Criado em 1983 com a designação de Torneio
Nacional DN Jovem, uma iniciativa da Federação Portuguesa de Atletismo, que
teve a parceria do “Diário de Notícias”, o Torneio Nacional Olímpico Jovem,
é um momento alto do calendário da FPA em cada época, com natural relevo para
os escalões de iniciados e juvenis.
Infelizmente, para a disciplina da marcha atlética, a partir de 2001 e
sempre em anos ímpares, o escalão de iniciados não tem sido contemplado com
provas de marcha (e o mesmo acontece atualmente para o escalão de juvenis nos
anos pares), numa medida altamente penalizadora para o setor que vê assim
negada a possibilidade de recrutamento de valores nas escolas e clubes do país.
Discriminatória, não protege o atletismo total frustrando, na prática, a
expetativa do surgimento de jovens talentos.
Talentos que o Torneio Nacional Olímpico Jovem deu a descobrir no
passado catapultando-os para a projeção internacional. Este ano, a marcha
atlética apenas é contemplada no escalão de Juvenis, que vão ter ainda os seus
campeonatos nacionais neste mês de junho. A FPA considera que dos participantes
na fase final do Olímpico Jovem sairão os campeões do futuro.
No que à especialidade da marcha atlética diz respeito, foi precisamente
na prova de Iniciados que se destacaram algumas das figuras de maior relevo no
atletismo nacional. Susana
Feitor, vencedora em 1989 e 1990, sagrou-se campeã mundial de juniores em
1990 e foi medalha de bronze nos mundiais de Helsínquia em 2005. Sofia Avoila, que ganhou em
1991, foi campeã europeia de juniores em 1995. Inês Henriques, vitoriosa em
1994 e 1995, estabeleceu este ano a melhor marca de todos os tempos na prova
dos 50 km marcha. Vera Santos,
que venceu a edição de 1996, foi medalha de prata na Taça do Mundo de 2010,
medalha de bronze na edição de 2008 e quarta nos mundiais de 2009. Ana Cabecinha, que ganhou em
1999, foi medalha de bronze nos europeus de juniores de 2005, classificou-se em
8.º lugar nos Jogos Olímpicos de 2008, 2012 e 2016, foi quarta nos mundiais de
2015 e conquistou a medalha de prata na recente Taça da Europa de Marcha em
Podebrady.
Ainda no escalão de iniciados, Santarém é o distrito do país que
alcançou o maior número de vitórias, no total de 12 (9 femininos e 3
masculinos), seguida do Algarve (6 títulos), Porto (5), Setúbal (5), Leiria
(3), Viana do Castelo (1) e Madeira (1).
Não se compreende que não se ponha termo a esta injustiça e, por essa
via, não se proporcione aos marchadores as mesmas oportunidades de competir no
Torneio Olímpico Jovem que aos colegas das restantes disciplinas da modalidade.
E de nada serve dizer que há outras especialidades sujeitas à mesma
alternância de escalões. É que nas demais disciplinas sempre pode haver a
possibilidade de não participar numa prova mas participar noutra do mesmo
«grupo disciplinar», solução impossível na marcha, dado que quando se retira do
programa uma prova desta disciplina, nenhuma outra fica que possa servir de
alternativa – há apenas uma prova de marcha por escalão e por sexo no programa
deste torneio.
Nos últimos anos têm sido vários os apelos às estruturas diretiva e
técnica da FPA no sentido de se corrigir esta anormalidade sem que, até ao
momento, uma justificação sequer tenha sido fornecida. E não há dúvida que a
situação é nefasta para o desenvolvimento da especialidade em Portugal.
Requintadamente nefasta.
A Final Nacional do Torneio Olímpico Jovem deste ano vai ter lugar na
cidade de Braga, nos dias 3 e 4 deste mês, competição destinada a 20 Seleções
Distritais e Regionais, com as provas de marcha, de 5.000 metros (escalão de
juvenis) a realizarem-se neste sábado, pelas 18:30 horas, com a introdução do
sistema de “Pit Lane”. Os recordes do Torneio estão na posse de Ricardo
Vendeira (Setúbal), com 21.17,05 (1998), e de Ana Cabecinha (Algarve), com
24.59,62 (2001). Coletivamente, na edição de 2016, a Seleção de Lisboa venceu
pelo terceiro ano consecutivo, seguida de Setúbal, Porto, Santarém e Leiria.