntica loucura dos mais de 60.000 espetatores que assistiam às provas na bancada e que, aos gritos ensurdecedores, chamavam pelo seu nome.
O mexicano, que era militar de carreira, conhecido como José Sargento Pedraza, após ultrapassar Smaga, fixa os olhos em Golubnichiy que, virando o rosto para trás, o vê aproximar-se perigosamente. Mas já não havia tempo, e este ganha a medalha de ouro por escassos três metros. A marcha de Pedraza, no entanto, estaria bem no limite da legalidade, recebendo três advertências, mas só um juiz muito corajoso, perante o cenário descrito, ousaria desclassificá-lo.
Considerado uma lenda do desporto em Sumy, onde há um museu em que estão expostos as suas medalhas e troféus, e na Ucrânia, Vladimir Golubnichiy foi um dos primeiros 24 atletas a ver o seu nome inscrito no IAAF Hall of Fama, no ano da sua criação, em 2012, ano do centenário da agora chamada World Athletics, em reconhecimento dos grandes feitos conquistados internacionalmente.