O centro em Saransk e um grupo de jovens marchadores. Fotos: Wikimedia Commons e Stanislav Krasilnikov Montagem: O Marchador |
Reportagem de Aleksandra
Vladimirova/Meduza
Síntese e adaptação de Kristina Saltanovic para «O Marchador»
Uma reportagem exclusiva produzida e
publicada recentemente na comunicação social da Rússia pela
«Meduza» online, através da jornalista
moscovita Aleksandra Vladimirova, deu-nos a conhecer um pouco da vida actual do
Centro de Preparação Olímpica de Saransk, na Mordóvia, depois do conhecido escândalo
de doping, com declarações de alguns dos marchadores da antiga glória da marcha
atlética russa.
Depois de várias tentativas de contacto,
foi possível à jornalista Vladimirova chegar à fala com a actual directora do
centro, Vera Nacharkina. Contudo, esta só aceitou prestar declarações depois de
algumas perguntas mais inconvenientes e assuntos menos confortáveis, entre as
quais um relacionado com o carro de luxo de Chyogin, um Porsche Panamera que
está estacionado à porta do centro.
Nacharkina lá se resolveu a falar
abertamente, exprimindo-se de forma entusiástica e elogiosa em relação a Chyogin,
como este salvou a pobre cidade de Saransk de um estatuto provincial e criou
uma geração de grandes campeões, sem que alguma vez tenha mencionado o tema da dopagem
e dos atletas do centro nele envolvidos. Queixou-se das dificuldades que o
centro atravessa, transformando parte dele em hotel, com aluguer de quartos em
regime de pensão completa. Os atletas dopados e que já cumpriram pena estão actualmente
a frequentar o centro, entre eles, Olga Kaniskina, marchadora multimedalhada
internacionalmente e apanhada com anomalias no passaporte biológico. Kaniskina continua
a trabalhar no centro desempenhando funções de vice-diretora, com direito a
mesa reservada no restaurante interno.
Após Nacharkina elogiar o antigo
treinador e fundador do centro, outros atletas concordaram em falar com a
jornalista, como foi o caso de Vladimir Kanaykin (suspenso por 8 anos) que referiu
considerar Chyogin como um segundo pai.
Depois, começaram a aparecer declarações
bem mais interessantes a criticar a grandeza do treinador que arruinou o
atletismo na Rússia, em particular as entrevistas de Rasskazov e de Shchennikov.
Roman Rasskazov, campeão do mundo em
2001, criticou Chyogin referindo que este não fez um trabalho limpo
principalmente com os jovens atletas, na sua maioria oriunda da província e muito
vulnerável. Para além da vontade de se tornarem grandes atletas, ambicionavam
ganhar dinheiro e um estatuto que a vida normal que tinham não lhes permitia,
daí que não tinham capacidade de se oporem aos actos ilegais praticados no
centro. Conta um episódio mais recente e demonstrativo que Chyogin não tinha
paciência em trabalhar devagar e dando o necessário tempo à evolução, pois
queria fazer campeões à pressa e dos melhores. Exemplo disso foi uma atleta de
21 anos que tem 1.26.40 como recorde pessoal nos 20 km depois de se ter
iniciado nos treinos apenas 2 anos antes. Uma situação que fez rir os antigos
atletas de alta competição e qualquer outra pessoa que estivesse a treinar
marcha. Sendo certo que há muito talento, também há muita batota.
Já Michail Shchennikov, um dos
maiores atletas da marcha russa na década de 90, é ainda mais crítico. Embora
ele próprio nunca tenha pertencido ao centro, acompanhava a carreira de Chyogin,
acusando-o de destruir a marcha no seu país pela ganância das medalhas. Quando
se fala que a escola foi destruída pela inveja dos outros ou por questões
políticas a nível internacional, Shchennikov sorri … E quando há atletas que tentam
defender o treinador, refere que tudo já era claro há 10 anos atrás! Shchennikov
lembra que ao contrair uma lesão grave na sua carreira foi convidado a ir para
Saransk onde um especialista prometeu «fazer tudo». Recusou tal convite!
Em conclusão, a escola continua, o
futuro o dirá se com ou sem doping.
Entretanto, o futuro do atletismo na
Rússia continua pendente …