Jorge Llopart nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984 recebendo o abastecimento das mãos do pai, Moisès. Foto: arquivo de Dominique Guebey |
A tarde avança no
sábado, 2 de Setembro de 1978, penúltimo dia dos XII Campeonatos da Europa de
Atletismo, realizados em Praga, na Checoslováquia. É nesta jornada que tem
lugar a prova mais longa do programa, os 50 km marcha. A partida fora dada às
16h00 e quase ao cair da noite é o espanhol Jorge Llopart quem entra em
primeiro lugar no Estádio Rosicky para concluir a longa marcha dessa tarde e
escrever a letras de ouro uma nova página na história no desporto de Espanha.
Nesse final de tarde de Setembro, Llopart tornava-se o primeiro atleta espanhol
a conquistar uma medalha numa grande competição internacional de atletismo – e
logo uma medalha de ouro! Terminou a prova em 3.53.29,9 h, com mais de minuto e
meio de avanço sobre o soviético Veniamin Soldatenko (3.55.12,1) e sobre o
polaco Jan Ornoch (3.55.15,9), seus companheiros no pódio.
Três dias antes, José
Marín, catalão como Llopart, tinha sido quinto nos 20 km, batido apenas por um
atleta da RDA e três da URSS, as grandes potências europeias da especialidade
na época. Também esse era um grande feito, mas que a medalha de ouro de Jorge
Llopart acabava por deixar na sombra.
Nascido em El Prat de
Llobregat, junto a Barcelona, a 5 de Maio de 1952, Jordi Llopart Ribas era
treinado pelo pai, Moisès Llopart, seu grande mentor no desporto e na vida, e
treinador também de outros notáveis marchadores espanhóis, como o já referido
José Marín (campeão europeu de 20 km e vice-campeão de 50 km em Atenas-1982;
vice-campeão do mundo de 50 km em Helsínquia-1983; medalha de bronze nos 20 km
dos mundiais de Roma-1987) e Daniel Plaza (campeão olímpico de 20 km em
Barcelona-1992, então já treinado por Llopart, filho).
Empenhado em
progredir como especialista de marcha atlética, Jorge Llopart apresentou-se na
capital checa proveniente de um estágio de altitude com os melhores marchadores
mexicanos, sob orientação do consagradíssimo treinador Jerzy Hausleber. Em
Praga, Llopart teve a prova em controlo permanente, vindo a dez quilómetros do
fim a desferir o ataque decisivo. Livrando-se da companhia de Soldatenko, que
era o principal favorito, o marchador catalão ficou sozinho na frente com o
italiano Sandro Bellucci.
Nos quilómetros
finais, foi o transalpino quem cedeu, com Jorge Llopart a caminhar isolado e
inalcançável para a meta. A marca final (3.53.29,9) representava um corte de
mais de oito minutos no recorde pessoal (4.01.37), sendo ao mesmo tempo a
primeira marca do atleta abaixo das quatro horas e a demonstração do acerto na
aposta no treino e altitude com a selecção mexicana.
Mas a evolução do
marchador catalão não ficaria por aqui. No ano seguinte, a 26 de Agosto de
1979, Llopart registaria em Reus, na Catalunha, aquela que iria ficar como a
sua melhor marca de sempre nos 50 km: 3.44.33 h Também nesse ano, a 8 de Abril,
tinha marcado 2.08.39,0 h nos 30 km, igualmente uma marca que não mais
superaria. Faltava a estreia olímpica.
No ano seguinte,
1980, iriam ter lugar em Moscovo os Jogos da XXII Olimpíada, nos quais o Comité
Olímpico Espanhol decidiu participar, não alinhando no boicote assumido por
vários países ocidentais. Uma opção que permitiu a Jorge Llopart voltar a
brilhar e reforçar a sua posição como um dos melhores marchadores do mundo.
Competindo na capital soviética de novo na prova dos 50 km, Llopart alcançaria
o segundo lugar e a correspondente medalha de prata, também ela a primeira
medalha olímpica do atletismo espanhol.
A marca (3.51.25)
ficava distante do recorde pessoal, mas era melhor que a de Praga e foi
superada naquele dia apenas pela do alemão-democrático Hartwig Gauder, vencedor
com 3.49.24 h.
Jorge Llopart
voltaria aos Jogos Olímpicos nas duas edições seguintes. Em Los Angeles (1984),
concluiu os 50 km no sétimo posto (4.03.09), imediatamente à frente do
português José Pinto, numa prova vencida pelo mexicano Raúl González (3.47.26).
Em Seul (1988), de novo em 50 km, a melhor marca que realizou em Jogos
Olímpicos correspondeu à pior classificação – seria 13.º, com 3.48.09 h, numa
prova ganha pelo soviético Viacheslav Ivanenko (3.38.29).
Entretanto, em 1982
esteve nos Europeus de Atenas a defender o título conquistado em Praga,
terminando a distância longa no sexto lugar (4.08.28), numa edição em que viu o
colega José Marín sagrar-se, por sua vez, campeão da Europa dos 20 km. A última
presença em campeonatos europeus teve lugar em 1986, na cidade alemã de
Estugarda, onde alcançou o nono lugar nos 50 km (3.52.12).
Com a carreira
competitiva a desenvolver-se ao mais alto nível entre o final dos anos 70 e o
início dos anos 90, Jorge Llopart viu nascerem os campeonatos do mundo de
atletismo. A modalidade fazia parte do programa olímpico desde a primeira
edição dos Jogos, em 1896, com a marcha a fazer a estreia olímpica em
Londres-1908. Por sua vez, os campeonatos da Europa de atletismo tinham tido a
primeira edição no já longínquo ano de 1934, quando Turim assistiu a um
programa de provas que já incluiu a marcha, através da prova única dos 50 km.
No entanto, fora do encontro olímpico quadrienal, o mundo do atletismo não
tinha um campeonato regular de pista em que fosse possível atribuir títulos. Os mundiais
de atletismo iriam surgir em 1983, com a primeira edição celebrada em
Helsínquia, na Finlândia.
Llopart foi um dos
participantes nas provas de marcha, alinhando nas duas distâncias e iniciando
também aqui uma série de três presenças que, ao contrário do que sucedera nos
europeus e nos Jogos Olímpicos, nunca resultaram em desempenhos muito felizes.
Neste primeiro caso, a estreia saldou-se por um 28.º lugar nos 20 km (1.27.49)
e por uma desistência nos 50 km, a que se sucederam a desclassificação nos
mundiais de Roma (1987) e o 17.º lugar nos mundiais de Tóquio de 1991
(4.16.36).
Terminada a
actividade competitiva ao mais alto nível, Jorge Llopart seguiu as pisadas do
pai e tornou-se dirigente e treinador de marcha. Entre 2009 e 2012 viveu no
México, onde desenvolveu colaboração com a Comissão Nacional de Educação Física
e Desporto. Nas listas nacionais de Espanha, Llopart permanece como o sétimo
melhor de sempre nos 50 km, graças ao recorde pessoal estabelecido em Reus, em
1979 (3.44.33).
Currículo
Nome: Jordi Llopart
Ribas
Naturalidade: El Prat
de Llobregat (Espanha)
Data de nascimento:
5/5/1952
“Palmarès”
1978: campeão de
Espanha de 50 km pela primeira vez (Reus, 4.01.37)
1978: campeão da
Europa de 50 km (Praga, 3.53.29,9)
1979: campeão de
Espanha de 50 km (Reus, 3.50.02,8)
1979: estabelece o
recorde pessoal dos 30 km (Barcelona, 2.08.39,0)
1979: estabelece o
recorde pessoal dos 50 km (Reus, 3.44.33)
1980: medalha de
prata nos 50 km dos Jogos Olímpicos de Moscovo (3.51.25)
1982: 6.º nos 50 km
dos europeus de Atenas (4.08.28)
1983: 4.º nos 50 km
da Taça do Mundo de Marcha (Bergen, Noruega)
1983: 28.º nos 20 km
dos mundiais de Helsínquia (1.27.49)
1983: estabelece o
recorde pessoal dos 20 km (Helsínquia, 1.27.49)
1984: 7.º nos 50 km
dos Jogos Olímpicos de Los Angeles (4.03.09)
1985: campeão de
Espanha de 50 km (Amposta, 3.52.28)
1985: 8.º nos 50 km
da Taça do Mundo de Marcha (St. John's, Ilha de Man)
1986: campeão de
Espanha de 50 km (Madrid, 3.50.26)
1986: 9.º nos 50 km
dos europeus de Estugarda (3.52.12)
1987: campeão de Espanha
de 50 km (Viladecáns, 3.50.48)
1987: 14.º nos 50 km
da Taça do Mundo de Marcha (Nova Iorque, EUA)
1988: 13.º nos 50 km
dos Jogos Olímpicos de Seul (3.48.09)
1989: campeão de
Espanha de 50 km (Murcia, 4.06.18)
1990: campeão de
Espanha de 50 km (Madrid, 3.50.05)
1991: campeão de
Espanha de 50 km (Valência, 3.54.00)
1991: 17.º nos 50 km
dos mundiais de Tóquio (4.16.36)