A campeã Klavdiya Afanasyeva, ao centro, ladeada por María
Pérez (esq.) e Živile Vaiciukeviciute. Foto: streaming AEA
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Favorita à partida e vencedora à chegada, a russa Klavdiya Afanasyeva venceu este domingo, em Bydgoszcz, o europeu de sub-23 de 20 km marcha femininos, durante os campeonatos continentais de atletismo do escalão que tiveram lugar naquela cidade polaca. A marchadora, que alinhou nestes campeonatos na qualidade de atleta neutra autorizada (portanto, sem representação do seu país de origem, a Rússia, que se encontra impedido de participar nas grandes competições internacionais de atletismo), terminou a prova com 1.31.15 h, superiorizando-se na fase decisiva à espanhola María Pérez (1.31.29). O pódio foi completado pela lituana Živile Vaiciukeviciute, que com 1.32.21 h garantiu a medalha de bronze.
Edna Barros foi a melhor portuguesa, ao alcançar a 10.ª posição (1.37.55), enquanto Mara Ribeiro (1.40.47) foi 14.ª e Mariana Mota (1.45.59) terminou no 18.º lugar.
À partida, havia alguma expectativa quanto à capacidade de desempenho da vice-campeã europeia de sub-23 de há dois anos (Tallinn-2015), a checa Anežka Drahotová, cotada com um dos melhores recordes pessoais de toda a Europa nos 20 km marcha (seniores incluídas), mas de quem nos últimos tempos não têm chegado notícias de feitos comparáveis aos registados entre 2013 e 2015. E quem apreciasse a fase inicial desta prova em Bydgoszcz até poderia iludir-se com a presença da checa na liderança no primeiro quilómetro. Mas logo se percebeu que da parte de Anežka Drahotová não haveria nenhum daqueles arranques bombásticos que algumas vezes protagonizou, nem sempre com o melhor sucesso.
Assim, o primeiro quilómetro revelou a formação de um grupo de liderança com dez a doze unidades e onde se notava a ausência da atleta creditada com a melhor marca do ano entre as presentes, Klavdiya Afanasyeva, posicionada atrás de um segundo grupo. Em compensação, no pelotão da frente estavam todas as três espanholas (María Pérez, Laura García-Caro e Lidia Sánchéz-Puebla) e as três italianas (Eleonora Dominici, Nicole Colombi e Diana Cacciotti), a bielorrussa Viktoryia Rashchupkina, a lituana Živile Vaiciukeviciute, a alemã Emilia Lehmeyer, a húngara Rita Récsei e a já referida Drahotová.
Só no segundo quilómetro Afanasyeva decidiu abandonar o grupo onde se encontravam as portuguesas Edna Barros e Mara Ribeiro, para se juntar ao grupo da frente, o que viria a suceder.
Até ao final da primeira légua seriam Sánchez-Puebla, Rashchupkina, Lehmeyer e ocasionalmente María Pérez a assumir as despesas da marcação do ritmo, enquanto as italianas e Afanasyeva se defendiam no fim do grupo.
A passagem das primeiras aos cinco quilómetros em 23.08 m, lideradas por Pérez, não prenunciava uma marca final de grande quilate. O calor que se acentuou ao final da manhã não ajudava as atletas em prova, pelo que não se estranhará que os resultados absolutos tenham sido de nível abaixo do esperado, ao contrário do sucedido duas horas antes com os marchadores masculinos, que competiram em horário mais fresco.
Na transição da primeira légua para a segunda, María Pérez tratou de forçar o andamento na frente, baixando nada menos que dez segundos na média por quilómetro, com o reflexo imediato do atraso das transalpinas. O grupo da frente alongava-se numa espécie de fila indiana, para logo começar a fracturar-se.
Pérez ficava sozinha na liderança da prova, seguida de Rashchupkina numa posição intermédia e aumentando a olhos vistos a vantagem sobre as demais ex-companheiras de pelotão.
A caminho de meio da prova, Klavdiya Afanasyeva começou a tomar as rédeas do grupo perseguidor, impondo um ritmo que resultou na fragmentação do quarteto (com a lituana e as duas restantes espanholas) e a aproximação a Viktoryia Rashchupkina. A bielorrussa entraria em fase de cedência, vendo-se ultrapassada por Laura García-Caro e Afanasyeva.
Aos 10 quilómetros, María Pérez mantinha o primeiro lugar, com 45.37 m (22.29 na segunda légua), detendo uma vantagem de 30 metros para García-Caro e Afanasyeva.
A terceira légua traria a desclassificação de García-Caro pouco depois dos 12 quilómetros, deixando Klavdiya Afanasyeva e Lidia Sánchez-Puebla a menos de dez metros de María Pérez e numa altura em que a lituana Živile Vaiciukeviciute também já tinha passado a bielorrussa Rashchupkina.
María Pérez vendeu caro aqueles dez metros, que levaram mais de um quilómetro a serem «vencidos» pelas perseguidoras e mesmo assim só seria alcançada pela russa perto dos 14 quilómetros, acabando Sánchez-Puebla também desclassificada pouco depois dos 15 quilómetros. Começavam assim a definir-se as posições finais, com a questão do pódio resolvida no início do 17.º quilómetro, momento em que Klavdiya Afanasyeva atacou e se isolou definitivamente na frente.
O desgaste da espanhola durante várias voltas na frente acabou por incapacitá-la para responder à colega russa, que se protegera na fase inicial e agora, no momento decisivo, se apresentava mais forte do que María Pérez, que teve mesmo de parar para vomitar, recompondo-se de imediato. Os quase cem metros assim perdidos tornavam quase impossível a recuperação do primeiro lugar por Pérez, apesar de, ainda assim, ter logrado aproximar-se um pouco até final.
Entre as portuguesas, o destaque vai Edna Barros, que, com personalidade e determinação, assumiu logo de início a melhor posição entre as três marchadoras da seleção nacional. Durante mais de metade da prova manteve um andamento entre 4.45 e 4.55 m por quilómetro, mas as voltas finais ao circuito de mil metros foram feitas acima dos cinco minutos cada.
Ainda assim, a marchadora algarvia conseguiu não ficar longe do recorde pessoal (mais 32 segundos) e estar na luta com a húngara Rita Récsei, que nas primeiras voltas tinha estado entre as da frente.
Um pouco abaixo do esperado ficou Mara Ribeiro, que, na 14.ª posição, acabou por não baixar da hora e quarenta, terminando com 1.40.47 h, a mais de cinco minutos da melhor marca pessoal da época (e recorde pessoal). Em todo o caso, ficou muito próxima do lugar (13.º) que se lhe perspectivava em função das marcas com que as inscritas estavam creditadas em 2017.
Mais discreta, Mariana Mota andou sempre pelo último quinto da classificação. Acabou quatro lugares acima do que prefaciavam as marcas de inscrição, apesar de ter ficado a mais de três minutos da melhor marca da época.
Classificação
20 km marcha femininos
1.ª, Klavdiya Afanasyeva (ANA), 1.31.15
2.ª, María Pérez (Espanha), 1.31.29
3.ª, Živile Vaiciukeviciute (Lituânia), 1.32.21
4.ª, Viktoryia Rashchupkina (Bielorrússia), 1.33.16
5.ª, Eleonora Dominici (Itália), 1.33.32
6.ª, Emilia Lehmeyer (Alemanha), 1.34.24
7.ª, Anežka Drahotová (Rep. Checa), 1.34.51
8.ª, Diana Cacciotti (Itália), 1.35.49
9.ª, Rita Récsei (Hungria), 1.37.20
10.ª, Edna Barros (Portugal), 1.37.55
11.ª, Olga Niedzialek (Polónia), 1.39.03
12.ª, Mariya Filyuk (Ucrânia), 1.39.35
13.ª, Monika Vaiciukeviciute (Lituânia), 1.40.07
14.ª, Mara Ribeiro (Portugal), 1.40.47
15.ª, Saskia Feige (Alemanha), 1.41.12
16.ª, Tamara Havrylyuk (Ucrânia), 1.42.56
17.ª, Mihaela Acatrinei (Roménia), 1.43.13
18.ª, Mariana Mota (Portugal), 1.45.59
19.ª, Monika Hornáková (Eslováquia), 1.48.12
20.ª, Danica Gogov (Eslovénia), 1.49.02
21.ª, Ivana Reinic (Croácia), 1.49.46
22.ª, Lucia Cubanová (Eslováquia), 1.52.26
23.ª, Jale Basak (Turquia), 1.54.20
Desclassificadas: Nicole Colombi (Itália), Laura García-Caro (Espanha), Mihaela Puscasu (Roménia) e Lidia Sánchéz-Puebla (Espanha).