Eider Arévalo. Foto: IAAF/Getty Images |
A marcha atlética sul-americana
passou quase desapercebida no plano internacional até há pouco mais de duas
décadas. Salvo raras excepções, os nomes mais destacados até esse momento foram
os dos (muitos) irmãos Moreno, da Colômbia, que marcaram presença nas pistas e
nos circuitos mundiais sobretudo nos anos 80 e início do 90, mas que se
destacaram muito pouco fora do âmbito continental (sul-americano, pan-americano
ou ibero-americano). Os feitos mais ressonantes da marcha da América do Sul
chegaram já na segunda metade da década de 90, com os grandes desempenhos do
extraordinário equatoriano Jefferson Pérez (campeão olímpico em Atlanta-1996 e
vice-campeão em Pequim-2008, campeão do mundo em Paris-2003, Helsínquia-2005 e
Ósaca-2007), complementados mais recentemente pelos do colombiano Luis López
(campeão nos mundiais de Daegu-2011) e dos brasileiros Caio Bonfim (3.º nos
mundiais de Londres-2017) e Érica de Sena (3.ª nos mundiais de seleções de
Roma). Mas, em 2017, quem mais se destacou foi Eider Arévalo, que levou para a
sua Colômbia natal o título de campeão do mundo dos 20 km, conquistado em
Londres com a marca de 1.18.53 h, novo recorde nacional.
No percurso até ao sucesso na
capital britânica, a 13 de Agosto, Arévalo cumpriu uma época bastante
homogénea, tendo vencido todas as três provas do Challenge Mundial de Marcha em
que tinha tomado parte: Ciudad Juárez (12 de Março), Rio Maior (1 de Abril) e
Taça Pan-americana de Marcha (Lima, 13 de Maio). Considerando a etapa londrina
do Challenge, Eider Arévalo contou, portanto, por vitórias todas as quatro
presenças nas diferentes competições integradas no programa deste circuito
mundial de marcha de 2017, que incluiu ainda provas na Austrália (Adelaide), no
México (Monterrey), no Japão (Nomi), na China (Taicang), na República Checa
(Podebrady) e em Espanha (Corunha).
Apesar de competir em «apenas»
quatro das dez provas do total, Arévalo beneficiou do facto de obter só
vitórias e sagrou-se vencedor do Challenge, com 36 pontos, bem adiante de
outros dois sul-americanos, o brasileiro Caio Bonfim e o equatoriano Andrés
Chocho, ambos com 25 pontos.
Pela regularidade da forma ao longo
de meio ano consecutivo, pela valia dos resultados obtidos, pela qualidade dos
adversários superados e ainda pela mentalidade ganhadora demonstrada ao longo
da época, Eider Arévalo é a figura internacional da marcha em 2017. Só uma
época como a de Arévalo lhe permitiria chegar ao fim da temporada e ser
considerado melhor do que o francês Yohann Diniz, também campeão em Londres mas
nos 50 km e com uma inimaginável margem superior a oito minutos sobre os
colegas japoneses de pódio. O feito do gaulês ganha ainda mais expressão quando
se tem em conta que, com 39 anos, Diniz se tornou assim o mais velho dos
campeões mundiais de atletismo. Mas Eider Arévalo teve a vantagem de demonstrar
grande nível ao longo de todo o ano e não apenas no auge da época.
Depois de ter sido campeão mundial
de juniores em 2012 (Barcelona), ano em que ganhou também (pela segunda vez!) a
prova de juniores da então chamada Taça do Mundo de Marcha, Arévalo perfila-se
agora no panorama continental da disciplina como potencial sucessor de
Jefferson Pérez como nome de grande prestígio no mundo da marcha. No entanto,
nesse aspecto, terá ainda um longo caminho a percorrer, que os feitos de Pérez
são dificilmente igualáveis. Mas... quem sabe? Por agora, o primeiro passo está
dado.