sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Eider Arévalo, figura internacional de 2017

Eider Arévalo. Foto: IAAF/Getty Images
A marcha atlética sul-americana passou quase desapercebida no plano internacional até há pouco mais de duas décadas. Salvo raras excepções, os nomes mais destacados até esse momento foram os dos (muitos) irmãos Moreno, da Colômbia, que marcaram presença nas pistas e nos circuitos mundiais sobretudo nos anos 80 e início do 90, mas que se destacaram muito pouco fora do âmbito continental (sul-americano, pan-americano ou ibero-americano). Os feitos mais ressonantes da marcha da América do Sul chegaram já na segunda metade da década de 90, com os grandes desempenhos do extraordinário equatoriano Jefferson Pérez (campeão olímpico em Atlanta-1996 e vice-campeão em Pequim-2008, campeão do mundo em Paris-2003, Helsínquia-2005 e Ósaca-2007), complementados mais recentemente pelos do colombiano Luis López (campeão nos mundiais de Daegu-2011) e dos brasileiros Caio Bonfim (3.º nos mundiais de Londres-2017) e Érica de Sena (3.ª nos mundiais de seleções de Roma). Mas, em 2017, quem mais se destacou foi Eider Arévalo, que levou para a sua Colômbia natal o título de campeão do mundo dos 20 km, conquistado em Londres com a marca de 1.18.53 h, novo recorde nacional.

No percurso até ao sucesso na capital britânica, a 13 de Agosto, Arévalo cumpriu uma época bastante homogénea, tendo vencido todas as três provas do Challenge Mundial de Marcha em que tinha tomado parte: Ciudad Juárez (12 de Março), Rio Maior (1 de Abril) e Taça Pan-americana de Marcha (Lima, 13 de Maio). Considerando a etapa londrina do Challenge, Eider Arévalo contou, portanto, por vitórias todas as quatro presenças nas diferentes competições integradas no programa deste circuito mundial de marcha de 2017, que incluiu ainda provas na Austrália (Adelaide), no México (Monterrey), no Japão (Nomi), na China (Taicang), na República Checa (Podebrady) e em Espanha (Corunha).

Apesar de competir em «apenas» quatro das dez provas do total, Arévalo beneficiou do facto de obter só vitórias e sagrou-se vencedor do Challenge, com 36 pontos, bem adiante de outros dois sul-americanos, o brasileiro Caio Bonfim e o equatoriano Andrés Chocho, ambos com 25 pontos.

Pela regularidade da forma ao longo de meio ano consecutivo, pela valia dos resultados obtidos, pela qualidade dos adversários superados e ainda pela mentalidade ganhadora demonstrada ao longo da época, Eider Arévalo é a figura internacional da marcha em 2017. Só uma época como a de Arévalo lhe permitiria chegar ao fim da temporada e ser considerado melhor do que o francês Yohann Diniz, também campeão em Londres mas nos 50 km e com uma inimaginável margem superior a oito minutos sobre os colegas japoneses de pódio. O feito do gaulês ganha ainda mais expressão quando se tem em conta que, com 39 anos, Diniz se tornou assim o mais velho dos campeões mundiais de atletismo. Mas Eider Arévalo teve a vantagem de demonstrar grande nível ao longo de todo o ano e não apenas no auge da época.

Depois de ter sido campeão mundial de juniores em 2012 (Barcelona), ano em que ganhou também (pela segunda vez!) a prova de juniores da então chamada Taça do Mundo de Marcha, Arévalo perfila-se agora no panorama continental da disciplina como potencial sucessor de Jefferson Pérez como nome de grande prestígio no mundo da marcha. No entanto, nesse aspecto, terá ainda um longo caminho a percorrer, que os feitos de Pérez são dificilmente igualáveis. Mas... quem sabe? Por agora, o primeiro passo está dado.