Pormenores dos campeonatos de 20 e 50 km.
Fotos: Município de Porto de Mós e Mário Pinho Rocha
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Portugal conheceu no dia 15 de Janeiro de 2017 o primeiro recorde mundial oficial de marcha atlética obtido no seu território. Concretizando um objectivo divulgado com antecedência, Inês Henriques venceu nesse dia o campeonato nacional feminino de estrada de 50 km marcha, com a marca de 4.08.26 h.
O resultado obtido perfilava-se em excelentes condições para ser reconhecido como primeiro recorde mundial da distância para o sector feminino, no âmbito do processo desenvolvido com esse fim pela Associação Internacional de Federações de Atletismo (AIFA). Ao mesmo tempo, a marca poderia vir a permitir a participação nos mundiais de Londres, caso a distância viesse a ser integrada no programa desses campeonatos (como de facto aconteceu).
Menos de dois meses mais tarde, no dia 4 de Março, coube a São João da Madeira acolher outros campeonatos nacionais de marcha em estrada, neste caso na distância de 20 km. Aqui, o vencedor masculino (João Vieira, 1.23.46) ficou a escassos 46 segundos dos mínimos para Londres (mínimos FPA de 1.23.00, já que os mínimos internacionais de 1.24.00 foram superados por 14 segundos), enquanto as duas primeiras femininas (Ana Cabecinha, 1.32.14, e Inês Henriques, 1.32.28) superaram os mínimos femininos para os campeonatos do mundo (1.34.00).
Em ambos os casos (Porto de Mós e São João da Madeira) estavam reunidas algumas das condições regulamentares para a validação internacional das marcas que viessem a ser alcançadas: as medições dos circuitos estavam devidamente certificadas e os juízes de marcha presentes tinham a quantidade e a qualidade exigidas pela AIFA. No entanto, o procedimento administrativo prévio de pedido de registo das provas na lista de torneios aceites para o reconhecimento de mínimos para os mundiais de Londres não tinha sido desenvolvido pela FPA, como era seu dever.
Mais uma vez, a Federação Portuguesa de Atletismo não esteve à altura das responsabilidades que deve assumir em situações como as vividas em Porto de Mós e São João da Madeira, onde era previsível a obtenção de marcas relevantes (recordes ou mínimos), até porque em alguns casos constituíam objectivos previamente anunciados e para os quais deveriam ter sido reunidas as devidas condições.
A inacção da federação voltou a ser marca negativa, desconsiderando o esforço dos atletas e comprometendo o reconhecimento dos feitos alcançados ou que poderiam tê-lo sido. Basta lembrar que o sucesso de Inês Henriques nos 50 km, com a obtenção da marca que veio a ser reconhecida como primeiro recorde mundial feminino da distância, poderia ter ficado em perigo não só por não se ter garantido a presença na prova de atletas em quantidade mínima para efeito de validação de recorde mundial (regulamentação da federação internacional) mas também por falta de controlo de dopagem no local (a atleta acabou por deslocar-se horas depois a outro local para proceder ao indispensável controlo). E também não deve ser esquecido o grande empenho do município de Porto de Mós, dando um apoio a que a FPA, com as referidas falhas, não soube corresponder da forma mais adequada.
Por estes motivos, a incompetência da Federação Portuguesa de Atletismo foi o acontecimento nacional de 2017 no que se refere à marcha. E seria interessante saber que responsabilidades teriam sido assumidas caso a AIFA não tivesse validado (por incumprimentos administrativos da FPA) o recorde de Inês Henriques ou os mínimos das vintistas alcançados nos nacionais de 4 de Março.