Foto: blogue «O Marchador» |
Antigo atleta e treinador de atletismo do Sport Lisboa e Benfica, Francisco Assis recordou esta terça-feira, 5 de dezembro, os momentos fundamentais da sua intervenção no processo de reimplantação da marcha atlética em Portugal, numa entrevista concedida à equipa do blogue «O Marchador». Centrando-se nos anos de 1975 e seguintes, Assis evocou episódios marcantes da história da marcha daquela época, desde a defesa da integração da disciplina nos torneios e campeonatos organizados pela Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) e pelas associações regionais até à realização de estágios e à própria criação de campeonatos regionais e nacionais específicos de marcha atlética. Essas vieram a ser conquistas decisivas para a implantação definitiva da marcha no calendário desportivo nacional, apesar da resistência institucional protagonizada por dirigentes que se mostravam pouco receptivos às pretensões dos marchadores.
Valorizando o papel dos agentes de promoção da disciplina (sobretudo, atletas e respetivos treinadores), o antigo técnico lembrou o sarcasmo com que outros treinadores e dirigentes se referiam aos marchadores, dando o exemplo dos episódios em que, saindo com os seus atletas do Estádio da Luz para mais um treino, havia quem se referisse aos marchadores como «andarilhos»: «Lá vai o Assis com os andarilhos», lembra-se de ter ouvido algumas vezes.
Evocando pessoas que mais tarde vieram a ter grandes responsabilidades técnicas e de direcção na FPA, notou a resistência que foram oferecendo de início à integração plena da marcha no conjunto do atletismo nacional e que mais tarde teve de evoluir para aceitação, à medida que os sucessos organizativos e desportivos foram marcando o caminho dos agentes da marcha.
Francisco Assis lembrou ter sido sobretudo um treinador de formação, ou seja, orientando atletas muito jovens, dos escalões etários mais baixos e aos quais procurava oferecer oportunidade de experimentar as diferentes especialidades do atletismo. Com essa visão pretendia que a prática do atletismo contribuísse para a formação integral do atleta, razão pela qual considerava fundamental que os jovens praticantes experimentassem todas as disciplinas da modalidade, sem excepções.
Fez ainda questão de lembrar o pólo de desenvolvimento da marcha que por esses tempos surgiu em Viseu e os marchadores que mais se evidenciaram na zona de Lisboa e por si orientados, como os irmãos Dias e José Pinto, que viria em 1982 a ser o primeiro português a obter mínimos para uma grande competição internacional absoluta de atletismo (Campeonatos Europeus de Atenas) e em 1984 a ser o primeiro marchador olímpico português (Jogos de Los Angeles).
Com uma memória clara dos tempos evocados, Francisco Assis deixou registado um importante exercício de memória sobre a marcha atlética portuguesa, os seus protagonistas originais, os acontecimentos e as instituições que se relacionaram com a marcha atlética num período determinante para a evolução desta disciplina do atletismo em Portugal.