A multidão que preenchia o Estádio Olímpico de Sydney no final da manhã de 29 de Setembro de 2000 recebeu de forma muito calorosa o derradeiro classificado da prova dos 50 km marcha. Nos altofalantes ecoava um tema dos Proclaimers, «I'm Gonna Be (500 Miles)», posto no ar em honra do britânico Chris Maddocks, a quem o público dispensava a maior ovação da jornada. E não era caso para menos.
Apesar de apoquentado por uma rotura muscular sofrida apenas uns dias antes e de terminar a prova mais de uma hora depois do vencedor (o polaco Robert Korzeniowski) e quase meia hora após o penúltimo classificado (o irlandês Jamie Costin), Chris Maddocks estava a cumprir um feito extraordinário: concluía a quinta participação em Jogos Olímpicos e despedia-se da alta competição, num percurso que tinha já passado por Los Angeles-1984, Seul-1988, Barcelona-1992 e Atlanta-1996. E por pouco não incluiu Moscovo-1980 antes dessas todas.
Chris Maddocks nasceu a 28 de Março de 1957 e quase se podia dizer que veio ao mundo cheio de vontade de competir. Ainda criança dedicou-se ao corta-mato e tinha apenas 10 anos quando participou pela primeira vez numa maratona. Quatro anos depois entrava numa prova de marcha de 50 milhas (mais de 80 km!), terminando num quarto lugar que o deixou desapontado. Voltaria a esta última competição nos anos seguintes até vencer, na edição de 1975, aos 18 anos.
Estava visto: o rapaz haveria de notabilizar-se na marcha, como a carreira posterior se encarregaria de demonstrar, com vitórias em campeonatos da Grã-Bretanha, recordes nacionais, participações em campeonatos e taças da Europa e do mundo, além dos já referidos Jogos Olímpicos.
A história da vida desportiva do «mais olímpico» dos atletas ingleses de pista e estrada está agora contada em livro na primeira pessoa, através da autobiografia a que Maddocks deu o título «Money Walks». Ao longo de mais de 200 páginas, Maddocks conta como passou a infância, a chegada ao atletismo, até às circunstâncias épicas que lhe rodearam a quinta participação nos Jogos Olímpicos.
Obra prometida há anos, saiu em Setembro passado sob a forma de ficção, em que as personagens têm nomes fictícios, mas participando em acções verídicas. É, por isso, um romance autobiográfico, centrado no ano 2000, quando um certo marchador tenta qualificar-se para os Jogos Olímpicos. Os sextos para que obtém mínimos, os quintos em que vai participar.
Mas nada disso são facilidades, a que se juntam outras dificuldades: o avanço da idade, a falta de financiamento e o baixo salário resultante da actividade profissional. A partir daí, é fácil imaginar o que se segue. Ou talvez não.
Mas nada disso são facilidades, a que se juntam outras dificuldades: o avanço da idade, a falta de financiamento e o baixo salário resultante da actividade profissional. A partir daí, é fácil imaginar o que se segue. Ou talvez não.
Não existindo edição portuguesa de «Money Walks», os interessados podem procurar o livro na internet, sabendo que tem capa mole, extensão de 220 páginas e preço de capa a rondar as 10 libras esterlinas.