quinta-feira, 1 de junho de 2017

Marcha atlética ausente do escalão de Iniciados do Olímpico Jovem

Criado em 1983 com a designação de Torneio Nacional DN Jovem, uma iniciativa da Federação Portuguesa de Atletismo, que teve a parceria do “Diário de Notícias”, o Torneio Nacional Olímpico Jovem, é um momento alto do calendário da FPA em cada época, com natural relevo para os escalões de iniciados e juvenis.

Infelizmente, para a disciplina da marcha atlética, a partir de 2001 e sempre em anos ímpares, o escalão de iniciados não tem sido contemplado com provas de marcha (e o mesmo acontece atualmente para o escalão de juvenis nos anos pares), numa medida altamente penalizadora para o setor que vê assim negada a possibilidade de recrutamento de valores nas escolas e clubes do país. Discriminatória, não protege o atletismo total frustrando, na prática, a expetativa do surgimento de jovens talentos.

Talentos que o Torneio Nacional Olímpico Jovem deu a descobrir no passado catapultando-os para a projeção internacional. Este ano, a marcha atlética apenas é contemplada no escalão de Juvenis, que vão ter ainda os seus campeonatos nacionais neste mês de junho. A FPA considera que dos participantes na fase final do Olímpico Jovem sairão os campeões do futuro.

No que à especialidade da marcha atlética diz respeito, foi precisamente na prova de Iniciados que se destacaram algumas das figuras de maior relevo no atletismo nacional. Susana Feitor, vencedora em 1989 e 1990, sagrou-se campeã mundial de juniores em 1990 e foi medalha de bronze nos mundiais de Helsínquia em 2005. Sofia Avoila, que ganhou em 1991, foi campeã europeia de juniores em 1995. Inês Henriques, vitoriosa em 1994 e 1995, estabeleceu este ano a melhor marca de todos os tempos na prova dos 50 km marcha. Vera Santos, que venceu a edição de 1996, foi medalha de prata na Taça do Mundo de 2010, medalha de bronze na edição de 2008 e quarta nos mundiais de 2009. Ana Cabecinha, que ganhou em 1999, foi medalha de bronze nos europeus de juniores de 2005, classificou-se em 8.º lugar nos Jogos Olímpicos de 2008, 2012 e 2016, foi quarta nos mundiais de 2015 e conquistou a medalha de prata na recente Taça da Europa de Marcha em Podebrady.

Ainda no escalão de iniciados, Santarém é o distrito do país que alcançou o maior número de vitórias, no total de 12 (9 femininos e 3 masculinos), seguida do Algarve (6 títulos), Porto (5), Setúbal (5), Leiria (3), Viana do Castelo (1) e Madeira (1).

Não se compreende que não se ponha termo a esta injustiça e, por essa via, não se proporcione aos marchadores as mesmas oportunidades de competir no Torneio Olímpico Jovem que aos colegas das restantes disciplinas da modalidade.

E de nada serve dizer que há outras especialidades sujeitas à mesma alternância de escalões. É que nas demais disciplinas sempre pode haver a possibilidade de não participar numa prova mas participar noutra do mesmo «grupo disciplinar», solução impossível na marcha, dado que quando se retira do programa uma prova desta disciplina, nenhuma outra fica que possa servir de alternativa – há apenas uma prova de marcha por escalão e por sexo no programa deste torneio.

Nos últimos anos têm sido vários os apelos às estruturas diretiva e técnica da FPA no sentido de se corrigir esta anormalidade sem que, até ao momento, uma justificação sequer tenha sido fornecida. E não há dúvida que a situação é nefasta para o desenvolvimento da especialidade em Portugal. Requintadamente nefasta.

A Final Nacional do Torneio Olímpico Jovem deste ano vai ter lugar na cidade de Braga, nos dias 3 e 4 deste mês, competição destinada a 20 Seleções Distritais e Regionais, com as provas de marcha, de 5.000 metros (escalão de juvenis) a realizarem-se neste sábado, pelas 18:30 horas, com a introdução do sistema de “Pit Lane”.  Os recordes do Torneio estão na posse de Ricardo Vendeira (Setúbal), com 21.17,05 (1998), e de Ana Cabecinha (Algarve), com 24.59,62 (2001). Coletivamente, na edição de 2016, a Seleção de Lisboa venceu pelo terceiro ano consecutivo, seguida de Setúbal, Porto, Santarém e Leiria.