quarta-feira, 1 de abril de 2015

Associação Europeia vai usar drones na marcha

A Associação Europeia de Atletismo (AEA), em articulação com a Associação Internacional de Federações de Atletismo (AIFA), está a desenvolver um projecto experimental com vista à eventual adopção da utilização de aparelhos voadores telecomandados (vulgarmente chamados «drones») para transporte de boletins de ajuizamento em provas de marcha atlética. A componente técnica e científica deste projecto é assegurada pela empresa suíça de engenharia aeronáutica AveoTron, que neste caso se constitui como parceira tecnológica da AEA.

Para o efeito, foi construído um protótipo já experimentado na unidade de testes da empresa, em Gruyères (Suíça). O objectivo do empreendimento é o de criar um sistema de transferência célere de boletins dos juízes de marcha, a fim evitar a circulação de ciclistas ou de patinadores nos circuitos, por vezes estreitos, em que têm lugar as provas oficiais de marcha, sobretudo nas grandes competições internacionais.

Para já, a experiência foi feita com aparelhos de quatro hélices (elevadores, estabilizadores e correctores direccionais), tendo o protótipo recebido já a designação de Marcheur du ciel (ou, abreviadamente, «Duciel»), forma em francês da expressão «marchador do céu». O motor utilizado assenta na utilização de dois pistões de relance, com que se pretendeu dar maior fiabilidade ao aparelho.

Em entrevista telefónica a «O Marchador», um dos responsáveis pelo projecto (que pediu para não ser identificado) garantiu que o estudo está a centrar-se sobretudo na componente de segurança, uma vez que a parte técnica de motorização e carcaça está já resolvida.

«A segurança é para nós, agora, o mais importante», afirmou. «Este aparelho irá servir em locais com possibilidade de presença massiva de pessoas. Tratando-se de provas desportivas, poderão ser zonas muitos povoadas de atletas, treinadores, juízes e sobretudo público a assistir. Isso implica o maior cuidado na utilização dos aparelhos e a necessidade de estabelecer um rigoroso normativo de procedimentos, acompanhado de um processo de formação dos operadores. Em todo o caso, o risco não é grande, uma vez que o 'Duciel' será alimentado por baterias electrolíticas, ou seja, não há o perigo de explosão que existiria se estivéssemos a falar de um motor de combustão.»

Se os testes assim exigirem, o perímetro de giro das pás poderá vir a ser delimitado por gaiolas esféricas de rede larga, que protejam em caso de queda mas não impeçam o normal funcionamento das hélices - e isso, a acontecer, será uma originalidade em matéria de segurança, facto tanto mais importante quanto não se trata aqui de utilização bélica destes aparelhos. Digamos que é uma apropriação de «ideias de guerra» para fins de pacíficos.

Em todo o caso, sabendo-se que existe sempre a possibilidade de uma falha que origine um acidente, a nossa estimativa é de uma probabilidade de queda em cem mil utilizações. Como se tratará de um objecto de pequena dimensão (não mais que 40 cm de envergadura) e de baixo peso (menos de 3 kg), o efeito de um acidente causado por um exemplar do Duciel nunca deverá ser muito mais do que pouco relevante. A própria configuração do aparelho está a ser reformulada, evitando tanto quanto possível a existência de arestas e de vértices (nesta fase ainda falta arredondar a caixa de porão). Com superfícies arredondadas e vários pontos de fractura, o perigo de lesão provocada nas pessoas em caso de queda é reduzido ao mínimo.

«Será pouco mais do que estarmos junto de um pinheiro e cair-nos uma pinha madura na cabeça», afirma o mesmo técnico, procurando dar um exemplo do que poderia ser o efeito da queda de um drone destes num local com pessoas.

«O Marchador» soube, entretanto, que está a ser estudada a possibilidade de substituir as hélices por um sistema com recurso a navegadores por pressão bárica, solução que evitaria o uso de hélices. O inconveniente desta possibilidade seria a quase duplicação do peso do aparelho sem carga, mas sobre este assunto o técnico da AveoTron não quis falar, manifestando estranheza por tal facto ser do nosso conhecimento.

Depois da fase de testes e após a elaboração do relatório técnico final, o projecto do Duciel deverá ser apresentado ao Conselho da AEA em 2016 e, se aprovado, o sistema deverá ser implementado de forma experimental na época desportiva de 2016/2017, prevendo-se para 2018 a adopção definitiva destes drones em provas de marcha realizadas sob a égide da AEA.

Para mais tarde poderá ficar a ponderação sobre o eventual alargamento do uso dos drones a outras especialidades do atletismo bem assim como a universalização do seu uso à globalidade dos países e territórios filiados da AIFA.