Norman Read vencendo nos Jogos de Melbourne, em 1956. Foto: Public Record Office Victoria |
Entre os espectadores que assistiram à prova contava-se um jovem à beira de completar 17 anos, nascido em Portsmouth: Norman Richard Read. De tal forma se deixou impressionar pela prestação do sueco que logo ali decidiu que seria marchador de competição e que iria esforçar-se ao máximo para também competir nos Jogos Olímpicos.
No início da década de 50 tornava-se já campeão britânico de juniores, mas no escalão sénior a sua figura seria relegada para planos secundários perante a superioridade de atletas bem mais experientes. Não foi seleccionado para os Jogos de 1952, em Helsínquia, mas assistiu às competições na capital finlandesa, aproveitando para estabelecer contactos com a delegação da Nova Zelândia, Impaciente, decidiu então mudar-se para este país, o que fez em 1953. Aí prosseguiu a actividade desportiva, visando preparar-se para a participação nos Jogos Olímpicos de Melbourne, na Austrália, marcados para 1956. Mas, chegado aos antípodas, confrontou-se com uma dura realidade: o calendário competitivo da Nova Zelândia para a marcha atlética era muito pobre, em contraste com o seu hábito de competir com frequência na região britânica de onde provinha.
Com a aproximação dos Jogos de 1956 e competindo conforme ia tendo oportunidade, Norman Read fez chegar alguns resultados à Associação Britânica de Atletismo, solicitando a inclusão na equipa nacional que iria a Melbourne. Vendo indeferido o pedido, uma vez que a equipa de três marchadores já estava preenchida com Donald Thompson, Albert Johnson e Eric Hall, voltou-se para a federação neo-zelandesa, que veio a seleccioná-lo para aquela competição, depois de se certificar junto do Comité Olímpico Internacional de que o atleta era elegível para a sua equipa.
Em Melbourne, à partida para os 50 km, o favoritismo ia para o soviético Evgueni Maskinskov, a quem Read foi cedendo sempre a liderança. Mas por volta dos 42 quilómetros de prova, o neo-zelandês atacou com determinação. O seu plano resultara e, ao ultrapassar o soviético, a surpresa deste era evidente. Norman Read afirmaria em conferência de imprensa: «Quando ultrapassei Maskinskov, ele tinha uma expressão de surpresa, talvez até de choque. Nesse momento, penso que ambos sabíamos que seria eu o vencedor.»
E foi. Quando entrou no estádio, os milhares de compatriotas que preenchiam parte da bancada erromperam em aplausos, saudando os seus dois minutos de vantagem sobre o soviético, que ganharia a medalha de prata. Depois de dar a volta de honra, Read ainda teve tempo para esperar o terceiro classificado, nada menos que o sueco Ljunggren, já com 37 anos, o mesmo que oito anos antes fora o impulso determinante para aquele sucesso.
A Nova Zelândia nunca foi país de grandes contactos internacionais de marcha atlética, estando os seus atletas limitados à participação nas competições oficiais. Por isso, poucas foram as oportunidades para que Norman Read repetisse o sucesso de Melbourne, sendo até dos campeões olímpicos de marcha menos conhecidos. Até aos Jogos de 1960, em Roma, onde foi 5.º nos 20 km e desistiu nos 50 km, só poucos meses antes do encontro olímpico voltou a representar a Nova Zelândia, desta vez numa prova de 3000 metros em pista, durante um encontro entre a selecção do seu país e uma representação do estado australiano de Victoria, obtendo o terceiro lugar. Mais tarde viria a competir nos Estados Unidos, na África do Sul e na Austrália. Após a conquista de dezenas de títulos nacionais e de uma medalha de ouro olímpica, Norman Read terminaria a carreira competitiva em 1979, com 48 anos, competindo numa prova de 50 km de um encontro entre o seu país e a Austrália.
Retirado da competição, viria integrar o painel de juízes de marcha da Federação Internacional, tendo desempenhado essas funções nos Jogos da Comunidade Britânica de 1986 e 1990 e ainda nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992.
Norman Read morreu a 22 de Maio 1994, em consequência de ataque cardíaco durante uma prova de ciclismo para veteranos, quando era presidente da Federação Neo-zelandesa de Atletismo. Até ao final da vida, Read nunca deixou de se considerar, com muita honra, «um kiwi com sabor a maçã», numa alusão ao facto de ter sido um neo-zelandês que começou por ser inglês.
Currículo
Nome: Norman Richard Read
Naturalidade: Portsmouth (Grã-Bretanha)
Data de nascimento: 13/8/1931
Nome: Norman Richard Read
Naturalidade: Portsmouth (Grã-Bretanha)
Data de nascimento: 13/8/1931
«Palmarès»
1956: campeão olímpico dos 50 km (Melbourne)
1956: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1957: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1959: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1960: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1960: 5.º classificado nos 20 km dos Jogos Olímpicos de Roma
1961: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1964: campeão nacional de 50 km
1965: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1965: estabelece o recorde neo-zelandês de 50 milhas marcha (7.49.52 h)
1966: 3.º classificado nas 20 milhas marcha dos Jogos da Comunidade Britânica, em Kingston (Jamaica)
1967: campeão nacional de 50 km
1969: campeão nacional de 50 km
1969: 2.º classificado nos 20 km dos Jogos da África do Sul
1979: última competição internacional – 50 km no encontro Nova Zelândia–Austrália (Auckland)
1956: campeão olímpico dos 50 km (Melbourne)
1956: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1957: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1959: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1960: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1960: 5.º classificado nos 20 km dos Jogos Olímpicos de Roma
1961: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1964: campeão nacional de 50 km
1965: campeão nacional de 20 km e de 50 km
1965: estabelece o recorde neo-zelandês de 50 milhas marcha (7.49.52 h)
1966: 3.º classificado nas 20 milhas marcha dos Jogos da Comunidade Britânica, em Kingston (Jamaica)
1967: campeão nacional de 50 km
1969: campeão nacional de 50 km
1969: 2.º classificado nos 20 km dos Jogos da África do Sul
1979: última competição internacional – 50 km no encontro Nova Zelândia–Austrália (Auckland)
Versão revista do texto publicado no boletim «O Marchador» n.º 26, de Janeiro de 1999.