O surgimento das primeiras raparigas dedicadas à prática da marcha atlética, participando regularmente em treinos e depois entrando em competições, foi um dos aspectos a registar no ano de 1976 no que se refere ao processo de implantação da especialidade em Portugal. Maria Evelina Fernando (iniciada) e a colega Isaura Tavares (infantil), ambas representando a Comissão Dinamizadora de Desportos de Santa Iria da Azóia, podem ser consideradas as primeiras especialistas portuguesas na marcha, apesar de ainda deverem ser consideradas em idade de formação.
Em 1976 e no ano seguinte foram presença regular nas numerosas provas que a disciplina foi conhecendo, sobretudo na zona da capital. É certo que outras jovens apareciam a experimentar a marcha atlética participando em provas, como sucedeu, entre outras, com Ana Maria e Isabel Fernandes, mas tratava-se de participações esporádicas, que não deram origem a qualquer continuidade ou verdadeira especialização na marcha.
Evelina Fernando e Isaura Tavares participaram em 25 de Julho num programa de provas realizado no Estádio Nacional, naquela que foi a primeira competição de cariz formal organizada em pista. No sector feminino, as atletas cumpriram uma prova de 1200 metros, enquanto para os masculinos estava reserva competição sobre 5000 metros.
No entanto, numa apreciação que vá para além das referências às pessoas, o dado mais saliente de 1976 foi a quantidade de provas levadas a cabo na região de Lisboa. As listas de resultados referem-se a provas realizadas em Belém, Alto de São João, Queluz, Póvoa de Santa Iria, Santa Iria da Azóia, Magoito, Vila Franca de Xira, Alhandra, Castanheira do Ribatejo, Oeiras, Estádio Nacional e Estádio da Luz, alguns destes locais com mais do que uma prova em poucas semanas. A estas competições juntaram-se vários torneios dos bairros organizados pelo Sport Lisboa e Benfica na sua antiga pista, além de outras competições ainda relativamente perto da capital mas já fora do distrito, como as de Santarém e Almeirim. Mais afastado, existe a referência à primeira edição do Grande Prémio da Urgeiriça, um dos torneios de marcha com maior longevidade na história da marcha em Portugal e que só perdeu continuidade nos anos 90, com o encerramento das minas onde trabalhavam atletas e dirigentes do clube organizador da prova: a Casa do Pessoal de Empresa Nacional de Urânio. A principal prova do evento teria como vencedor o já conhecido Carlos Albano, da Urgeirica.
Tanta dinâmica resultou da acção coordenadora de uma nova entidade criada na Associação de Atletismo de Lisboa, congregando alguns dos agentes mais empenhados na marcha, sob a coordenação de Aires Denis: a Comissão Regional de Marcha, que antecedeu a criação de entidade afim na Federação Portuguesa de Atletismo. Ao mesmo tempo, também o Benfica criou a sua comissão de marcha, composta pelos jovens marchadores do clube (os irmãos José e Luís Dias e José Pinto), empenhados na promoção da disciplina.
Por outro lado, registavam-se as primeiras presenças de atletas estrangeiros em provas de marcha em Portugal, para além das presenças originais de Raymond Ysmal nas primeiras manifestações da marcha do ano anterior, mais no papel de organizador do que no de atleta. Em Queluz, numa competição levada a efeito em 15 de fevereiro, alinharam o francês Jean Bragard (residente na Póvoa de Santa Iria) e o alemão Herbert Kieger. Para a história ficaram os resultados, de que aqui se salienta os vencedores: nos seniores, Carlos Albano (Minas da Urgeiriça); nos juniores, Carlos Capítulo, que haveria de notabilizar-se como corredor de fundo de enorme qualidade; nos juvenis, Luís Dias (SL Benfica).
Nota final para assinalar as datas em que tiveram lugar os torneios de captação organizados pelo Benfica, em cujos programas já tinham sido incluídas as provas de marcha: 5, 12, 19 e 26 de Setembro e ainda 3 e 10 de Outubro. Os torneios de captação deram depois lugar aos Torneios dos Bairros, cuja edição, a VII, ocorreu em 30 de Outubro.