Edilaine Maria Vidotto Rech nos 50 km de Hilligdon. Fotos: Mark Easton e «site» CBAt |
A Confederação
Brasileira de Atletismo (CBAt) anunciou ontem, no seu «site» oficial, que a
atleta Edilaine Maria Vidotto Rech, com a marca de 5.31.40,
registada no Festival de Marcha de Hillingdon, a 2 de outubro deste ano e a que
fizemos referência na nossa peça, publicada no dia seguinte, estabeleceu o
recorde do Brasil na distância.
Ao referido «site»,
Anderson Moraes Lemes Rosa, gerente do Departamento Técnico da CBAt, informa
que “só agora pudemos confirmar o recorde, com a confirmação do resultado
pela Associação Britânica de Marcha Atlética, entidade oficial filiada à
Federação Britânica de Atletismo”.
A marchadora
paranaense, nascida a 8 de março de 1976, em Santa Mariana, no Estado do
Paraná, é treinada pelo também marchador Samir César Sabadim, que participou
naquela competição, classificando-se na terceira posição, com o tempo de 4.47.35,
a pouco mais de dois minutos do seu melhor registo (Dudince/2014).
O Marchador - Porquê a escolha pela especialidade da marcha atlética?
Edilaine Rech – A marcha atlética entrou em minha vida como recuperação de
fisioterapia por conta de um acidente na infância. Para o desafio dos 50 km,
chamamos de “Eu me movo de novo”. Foi realmente um grande desafio: superei a
cadeira de rodas. Superei o preconceito. Chegamos aos 50 km. Mulheres podem!
OM - O tempo obtido nos 50 km foi resultado que ambicionava?
ER - O tempo previsto era para ser abaixo de 5 horas. Todos os treinamentos
mostraram que faríamos na casa de 4h45, mas tive problemas com o ciático (por
conta de um atropelamento que sofri de um ciclista). Os últimos 8 quilômetros
de prova precisei encontrar uma forma de superar o enrijecimento dos músculos,
e o endurecimento da perna direita, e não ter problemas com a arbitragem.
Então, decidimos durante a prova, eu e o meu treinador, soltar a velocidade de
forma a completar os 50 km.
OM – Que perspetivas?
ER – Bem, estou com 40 anos! Agora quero conseguir superar mais um ciclo e
ver se suporto a construção para os 50 km nas próximas olimpíadas. Terei 43 lá.
Mas estou muito bem fisiologicamente e a equipe quer que trabalhemos para
chegar nas olimpíadas. Exclusivamente nos 50 km. Confesso que me sinto mais
estruturada emocionalmente para esse trabalho. Me sinto madura e meu corpo tem
suportado o trabalho e o descanso. Mas teremos de fazer uma escolha: somente
treinar!
OM – É difícil conciliar a atividade profissional com os treinos?
ER – Hoje me divido em ser professora, gerir, administrar um instituto
social que presido. E estudo à noite. Tenho tempos muito corridos para os
treinamentos longos dos 50 km. Mas queríamos fazer história. Fizemos! E porque
não pensar nas olimpíadas? Lutamos tanto por isso, não!? Quantos tentam
desmotivar a marcha atlética! Precisamos construir e motivar as mulheres para
crescermos e termos quórum para termos a prova já em Tóquio.
Edilaine, na primeira pessoa, a agradecer ao seu treinador “meu grande
incentivador e preparador para a prova”, nos mais de dois anos de
trabalho, com os últimos nove meses a preparar-se especificamente para a
competição, do desafio que a orientou “Eu me Movo de Novo”, que
constitui um exemplo, para si e para todos aqueles que superaram traumas
físicos e emocionais. Não esqueceu, ainda, de frisar o papel determinante
desempenhado pela atleta norte-americana, Erin Taylor-Talcott, pelo direito à
igualdade, também no desporto.
“Para meu combustível, escolhi o Pedrinho, um bebê (de Sertanópolis)
com uma doença rara. Criamos uma página para captar recursos para seu alimento.
Me movi por uma causa nobre. Em cada quilômetro me lembrava do projeto inicial,
dos meus tempos de cadeiras de rodas, das cicatrizes, das queimaduras...”