Susana Feitor e Inês Henriques vão estar frente a frente na Corunha. Foto: Lusa |
A Federação
Portuguesa de Atletismo decidiu adiar a escolha da terceira atleta a integrar a
selecção nacional para os europeus de Zurique na prova dos 20 km marcha
femininos. A decisão foi divulgada esta quinta-feira, com o anúncio dos
pré-seleccionados para as provas de maratona e de marcha dos campeonatos da
Europa de Atletismo, que vão ter lugar de 12 a 17 de Agosto, naquela cidade
suíça.
No caso da marcha,
estão já pré-seleccionados João e Sérgio Vieira, nos 20 km masculinos, Pedro
Isidro (50 km) e Ana Cabecinha e Vera Santos, nos 20 km femininos. De acordo
com os critérios de selecção estabelecidos e divulgados pela FPA, haveria três
momentos de selecção. Tendo em conta unicamente os 20 km femininos, no primeiro
desses momentos (Campeonatos Nacionais de Marcha em estrada, Quarteira, 1 de
Fevereiro) seria pré-seleccionada a campeã nacional, tendo Ana Cabecinha
reunido as condições exigidas para o efeito (foi ela a vencedora da prova
feminina). No segundo, o Grande Prémio de Rio Maior (5 de Abril), seria
pré-seleccionada uma segunda marchadora, tendo a escolha recaído em Vera
Santos, a melhor posicionada entre as portuguesas nesse dia (de resto,
vencedora). Por fim, num terceiro momento (taça do mundo de Taicang, 3 e 4 de
Maio), seria eleita a terceira componente da equipa, tendo em conta o
desempenho das envolvidas nos dois momentos anteriores.
Neste caso, além das
duas já pré-seleccionadas, restavam, em Taicang, Susana Feitor (17.ª, 1.28.51)
e Inês Henriques (22.ª, 1.29.33). Em Quarteira, Inês tinha sido terceira
(1.32.10) e Susana quarta portuguesa (1.34.03); em Rio Maior, Inês registara
1.32.03 h e Susana desistira.
Afirma a FPA, na nota
de divulgação da decisão, que, «após analisar a prestação das atletas Inês
Henriques (Clube de Natação de Rio Maior) e Susana Feitor (Individual) durante
o período estabelecido nos critérios de seleção, e dada a proximidade de valor
e estado de forma entre as duas atletas mencionadas, decidiu criar mais um
momento de avaliação» (Grande Prémio da Corunha, 31 de Maio). Estabelece ainda
esta nova norma que a vencedora do confronto directo entre as duas atletas será
a terceira pré-selecionada para Zurique.
Como se não bastasse
já a polémica decisão contrária às normas que a própria federação emanara como
critérios de selecção para a Taça do Mundo de Taicang, onde, num processo pouco
transparente, acabaram por ter lugar atletas sem marcas de qualificação (um
ficando perto delas e outro ficando longe), volta agora a FPA a fazer tábua
rasa das suas próprias normas e cria um novo momento de avaliação de duas
atletas, obrigando-as a um confronto directo em Espanha (do género «finalíssima
de desempate» – agora é que é mesmo a valer). A justificação assenta na
proximidade de valor e de estado de forma revelada por Susana Feitor e Inês
Henriques ao longo do período de avaliação.
E aqui surge então a
estranheza, por parecer mais ou menos óbvio que ou era escolhida, entre as duas
em questão, a atleta melhor classificada na taça do mundo (nesse caso, Susana
Feitor, com os seus 42 segundos de avanço e melhor marca do que o recorde
pessoal de Inês) ou então considerava-se que Inês Henriques tinha sido duas
vezes superior a Susana nos três «confrontos» de pré-selecção e optava-se pela
atleta do Clube de Natação de Rio Maior.
Aparentemente, não
haveria outras possibilidades, sendo estas aparentemente claras, mas a
federação assim não entendeu e voltou a mandar às malvas os seus próprios
critérios de selecção, com uma justificação, no mínimo, difícil de entender.
Para além das questões
que a situação levanta sob vários pontos de vista, surge mais uma pergunta: se
42 segundos e cinco lugares de diferença não permitiram fazer uma escolha entre
duas atletas na prova final, com que legitimidade vai alguém proceder à escolha
com base numa prova suplementar em que a diferença entre as duas venha a ser,
por hipótese, mais pequena?
Agora, as atletas não
vão ser lançadas às feras, como no circo de Roma. Vão, sim, lançar-se num duelo
que vai deixar mazelas. Talvez no início da prova seja possível vê-las saudar o
imperador com a velha fórmula «Morituri te salutant!».