Jerzy Hausleber e a placa que dá o seu nome à pista do Centro Nacional de Alto Rendimento. Foto: Mexsport |
Durante a sessão, a pista de atletismo do CNAR foi baptizada com o nome «Professor Jerzy Hausleber. «Nunca pensei que depois dos 70 anos teria uma pista com o meu nome», afirmou Hausleber, a dois dias de completar 81 anos.
Jerzy Karol Hausleber Roszezewska nasceu a 1 de Agosto de 1930, mudando-se ainda muito novo com a família para Gdansk. Aí sofreu as agruras da II Guerra Mundial, que lhe levou quatro irmãos mais velhos. Sobrevivendo à guerra, tal como os pais, era nos estaleiros dessa próspera cidade portuária do Mar Báltico que trabalhava ao mesmo tempo que desempenhava as funções de treinador nacional de marcha da Polónia quando, nos primeiros dias de Maio de 1966, recebeu do ministro do Desporto a informação de que teria de viajar para o México a fim de trabalhar com os marchadores mexicanos que estavam a preparar-se para os Jogos Olímpicos de 1968.
Depois de ter desenvolvido estudos superiores em Arquitectura Naval e em Educação Física, Jerzy Hausleber achou que poderia ser interessante a missão que lhe era atribuída no México, a dois anos de a capital desse país receber os Jogos Olímpicos e num momento em que a sua carreira profissional parecia estagnada, tanto no estaleiro naval como na pista de atletismo. Chegado à Cidade do México, logo foi encaminhado para o Centro Desportivo Olímpico Mexicano (então ainda por concluir), para assumir a orientação técnica dos marchadores mais destacados, e para o Instituto de Desenvolvimento Desportivo, para fazer detecção de valores.
Até aos Jogos teve de preparar os melhores marchadores do país, que não tinham expressão internacional, num mundo em que a marcha era dominada por atletas da União Soviética, da
Grã-Bretanha e de Itália. Mas com tanto empenho e tanta qualidade desenvolveu o seu trabalho que acabou por levar José Pedraza à medalha de prata dos 20 km marcha dos Jogos Olímpicos de 1968.
O contrato olímpico terminava em Novembro desse ano, mas o sucesso desportivo e o apelo que já sentia pela sua nova terra levaram-no a permanecer no México, cuja cidadania viria a obter em 1984, juntando-a à nacionalidade polaca.
Ao longo de quatro décadas, Jerzy Hausleber foi o treinador responsável por nada menos de 118 medalhas conquistadas por marchadores mexicanos em grandes competições internacionais, entre Jogos Centroamericanos, Jogos Pan-americanos, Taças do Mundo de Marcha, Campeonatos Mundiais de Atletismo e Jogos Olímpicos, com natural destaque para as medalhas de ouro olímpicas obtidas por Daniel Bautista (20 km, Montreal-1976), Ernesto Canto (20 km, Los Angeles-1984) e Raúl González (50 km, Los Angeles-1984).
Aos 81 anos, mesmo sofrendo de problemas cardíacos e articulares, Jerzy Hausleber mantém-se ligado à actividade da marcha mexicana, já não como treinador de atletas, que deixou de ser em 2004, mas na formação de treinadores e na apresentação de comunicações com que, pelo seu exemplo, pretende motivar as novas gerações de atletas e de treinadores de marcha.
Como referiu o presidente da federação mexicana no agradecimento que fez a Hausleber durante a cerimónia de 29 de Julho, há poucas pessoas no mundo com tão grande impacte sobre a experiência desportiva de um país, transformando-a praticamente sozinho numa potência mundial de determinada modalidade. É esse o grande legado que um dia Jerzy Hausleber deixará ao México, um país que em 1966 pouco ou nada contava no concerto internacional do desporto e que poucos anos depois era reconhecido como pátria dos melhores especialistas mundiais da marcha atlética.
Nas palavras de um jornalista que relatou a homenagem a Hausleber, referindo-se à relação entre o treinador e a sua pátria adoptiva, «sem ele, esta disciplina estaria órfã de sonhos».