Arai e Dunfee sem ressentimentos. Foto: Twitter de E.Dunfee |
Não é nada normal assistir-se, nos
últimos metros da prova mais longa do calendário olímpico e após uma marcha de
quase quatro horas, sob difíceis condições atmosféricas, a uma titânica luta
pela medalha de bronze.
O japonês Hirooki Arai e o canadiano
Evan Dunfee foram os protagonistas de um final dramático de prova no circuito
do Pontal que serviu de palco às provas de marcha dos Jogos Olímpicos.
Durante grande parte da competição,
no grupo da dianteira, constituído por meia dúzia de atletas, o atleta
canadiano, que fora 10.º classificado nos 20 km, disputados uma semana antes e
que não estava colocado na lista de favoritos à conquista de uma medalha, foi
recuperando terreno perdido para Arai (4.º classificado nos últimos mundiais),
até que, no último quilómetro, apesar de se lhe notar grande exaustão,
colou-se-lhe.
Num choque de braços, as pernas do
canadiano, de 25 anos, que já denotavam alguma fraqueza, fizeram-lhe quebrar
ainda mais. Chegou na 4.ª posição. A delegação canadiana protestou. O árbitro,
após visualizar o vídeo, deu razão a Dunfee. Os japoneses recorreram da decisão
e o júri de apelo, reconstituído, pois dois dos seus cinco elementos eram
oriundos dos países dos atletas em confronto, decidiu, depois de visualizar as
imagens de vídeo, em recolocar Arai na terceira posição.
O que ressalta desta história é o
grande desportivismo de Dunfee ao considerar que a decisão tomada pelo Júri de
Apelo foi a mais correta apesar de, naturalmente, ambicionar à medalha, um
sonho para ele. E que o “empurrão” do seu companheiro de estrada não terá sido
intencional mas, antes, fruto da refrega, própria da competição. Por isso,
decidiu não recorrer para o Tribunal Arbitral do Desporto.
Dunfee chegou mesmo a comentar que
não teria sido capaz, caso o seu eventual recurso para o CAS (sigla inglesa
para o TAD) fosse aceite, de receber a medalha de consciência tranquila e que
não seria, para si, motivo de orgulho.
O Canadá, conhecido especialmente no
desporto pelos resultados de top mundial obtidos na modalidade do hóquei no
gelo, passou também a admirar os seus marchadores (Ben Thorne foi medalha de
bronze nos 20 km dos mundiais de Pequim), muito por via, agora, de Efan Dunfee,
um desportista de eleição a todos os níveis, que bateu o recorde nacional do
seus país nos 50 km marcha, e ainda incentivou o francês Yohann Diniz, quando
por ele passou, num dos momentos mais críticos para este.