segunda-feira, 5 de maio de 2014

Grandes Figuras da Marcha Mundial (6) – Jorge Llopart

Jorge Llopart nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984
recebendo o abastecimento das mãos do pai, Moisès.

Foto: arquivo de Dominique Guebey
A tarde avança no sábado, 2 de Setembro de 1978, penúltimo dia dos XII Campeonatos da Europa de Atletismo, realizados em Praga, na Checoslováquia. É nesta jornada que tem lugar a prova mais longa do programa, os 50 km marcha. A partida fora dada às 16h00 e quase ao cair da noite é o espanhol Jorge Llopart quem entra em primeiro lugar no Estádio Rosicky para concluir a longa marcha dessa tarde e escrever a letras de ouro uma nova página na história no desporto de Espanha. Nesse final de tarde de Setembro, Llopart tornava-se o primeiro atleta espanhol a conquistar uma medalha numa grande competição internacional de atletismo – e logo uma medalha de ouro! Terminou a prova em 3.53.29,9 h, com mais de minuto e meio de avanço sobre o soviético Veniamin Soldatenko (3.55.12,1) e sobre o polaco Jan Ornoch (3.55.15,9), seus companheiros no pódio.

Três dias antes, José Marín, catalão como Llopart, tinha sido quinto nos 20 km, batido apenas por um atleta da RDA e três da URSS, as grandes potências europeias da especialidade na época. Também esse era um grande feito, mas que a medalha de ouro de Jorge Llopart acabava por deixar na sombra.

Nascido em El Prat de Llobregat, junto a Barcelona, a 5 de Maio de 1952, Jordi Llopart Ribas era treinado pelo pai, Moisès Llopart, seu grande mentor no desporto e na vida, e treinador também de outros notáveis marchadores espanhóis, como o já referido José Marín (campeão europeu de 20 km e vice-campeão de 50 km em Atenas-1982; vice-campeão do mundo de 50 km em Helsínquia-1983; medalha de bronze nos 20 km dos mundiais de Roma-1987) e Daniel Plaza (campeão olímpico de 20 km em Barcelona-1992, então já treinado por Llopart, filho).

Empenhado em progredir como especialista de marcha atlética, Jorge Llopart apresentou-se na capital checa proveniente de um estágio de altitude com os melhores marchadores mexicanos, sob orientação do consagradíssimo treinador Jerzy Hausleber. Em Praga, Llopart teve a prova em controlo permanente, vindo a dez quilómetros do fim a desferir o ataque decisivo. Livrando-se da companhia de Soldatenko, que era o principal favorito, o marchador catalão ficou sozinho na frente com o italiano Sandro Bellucci.

Nos quilómetros finais, foi o transalpino quem cedeu, com Jorge Llopart a caminhar isolado e inalcançável para a meta. A marca final (3.53.29,9) representava um corte de mais de oito minutos no recorde pessoal (4.01.37), sendo ao mesmo tempo a primeira marca do atleta abaixo das quatro horas e a demonstração do acerto na aposta no treino e altitude com a selecção mexicana.

Mas a evolução do marchador catalão não ficaria por aqui. No ano seguinte, a 26 de Agosto de 1979, Llopart registaria em Reus, na Catalunha, aquela que iria ficar como a sua melhor marca de sempre nos 50 km: 3.44.33 h Também nesse ano, a 8 de Abril, tinha marcado 2.08.39,0 h nos 30 km, igualmente uma marca que não mais superaria. Faltava a estreia olímpica.

No ano seguinte, 1980, iriam ter lugar em Moscovo os Jogos da XXII Olimpíada, nos quais o Comité Olímpico Espanhol decidiu participar, não alinhando no boicote assumido por vários países ocidentais. Uma opção que permitiu a Jorge Llopart voltar a brilhar e reforçar a sua posição como um dos melhores marchadores do mundo. Competindo na capital soviética de novo na prova dos 50 km, Llopart alcançaria o segundo lugar e a correspondente medalha de prata, também ela a primeira medalha olímpica do atletismo espanhol.

A marca (3.51.25) ficava distante do recorde pessoal, mas era melhor que a de Praga e foi superada naquele dia apenas pela do alemão-democrático Hartwig Gauder, vencedor com 3.49.24 h.

Jorge Llopart voltaria aos Jogos Olímpicos nas duas edições seguintes. Em Los Angeles (1984), concluiu os 50 km no sétimo posto (4.03.09), imediatamente à frente do português José Pinto, numa prova vencida pelo mexicano Raúl González (3.47.26). Em Seul (1988), de novo em 50 km, a melhor marca que realizou em Jogos Olímpicos correspondeu à pior classificação – seria 13.º, com 3.48.09 h, numa prova ganha pelo soviético Viacheslav Ivanenko (3.38.29).

Entretanto, em 1982 esteve nos Europeus de Atenas a defender o título conquistado em Praga, terminando a distância longa no sexto lugar (4.08.28), numa edição em que viu o colega José Marín sagrar-se, por sua vez, campeão da Europa dos 20 km. A última presença em campeonatos europeus teve lugar em 1986, na cidade alemã de Estugarda, onde alcançou o nono lugar nos 50 km (3.52.12).

Com a carreira competitiva a desenvolver-se ao mais alto nível entre o final dos anos 70 e o início dos anos 90, Jorge Llopart viu nascerem os campeonatos do mundo de atletismo. A modalidade fazia parte do programa olímpico desde a primeira edição dos Jogos, em 1896, com a marcha a fazer a estreia olímpica em Londres-1908. Por sua vez, os campeonatos da Europa de atletismo tinham tido a primeira edição no já longínquo ano de 1934, quando Turim assistiu a um programa de provas que já incluiu a marcha, através da prova única dos 50 km. No entanto, fora do encontro olímpico quadrienal, o mundo do atletismo não tinha um campeonato regular de pista em que fosse possível atribuir títulos. Os mundiais de atletismo iriam surgir em 1983, com a primeira edição celebrada em Helsínquia, na Finlândia.

Llopart foi um dos participantes nas provas de marcha, alinhando nas duas distâncias e iniciando também aqui uma série de três presenças que, ao contrário do que sucedera nos europeus e nos Jogos Olímpicos, nunca resultaram em desempenhos muito felizes. Neste primeiro caso, a estreia saldou-se por um 28.º lugar nos 20 km (1.27.49) e por uma desistência nos 50 km, a que se sucederam a desclassificação nos mundiais de Roma (1987) e o 17.º lugar nos mundiais de Tóquio de 1991 (4.16.36).

Terminada a actividade competitiva ao mais alto nível, Jorge Llopart seguiu as pisadas do pai e tornou-se dirigente e treinador de marcha. Entre 2009 e 2012 viveu no México, onde desenvolveu colaboração com a Comissão Nacional de Educação Física e Desporto. Nas listas nacionais de Espanha, Llopart permanece como o sétimo melhor de sempre nos 50 km, graças ao recorde pessoal estabelecido em Reus, em 1979 (3.44.33).

Currículo
Nome: Jordi Llopart Ribas
Naturalidade: El Prat de Llobregat (Espanha)
Data de nascimento: 5/5/1952

“Palmarès”
1978: campeão de Espanha de 50 km pela primeira vez (Reus, 4.01.37)
1978: campeão da Europa de 50 km (Praga, 3.53.29,9)
1979: campeão de Espanha de 50 km (Reus, 3.50.02,8)
1979: estabelece o recorde pessoal dos 30 km (Barcelona, 2.08.39,0)
1979: estabelece o recorde pessoal dos 50 km (Reus, 3.44.33)
1980: medalha de prata nos 50 km dos Jogos Olímpicos de Moscovo (3.51.25)
1982: 6.º nos 50 km dos europeus de Atenas (4.08.28)
1983: 4.º nos 50 km da Taça do Mundo de Marcha (Bergen, Noruega)
1983: 28.º nos 20 km dos mundiais de Helsínquia (1.27.49)
1983: estabelece o recorde pessoal dos 20 km (Helsínquia, 1.27.49)
1984: 7.º nos 50 km dos Jogos Olímpicos de Los Angeles (4.03.09)
1985: campeão de Espanha de 50 km (Amposta, 3.52.28)
1985: 8.º nos 50 km da Taça do Mundo de Marcha (St. John's, Ilha de Man)
1986: campeão de Espanha de 50 km (Madrid, 3.50.26)
1986: 9.º nos 50 km dos europeus de Estugarda (3.52.12)
1987: campeão de Espanha de 50 km (Viladecáns, 3.50.48)
1987: 14.º nos 50 km da Taça do Mundo de Marcha (Nova Iorque, EUA)
1988: 13.º nos 50 km dos Jogos Olímpicos de Seul (3.48.09)
1989: campeão de Espanha de 50 km (Murcia, 4.06.18)
1990: campeão de Espanha de 50 km (Madrid, 3.50.05)
1991: campeão de Espanha de 50 km (Valência, 3.54.00)
1991: 17.º nos 50 km dos mundiais de Tóquio (4.16.36)