Sábado passado, quando a equatoriana Glenda Morejón terminou em Nairobi, no Quénia, a prova feminina de 5000 m marcha dos mundiais de sub-18 chegava também ao fim o ciclo de atribuições de títulos de campeões mundiais de marcha a atletas daquele escalão. Por decisão da Associação Internacional de Federações de Atletismo (AIFA), os também chamados mundiais de jovens deixam de realizar-se, dando lugar a campeonatos continentais.
A vitória de Morejón aconteceu dois dias antes de passarem 18 anos sobre a primeira prova de marcha no historial destes campeonatos, um aniversário que hoje se cumpre. Foi na manhã de 18 de Julho de 1999 que, em Bydgoszcz, na Polónia, teve lugar a competição masculina de 10 mil metros marcha dos I Campeonatos Mundiais de Atletismo para Jovens, no Estádio Zdzislaw Krzyszkowiak. O vencedor foi o russo Evgeniy Demkov, com 42.26,07 m, seguido do compatriota Aleksandr Strokov (42.36,52), na primeira das «dobradinhas» russas na marcha dos mundiais de jovens.
Horas depois, na jornada da tarde, a Rússia esteve à beira de repetir a dose, com Tatyana Kozlova a impor-se a toda a concorrência nos 5000 metros marcha femininos, com 22.31,93 m. Com Ekaterina Dergounova no terceiro lugar, com 22.54,59, a festa russa foi estragada pela «vizinha» bielorrusa Maryna Tsikhanava, que, com 22.37,54 m, se interpôs no segundo lugar do pódio, arrebatando a medalha de prata.
A Rússia voltaria a posicionar os dois representantes por prova nos dois primeiros lugares nas provas masculinas de Marráquexe-2005 (Sergey Morozov, 42.26,92; Vladimir Akhmetov, 42.32,81) e nas femininas de Marráquexe-2005 (Tatyana Kalmykova, 22.14,47; Elmira Alembekova, 22.27,17) e Ostrava-2007 (Tatyana Kalmykova, 20.28,05; Irina Yumanova, 21.21,14). Portanto, os campeonatos de 2005 renderam aos marchadores russas uma «dupla dobradinha», sendo que nenhum outro país conseguiu ocupar os dois lugares mais altos do pódio em qualquer prova de marcha dos mundiais deste escalão.
No conjunto das vinte provas de marcha levadas a cabo nas dez edições dos campeonatos, 13 foram ganhas por atletas russos, que conquistaram outras 13 medalhas (não contando com Elvira Khasanova, que no passado sábado foi terceira nos mundiais de Nairobi, mas na condição de «atleta neutra autorizada» (portanto, sem representar a sua Rússia natal).
Nas sete provas não ganhas por russos, três foram vencidas por marchadores chineses, havendo ainda uma vitória para cada um dos seguintes países: Alemanha, Irlanda, Japão e Equador. Ascende, assim, a seis o número de países que conquistaram medalhas de ouro nas provas de marcha dos mundiais de jovens, a que podem ainda juntar-se Bielorrússia, Colômbia, Turquia, México, Itália, Grécia, Ucrânia, Espanha, Etiópia e Quénia como nações sem campeões mas que obtiveram medalhas de prata ou bronze.
O mesmo é dizer que, ao longo de 18 anos e dez edições, os campeonatos mundiais de atletismo de sub-18 foram um contributo para a demonstração da universalidade da marcha atlética, com atletas medalhados provenientes de cinco continentes: Europa, Ásia, América do Norte, América do Sul e África.
Por curiosidade, assinale-se que o japonês Takayuki Tanii foi o primeiro marchador não europeu a conquistar uma medalha nos mundiais de sub-18, quando, na edição inaugural de Bydgoszcz-1999, foi terceiro classificado nos 10 mil metros marcha masculinos.
Pelos mundiais de jovens passaram de forma mais ou menos discreta alguns atletas que mais tarde vieram a afirmar-se no panorama internacional ao mais alto nível. Exemplos: o mexicano Horacio Nava, o eslovaco Matej Tóth e a espanhola Beatriz Pascual em Bydgoszcz-1999; o australiano Jared Tallent, o japonês Yuki Yamazaki, a lituana Brigita Virbalyté e a portuguesa Ana Cabecinha em Debrecen-2001; o espanhol Miguel Ángel López em Marráquexe-2005; o russo Denis Strelkov e a italiana Antonella Palmisano em Ostrava-2007; o australiano Dane Bird-Smith em Bressanone-2009; ou ainda a checa Anežka Drahotová em Lille-2011.