sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Arai e Dunfee nos 50 km marcha dos Jogos do Rio

Arai e Dunfee sem ressentimentos. Foto: Twitter de E.Dunfee
Não é nada normal assistir-se, nos últimos metros da prova mais longa do calendário olímpico e após uma marcha de quase quatro horas, sob difíceis condições atmosféricas, a uma titânica luta pela medalha de bronze.

O japonês Hirooki Arai e o canadiano Evan Dunfee foram os protagonistas de um final dramático de prova no circuito do Pontal que serviu de palco às provas de marcha dos Jogos Olímpicos.

Durante grande parte da competição, no grupo da dianteira, constituído por meia dúzia de atletas, o atleta canadiano, que fora 10.º classificado nos 20 km, disputados uma semana antes e que não estava colocado na lista de favoritos à conquista de uma medalha, foi recuperando terreno perdido para Arai (4.º classificado nos últimos mundiais), até que, no último quilómetro, apesar de se lhe notar grande exaustão, colou-se-lhe.

Num choque de braços, as pernas do canadiano, de 25 anos, que já denotavam alguma fraqueza, fizeram-lhe quebrar ainda mais. Chegou na 4.ª posição. A delegação canadiana protestou. O árbitro, após visualizar o vídeo, deu razão a Dunfee. Os japoneses recorreram da decisão e o júri de apelo, reconstituído, pois dois dos seus cinco elementos eram oriundos dos países dos atletas em confronto, decidiu, depois de visualizar as imagens de vídeo, em recolocar Arai na terceira posição.

O que ressalta desta história é o grande desportivismo de Dunfee ao considerar que a decisão tomada pelo Júri de Apelo foi a mais correta apesar de, naturalmente, ambicionar à medalha, um sonho para ele. E que o “empurrão” do seu companheiro de estrada não terá sido intencional mas, antes, fruto da refrega, própria da competição. Por isso, decidiu não recorrer para o Tribunal Arbitral do Desporto.

Dunfee chegou mesmo a comentar que não teria sido capaz, caso o seu eventual recurso para o CAS (sigla inglesa para o TAD) fosse aceite, de receber a medalha de consciência tranquila e que não seria, para si, motivo de orgulho.

O Canadá, conhecido especialmente no desporto pelos resultados de top mundial obtidos na modalidade do hóquei no gelo, passou também a admirar os seus marchadores (Ben Thorne foi medalha de bronze nos 20 km dos mundiais de Pequim), muito por via, agora, de Efan Dunfee, um desportista de eleição a todos os níveis, que bateu o recorde nacional do seus país nos 50 km marcha, e ainda incentivou o francês Yohann Diniz, quando por ele passou, num dos momentos mais críticos para este.