Carlos Albano a vencer destacado no Fontelo. Foto: José Machado Eduardo. Montagem: O Marchador |
No dia em que passam 49 anos sobre a realização da primeira prova da fase moderna da marcha atlética em Portugal, o blogue O Marchador inicia a publicação de uma série de textos semanais dedicados ao primeiro meio século da história da marcha portuguesa. Serão textos individuais a publicar ao longo das próximas 50 semanas, contando o que de mais importante aconteceu em cada um dos anos entretanto transcorridos no fabuloso percurso de afirmação da última especialidade olímpica a impor-se no atletismo português.
No dia 1 de Dezembro de 1974, o Parque do Fontelo, em Viseu, foi palco da primeira prova de marcha atlética no nosso país após décadas de ausência da especialidade do panorama desportivo português. Depois das provas registadas nas décadas de 10 e início de 20 do século passado e de um ano «extravagante» de competições populares entre a Primavera de 1938 e o Verão de 1939, foi preciso esperar por 1974 para que a marcha atlética ressurgisse no país.
Vivia-se o tempo da extraordinária abertura política, social e cultural proporcionada pela Revolução de 25 de Abril de 1974. As novas circunstâncias deram espaço para que fosse possível pensar o desporto para além dos constrangimentos vindos da ditadura fascista, assim surgindo os primeiros interessados na prática de uma disciplina praticamente desconhecida dos portugueses: a marcha atlética.
Logo no Verão desse ano fundador da democracia portuguesa, um episódio acabou por ser marcante do devir da marcha. Acompanhando em casa a transmissão televisiva de mais uma jornada dos XI Campeonatos da Europa de Atletismo, realizados em Roma, Carlos Albano sentiu o impulso de imitar o gesto técnico dos atletas que participavam na prova dos 20 km marcha desses campeonatos. E, logo ali, na sala, experimentou a técnica da marcha, perante o primo António Fonseca e Costa (renomado treinador de atletismo) e o amigo Rui Mingas (cantor angolano e, mais tarde, deputado, ministro do Desporto de Angola e embaixador em Portugal), que com ele seguiam as imagens da televisão.
Desse impulso surgiu o entusiasmo pela prática da marcha, pouco tempo depois ainda mais estimulado pela notícia de que o tradicional torneio anual de atletismo levado a efeito no Parque do Fontelo, em Viseu, no dia 1 de Dezembro, iria nesse ano incluir no programa uma prova de marcha. Por curiosidade (sinal dos tempos!), tratava-se de um torneio habitualmente organizado pela Mocidade Portuguesa, organização do deposto sistema fascista voltada para práticas desportivas e paramilitares destinadas aos jovens, mas que naquela nova época tinha outros organizadores, impulsionados pelo dinâmico e histórico dirigente viseense José Madeira e enquadrados na nova organização democrática do país (a Mocidade Portuguesa e outras organizações fascistas tinham sido extintas no próprio dia 25 de abril, por decreto-lei da Junta de Salvação Nacional).
A prova de marcha do Fontelo juntou nesse 1.º de Dezembro centenas de participantes, muitos dos quais não conheceriam as normas técnico-regulamentares da marcha atlética, limitando-se a caminhar da mesma maneira que andavam no dia-a-dia mas em ritmo (talvez) mais acelerado.
Carlos Albano ganharia destacado a competição, tornando-se o primeiro vencedor de provas de marcha no ressurgimento da disciplina no país. Representava a Casa do Pessoal da Empresa Nacional de Urânio, o clube do trabalhadores das Minas da Urgeiriça, no concelho de Nelas, em cujos escritórios desenvolvia a atividade profissional.
Quanto a Viseu e ao Parque do Fontelo, ficaram para a história da marcha atlética portuguesa como palco da primeira competição moderna da disciplina no nosso país, abrindo o caminho para um percurso que entra agora no 50.º ano. Foi em 1 de Dezembro de 1974.