segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Frank McGuire, 1912-2012

Frank McGuire, ao centro de calção preto, numa prova
disputada em 1949. Foto: autor não identificado
Figura histórica da marcha atlética da Austrália, com cem anos de idade completados em Março passado, morreu esta sexta-feira Frank McGuire, o decano dos marchadores australianos.
 
Nascido a 29 de Março de 1912 na cidade de Richmond, junto a Melbourne, Frank McGuire ficou órfão de pai aos sete anos, pelo que a infância e juventude foram para ele de grandes dificuldades, agravadas pela grande depressão de 1929.
 
Seria ainda na escola que se iniciaria na actividade desportiva, enveredando pela marcha atlética aos 19 anos, em 1931, ano em que se sagrou campeão júnior (então um escalão de sub-21) do estado de Vitória na distância de cinco milhas (8045 metros).
 
No entanto, a II Guerra Mundial viria interromper-lhe a carreira, sendo mobilizado para a frente de combate, mas, ironicamente, impedido de participar em marchas, por ter pés chatos e com dedos sobrepostos, ele que era já nessa época um experiente marchador de longas distâncias.
 
Tinha 42 anos quando, em 1954, cumpriu a sua última prova de 50 km nos campeonatos da Austrália, liderando a equipa do seu estado (Vitória), para pouco tempo depois se orientar para as funções de treinador e de juiz de marcha.
 
Na primeira dessas qualidades começou por trabalhar como treinador do Victorian Amateur Walking Club, onde se notabilizou pela utilização pioneira da filmagem em câmara lenta para análise técnica da marcha. Tal facto levou a que fosse convidado para filmar as provas de atletismo de estrada dos Jogos Olímpicos de 1956, em Melbourne, integrando a equipa de Guy Buther, fotógrafo oficial da Federação Internacional de Atletismo Amador (FIAA). Três anos depois seria nomeado treinador nacional de marcha da Austrália, ao mesmo tempo que era admitido no corpo de juízes internacionais da disciplina da FIAA.
 
Como juiz, teve o ponto alto da carreira com a actuação nos Jogos Olímpicos de 1960, em Roma, ficando igualmente para a história a sua defesa (não adoptada, como se pode imaginar) da utilização de meios tecnológicos para auxílio no ajuizamento, nomeadamente através de filmagens.
 
Sendo também um eminente treinador de halterofilismo, criou e explorou durante anos um ginásio onde orientou numerosos desportista de craveira internacional. Em 1965, a Federação Australiana de Atletismo retitou-lhe o estatuto de amador em consequência do envolvimento profissional nesse projecto, medida que, a contragosto, o seu clube teve de tomar também no ano seguinte, levando-o a demitir-se do cargo técnico que detinha.
 
Em todo o caso, o desporto continuou a ser o centro da vida de Frank McGuire, como treinador, dirigente, juiz, atleta e autor de manuais de treino, vindo a receber em 2000 a Medalha do Desporto da Austrália pela superior contribuição para o desenvolvimento desportivo.
 
Só em 2007, com 95 anos, Frank McGuire deixou de orientar as sessões matinais de treino de marcha que aos sábados se realizavam na pista de atletismo de Mentone, nos arredores de Melbourne.
 
Como disse Tim Erickson na nota publicada sobre a morte de McGuire (e na qual se baseou este texto), «Frank ficará como uma das lendas da marcha australiana. E não era apenas a nossa mais antiga ligação ao passado. O seu contributo para o nosso desporto foi múltiplo e variado e a sua visão inovadora ajudou a garantir que o nosso desporto pudesse florescer e prosperar no novo século».