Susana Feitor na última presença olímpica, em Pequim-2008. Foto: Lusa. |
Por via da ausência
dos Jogos de 2012, Susana Feitor viu inviabilizada a possibilidade de registar
a participação na sexta edição consecutiva dos Jogos Olímpicos, o que entre os
desportistas portugueses apenas o velejador João Rodrigues alcançou,
precisamente em Londres, nos Jogos deste ano quase terminado.
O madeirense e a
ribatejana iniciaram-se nas lides olímpicas nos já distantes Jogos de Barcelona
de 1992. Durante o período entretanto transcorrido, Susana Feitor foi
habituando os adeptos portugueses do atletismo e do desporto em geral a
presenças regulares nas grandes competições internacionais de atletismo. Aliás,
vinha já de 1989 a estreia internacional da atleta que então representava o
Clube de Natação de Rio Maior, com a participação nos europeus de juniores de
Varazdin (na antiga Jugoslávia). E em várias destas participações ao mais alto
nível o desempenho de Susana tinha atingido relevo de grande significado,
traduzido na obtenção de medalhas individuais e colectivas, a começar logo em
1990, com a vitória nos 5000 m marcha femininos dos mundiais de juniores de
Plovdiv (Bulgária).
Com esse sucesso, a muito
jovem marchadora de Rio Maior, então com apenas 15 anos, começava a aparecer
nas páginas de destaque dos jornais e das revistas e nos principais programas
da rádio e da televisão. Na sua terra, a atleta foi mesmo o motivo para que um
concelho economicamente empobrecido por enfraquecimento das tradicionais
actividades industriais e agrícolas fizesse do desporto uma nova área de
intervenção económica, com a criação de um centro de preparação olímpica (em
parceria da câmara municipal com o comité olímpico) e de uma escola superior de
desporto, integrada no Instituto Politécnico de Santarém.
Mas Susana Feitor foi
também motivo de inspiração para muitos jovens desportistas, tendo atraído à
prática da marcha algumas jovens atletas que, já crescidas, viriam a ser as
principais competidoras da «estrela» rio-maiorense. Entre elas, as conterrâneas
e colegas de clube Inês Henriques e Vera Santos, a que se juntariam, primeiro,
a madeirense Maribel Gonçalves (2004) e, depois, Ana Cabecinha (2008) e com as
quais Susana haveria de ter de disputar, a partir de 2004, um lugar entre três
para Jogos Olímpicos, campeonatos do mundo e campeonatos da Europa.
Foi sempre
conseguindo manter o lugar na selecção até aos já referidos europeus de 2010,
para os quais não foi escolhida. Em 2011 voltaria a ser seleccionada para a
11.ª presença em mundiais de atletismo, mas de novo em 2012 ficaria de fora
(dos Jogos de Londres).
Numa fase em que
Susana Feitor já não revela a mesma facilidade de outros tempos para obter
marcas do nível a que nos habituou, a ausência dos Jogos de Londres acaba por
ser não apenas o corte, provavelmente definitivo, na continuidade da
participação olímpica da atleta, mas a entrada numa nova era da marcha
portuguesa, com tendência para a tomada por outras atletas do lugar que durante
muitos anos pertenceu a Susana Feitor.
De forma nenhuma se
escreverá aqui o epitáfio desportivo da melhor marchadora portuguesa de sempre,
aliás totalmente descabido, mas não se pode negar que a transcendência do
significado da ausência de Susana Feitor dos Jogos Olímpicos de Londres supera
alguns outros acontecimentos que também justificariam destaque neste final de
ano. Apesar de ser, em boa verdade, um não-acontecimento, esse é considerado
pela equipa do blogue «O Marchador» o acontecimento nacional da marcha atlética
em 2012.