Manuel Guerreiro, 4.º classificado, à frente na passagem junto ao Mosteiro dos Jerónimos. Foto (arquivo) do «Diário de Notícias». |
Vem de longa data a
tradição de órgãos de imprensa organizarem provas desportivas que ao mesmo
tempo divulguem o desporto e promovam a entidade que as leva a cabo. Foi nessa
linha que o jornal «Os Sports» organizou uma prova de marcha atlética em que
tomaram parte nada menos que 400 participantes.
A prova teve lugar em
Lisboa, a 11 de Abril de 1938, e consistiu numa marcha de 25 quilómetros,
partindo do Terreiro do Paço e com chegada ao Parque Mayer, num percurso que
incluiu a passagem por Alcântara, Algés, Carnaxide e Benfica.
Ao vencedor foi entregue
a Taça Djalme Bastos, nome histórico da marcha atlética portuguesa, dominador
das provas da disciplina nas (poucas) edições dos Jogos Olímpicos Nacionais do
início da década de 1910.
Três dias depois da
prova, o «Diário de Notícias» publicava uma reportagem sobre o evento (ainda
que se referisse a ele como tendo ocorrido na véspera). Agora, o jornalista e
atleta Cipriano Lucas recuperou esta notícia, com a imagem junta. Um contributo
muito relevante para o conhecimento histórico da marcha atlética em Portugal,
que o blogue «O Marchador» muito agradece a Cipriano Lucas.
VIDA DESPORTIVA
A Prova de Marcha
organizada por “Os Sports”
reuniu perto de 400 concorrentes,
tendo-se classificado mais de metade
Luta magnifica entre
os quatro primeiros classificados, da qual saiu vencedor o jovem Alberto de
Sousa, em 2 h. 37 m .
51 s.
Constituiu
mais um notabilíssimo triunfo, a juntar a tantos outros que “Os Sports” tem
conquistado, a organização da “Prova de Marcha”, a que ontem se abalançou
aquele nosso brilhante colega, e com a qual proporcionou ao público da capital
um espectáculo verdadeiramente empolgante.
Cerca
de 400 concorrentes, tantos foram os que partiram do Terreiro do paço para uma
marcha de 25
quilómetros através das ruas de Lisboa, que representa
um “record” para ter no devido apreço e diz por si só, da força eloquente do
desporto e da grande popularidade do jornal organizador.
É certo que uma prova de marcha,
pelas suas exigências de ordem técnica, não costuma, mesmo lá fora, reunir tão
elevado número de concorrentes: mas “Os Sports”, porque se tratava de fazer ressurgir
uma modalidade que em Portugal caíra no esquecimento há mais de quinze anos e
constituiu uma novidade para os que responderam à chamada, não quis, ao tentar
ressurgir a “Marcha”, exigir dos concorrentes princípios éticos para eles quase
desconhecidos.
A grande maioria revelou, porém,
aptidões para a prova, em condições de se poder dizer que à modalidade, tão
apreciada no estrangeiro, está reservado um futuro muito prometedor em
Portugal.
A partida fez-se às 8.30, do
Terreiro do Paço, onde já muito antes se tinham reunido os concorrentes e os
ciclistas que colaboraram na organização. Os marchadores seguiram a direcção do
Cais do Sodré e avenida 24 de Julho, e à passagem em Alcântara-Terra seguia à
frente Manuel Guerreiro, que tomara logo de princípio a “cabeça” do pelotão.
Em Algés, e já em Carnaxide,
Guerreiro continuava à frente, com mais de um minuto de avanço. Começou nessa
altura a perseguição que Alberto Sousa e Ernesto Freitas lhe moveram, e que só
teve paragem em Benfica, onde o “leader” foi finalmente alcançado.
A prova decidiu-se de Benfica até ao
Parque Mayer. Alberto de Sousa, Ernesto de Freitas e Bernardo Gonçalves, que
também se fez notar a certa altura do percurso, chamaram a si os três primeiros
lugares, relegando para a quarta posição o homem que já todos julgavam
vencedor.
A ordem de chegada dos primeiros 50
foi como segue: 1.º Alberto Sousa, 2 h. 37 m . 51 s.; 2.º Ernesto Freitas, 2 h. 38 m . 18 s.; 3.º Armando
Gonçalves, 2 h. 38 m .
28 s.; 4.º Manuel Guerreiro, 2 h. 39
m . 4 s.; 5.º José da Silva, 2 h. 39 m . 51 s.; 6.º Joaquim
Alvarez, 2 h. 40 m .
26 s.; 7.º Joaquim Carvalho, 2 h. 41
m . 50 s.; 8.º Manuel Pereira, 2 h. 41 m . 59 s.; 9.º Joaquim
Tavares, 2 h. 42 m .
30 s.; 10.º António Henriques, 2 h. 42 m . 35 s.; 11.º Manuel Coelho; 12.º, Josefino
Nunes; 13.º Alípio Ferreira; 14.º Avelino Pinto; 15.º Viriato Lira; 16.º Luiz
Baião; 17.º António Costa; 18.º João Martins; 19.º Guilherme Duarte; 20.º
Diógenes Gomes; 21.º Fernando Silva; 22.º André Parente; 23.º José Amorim;
24.ºManuel Lopes; 25.º José Almeida Santos; 26.º José Silva Marques; 27.º
Joaquim Augusto; 28.º Urbano Santos; 29.º Luiz Figueiredo; 30.º António Matos;
31.º Artur Barros; 32.º Carlos Figueira; 33.º Joaquim Lourenço; 34.º Augusto
Matos Henriques; 35.º Joaquim Carlos Silva; 36.º José Maria Dias; 37.º
Francisco Baptista; 38.º Gustavo Henriques Almeida; 39.º Francisco Cunha; 40.º
Antunes Silva; 41.º António Santos; 42.º Manuel Ribeiro; 43.º Raul Silva; 44.º
Alfredo Rocha; 45.º Eduardo Faria; 46.º João Martins; 47.º Agostinho Silva;
48.º José Carlos da Silva; 49.º Otilio Boliqueime; 50.º Aires Baptista.
Registou-se a chegada de 219
concorrentes. O vencedor ganhou direito à posse da taça “Djalme Bastos”,
instituída por “Os Sports”, em homenagem ao antigo marchador português e
“recordman” dos cinco quilómetros. O 2.º classificado recebeu também uma taça e
os dez seguintes medalhas.