domingo, 18 de setembro de 2016

Mundial de 50 km marcha de Malmö foi há 40 anos

Venyamin Soldatenko, numa imagem recente.
Foto: Voxpopuli.kz
Determinado já nessa época a reduzir o programa dos Jogos que se preparava para Montréal (Canadá) em 1976, o Comité Olímpico Internacional (COI) decidiu em reunião da Comissão Executiva realizada em 23 de Fevereiro de 1973, em Lausana (Suíça), que o programa dos Jogos da XXI Olimpíada teria menos provas e menos atletas em certas competições a fim de reduzir o número global de participantes. A proposta tinha sido apresentada pela Comissão do Programa do COI e apontava para que certas modalidades reduzissem o número de atletas que podiam participar (por exemplo, no futebol baixou de 19 para 17 o número de jogadores que cada selecção poderia inscrever) e outras eliminassem algumas provas (por exemplo, a natação veria eliminadas três provas: 200 metros estilos masculinos e femininos e a estafeta 4x100 m livres masculinos).

Em comparação com a edição anterior (Munique-1972), os Jogos de Montréal teriam diminuição de participantes em nove das 21 modalidades, contra apenas uma (remo) que teria o programa aumentado. O atletismo contava-se entre as modalidades com redução de programa, com a eliminação de uma prova: os 50 km marcha.

A distância fazia parte do programa olímpico desde os Jogos de 1932, realizados em Los Angeles (EUA). Nesse ano, a distância longa foi, de resto, a única da disciplina a integrar o programa, situação que se manteve em Berlim-1936. Já depois da II Guerra Mundial, a marcha voltaria a ter duas distâncias no sector masculino, variando uma delas entre os 10 mil metros, os 10 km e os 20 km, mas conservando sempre os 50 km como distância da prova mais longa. O modelo actual de 20 km e 50 km vem dos Jogos de Melbourne, em 1956, com a única excepção de 1976.

A proposta aprovada pela Comissão Executiva do COI em 1973 veio a ser oficializada em 5 de Outubro desse ano, durante o Congresso de Varna, na Bulgária. Resultado: os 50 km marcha saíam do programa e o percurso definido para as provas da disciplina no Jardim Botânico de Montréal, junto ao Estádio Olímpico, conheceria apenas a presença dos atletas dos 20 km, onde, de resto, Daniel Bautista se tornou o primeiro campeão olímpico da famosa escola de marchadores do México, liderada pelo treinador polaco (mais tarde mexicano) Jerzy Hausleber.

Descontente com a decisão do Comité Olímpico Internacional, a então chamada Federação Internacional de Atletismo Amador (FIAA) decidiu organizar um campeonato mundial de 50 km marcha. A ideia assentava na decisão tomada em 1913 pela FIAA segundo a qual, como não havia campeonatos do mundo de atletismo, os Jogos Olímpicos funcionariam como campeonatos do mundo, pelo que os campeões olímpicos seriam considerados também campeões do mundo. Não havendo a prova longa de marcha nos Jogos de 1976, era então necessário levar a efeito um campeonato do mundo para que o título de campeão mundial da distância pudesse ser atribuído (mesmo que de modo informal).

A decisão da FIAA vinha também na linha da vontade que desde a década de 1960 crescia entre as federações nacionais de atletismo de criar os campeonatos do mundo de atletismo, que, como se sabe, vieram a ter a primeira edição em 1983, na capital da Finlândia, Helsínquia.

Tomada a decisão de levar a efeito o campeonato mundial de 50 km marcha «em substituição» da prova eliminada do programa olímpico, foi igualmente deliberado que a competição teria lugar na cidade sueca de Malmö, em 18 de Setembro de 1976. A ela compareceram 42 atletas, de 20 países.

Entre eles e reunindo algum favoritismo contavam-se o italiano Vittorio Visini (com quatro classificações de 6.º a 8.º nos Jogos Olímpicos de México-1968, Munique-1972 e Montréal-1976), o norte-americano Larry Young (com duas medalhas de bronze nos 50 km dos Jogos de 1968 e 1972) e os soviéticos Evgeniy Lyungin (vencedor dos 50 km da Taça do Mundo de Marcha de 1975) e Venyamin Soldatenko (campeão europeu em 1971 e vice-campeão olímpico de 1972).

Este último acabaria por vencer, com 3.54.40 h, à frente de Enrique Vera (México, 3.58.14) e de Reima Salonen (Finlândia, 3.58.53). Venyamin Soldatenko tornava-se, assim, o primeiro atleta a sagrar-se campeão num mundial de atletismo, 14 anos depois de ter-se iniciado na prática da marcha e nove anos após ter sido integrado na selecção da União Soviética.

Membro da Polícia da URSS, Soldatenko tinha nascido no Cazaquistão e após a carreira de atleta dedicou-se às funções de treinador na sua república natal. Com o fim da União Soviética, Venyamin Soldatenko adoptou a nacionalidade cazaque.