Máté Helebrand festeja o excelente desempenho nos mundiais
de Londres. Foto: Federação Húngara de Atletismo
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Os marchadores húngaros parece quererem voltar a trazer o seu país para a ribalta mundial da marcha atlética. Longe vão os tempos do notável sucesso alcançado há mais de cem anos por György Sztantics, vencedor dos 3000 m marcha dos Jogos Olímpicos Intercalares de 1906, em Atenas. Depois brilharam Antal Róka (medalha de bronze nos 50 km dos Jogos Olímpicos Helsínquia-1952 e nos europeus de Berna-1954), Antal Kiss (3.º nos 20 km na Taça do Mundo de Varese-1963, 2.º nos 20 km da Taça do Mundo de Pescara-1965 e 2.º nos 50 km dos Jogos do México-1968) e Istvan Havasi (vencedor dos 50 km na Taça do Mundo de Varese-1963).
Mais recentes foram os êxitos de Sandor Urbanik (3.º nos 5000 m marcha dos europeus de pista coberta de Budapeste-1988 e 5.º nos 20 km dos europeus de 1998, também em Budapeste) e daquela que veio a ser a sua mulher, Maria Rosza Urbanikné (2.ª nos 10 km da Taça da Europa de Dudince-1998). Aliás, Sandor Urbanik chegou mesmo a deter todos os recordes nacionais da Hungria de marcha atlética desde as distâncias curtas em pista coberta até aos 50 km.
Só que no último par de anos, Viktória Madarász e Máté Helebrand têm demonstrado uma qualidade de resultados que resgatam a memória da grande marcha húngara de outros tempos. Sobre Madarász falaremos num dos próximos dias, tratemos hoje do desempenho londrino de Máté Helebrandt.
Atleta de 28 anos nascido em Nyíregyháza, Máté Helebrandt apresentava-se a estes campeonatos do mundo de atletismo para tomar parte na prova dos 50 km marcha, ostentando um currículo em que avultavam os quartos lugares nas provas de 20 km marcha dos europeus de Ostrava de sub-23 (2011) e das Universíadas de Guangju (2015). Há um ano, nos Jogos do Rio de Janeiro tinha sido 28.º também na distância olímpica mais curta. Vinha ainda creditado com um recorde pessoal de 3.53.54 h nos 50 km, marca que não fazia dele favorito para os melhores lugares.
E foi assim que o magiar partiu para a longa caminhada na manhã londrina de domingo passado. Enquanto lá na frente Yohann Diniz se instalava no comando sem que ninguém conseguisse dar-lhe luta, Helebrand andava pelos lugares do meio da classificação a ver no que tudo iria dar. Com 10 quilómetros seguia na 21.ª posição e tinha já 45.32 m, parcial que não prenunciava grande resultado, ainda que apontasse a um recorde pessoal por margem considerável. No entanto, como os 50 km nunca tinham sido uma distância a que Helebrand se tivesse dedicado com afinco no passado, era normal que houvesse margem considerável para progressão.
Mas a verdade é que as voltas ao circuito iam sendo cumpridas, os quilómetros iam-se escoando e o marchador húngaro ia também subindo na classificação e no ritmo de prova. De tal maneira que a meio da competição (25 quilómetros) era já 14.º classificado, com 1.52.33 h. Começava a perspectivar-se o ataque sério já não apenas à melhor marca pessoal mas também, sobretudo, ao recorde nacional que o histórico Sandor Urbanik estabelecera em 2001, no Grande Prémio de Dudince, e estava cifrado em 3.48.41 h. A meio da prova, o recorde nacional estava para ser batido por uns bons três minutos, assim Helebrand conseguisse uma segunda metade de prova sem fraquezas de maior.
E, de facto, a segunda parte da prova foi ainda melhor que a primeira. «A meio da prova sentia-me muito bem», declarou à imprensa húngara após a prova. «Quando vi o campeão do mundo de 2013 [Robert Heffernan], senti uma motivação muito grande. Sabia que os últimos 10-15 quilómetros seriam muito difíceis, mas tive grande apoio dos meus pais, da minha namorada e dos amigos que vieram em grande número da Hungria e me incentivaram até ao fim.»
Os tais amigos e familiares que vieram da Hungria bem podem dar por bem empregue o esforço da viagem, dado que, de facto, Máté Helebrand foi crescendo ao longo da prova e demonstrou na segunda metade ser um verdadeiro marchador de fundo. Aos 30 quilómetros era 12.º, com 2.14.41 h. Aos 40, 11.º, com 2.58.48 h. Subiria mais quatro lugares nos cinco quilómetros seguintes, para passar aos 45 com 3.21.22 h, no sétimo lugar. Por fim, cortaria a meta no sexto posto (terceiro europeu), com um recorde pessoal batido por quase dez minutos (faltaram dois segundos) e o recorde nacional superado por margem maior do que se imaginava aos 25 quilómetros: quatro minutos e 45 segundos! O novo melhor registo húngaro nos 50 km marcha passa então a estar estabelecido em 3.43.56 h.
«A meio da prova receava ter imposto um ritmo demasiado elevado, por isso achei melhor não correr riscos. Quando acabei, achei que, afinal, podia ter sido mais corajoso», declarou ao jornal «Nemzeti Sport».
Máté Helebrandt pode ter feito em Londres uma verificação de passagem para determinar a distância que vai privilegiar a caminho dos Jogos de Tóquio de 2020, como disse à imprensa. Pode ter feito também o seu teste em relação às distâncias com vista aos mundiais de selecções de 2018, verificando-se estar mais dotado para a distância longa. Mas uma coisa ninguém lhe tira: o excelente desempenho neste mundial de 50 km, catapultando-o para o lote dos atletas a seguir com atenção nos tempos mais próximos. Se confirmar o que conseguiu em Londres, poderá mesmo vir a firmar-se como o melhor marchador húngaro de sempre.