Pormenor da primeira página de «Os Sports» de 11/4/1938. |
Provavelmente,
Portugal nunca conheceu em publicações de âmbito nacional uma reportagem
jornalística sobre uma prova de marcha como a que «Os Sports» dedicaram em 11
Abril de 1938 à prova que o próprio jornal levara a efeito na véspera, em
Lisboa, integrada nas comemorações do 20.º aniversário do título. No dia em que
o jornal passava de bissemanário a trissemanário, o destaque da capa foi para a
vitória de Alberto de Sousa na marcha de 25 quilómetros que «Os Sports» tinham
publicitado durante quase dois meses. Ao nome do atleta posto no título e ao
início do texto juntavam-se nessa capa nada menos que seis fotografias de
diversos momentos da prova, numa reportagem que tinha depois continuidade numa
página interior.
Entre mais
de quatrocentos inscritos, Alberto de Sousa, do Raio Lisboa Clube, triunfou com
2.37.51 h, tempo de que precisou para cumprir o percurso iniciado na Praça do
Comércio e terminado no Parque Mayer, depois de passagens por Cais do Sodré,
Pedrouços, Algés, Linda-a-Velha, Carnaxide, Estrada de Queluz, Calhariz de
Benfica, Jardim Zoológico, São Sebastião da Pedreira, Praça Marquês de Pombal e
Avenida da Liberdade.
O relato da
prova revela que o domínio inicial coube a Manuel Guerreiro, atleta do Secil
Clube de Outão (Setúbal) que, «em excelente estilo» se isolou ao fim de poucos
quilómetros. Em Algés, Linda-a-Velha e Carnaxide, o seu avanço tinha
estabilizado à volta de um minuto e 50 segundos. Iria manter-se na frente,
isolado, até à passagem por São Domingos de Benfica (perto dos 20 km). Segundo
o repórter, foi nessa altura que teve de ceder, depois de um esforço mal
doseado e de os sapatos terem começado a magoar.
Era o
momento em que Alberto de Sousa se adiantava, com o seu companheiro de muitos
quilómetros, Ernesto Freitas, após ultrapassarem Manuel Guerreiro. A luta foi
animada até perto do fim, sendo a vitória decidida no último quilómetro, com o
ataque final de Sousa.
Concluindo
uma prova em que os participantes tiveram sempre a companhia de numerosos
ciclistas, além de automobilistas e motociclistas, Alberto de Sousa fez os
metros finais em apoteose, sendo recebido no Parque Mayer pelo aplauso de
centenas de espectadores, que, em traje formal de dia de festa, formaram alas
para ver os marchadores.
A reportagem
de «Os Sports» conclui-se com a publicação da extensa classificação final,
englobando 219 atletas. Entre os participantes estavam nomes que à época eram
já conhecidos da actividade atlética, ainda que, evidentemente, de disciplinas
que não a marcha. Eram os casos do «sportinguista Joaquim Alvarez, que obteve
um bom sexto lugar, fazendo um final de prova magnífico; Manuel Pereira (8.º),
que representou o Grémio do Alto do Pina; Josefino Nunes (12.º), antigo
corredor belenense e que ontem representou o Grémio Caramujo; Matos Henriques,
já 'recordman' dos 1.500 metros, etc.»
Como
curiosidade, aqui fica a lista classificativa dos dez primeiros:
1.º, Alberto Sousa, 2.37.51 h
2.º, Ernesto Freitas, 2.38.18 h
3.º, Armando Gonçalves, 2.38.28 h
4.º, Manuel Guerreiro, 2.39.04 h
5.º, José da Silva, 2.39.31 h
6.º, Joaquim Alvarez, 2.40.26 h
7.º, Joaquim Carvalho, 2.41.50 h
8.º, Manuel Pereira, 2.41.59 h
9.º, Joaquim Tavares, 2.42.30 h
10.º, António Henriques, 2.42.35 h
4.º, Manuel Guerreiro, 2.39.04 h
5.º, José da Silva, 2.39.31 h
6.º, Joaquim Alvarez, 2.40.26 h
7.º, Joaquim Carvalho, 2.41.50 h
8.º, Manuel Pereira, 2.41.59 h
9.º, Joaquim Tavares, 2.42.30 h
10.º, António Henriques, 2.42.35 h
Apesar de
ordenar os 219 atletas chegados, a classificação revela os tempos realizados
apenas até ao 42.º lugar, obtido por Manuel Ribeiro, com 2.52.15 h.
Nas duas
edições seguintes, o jornal iria fazer um balanço da prova em forma de reflexão
e publicar uma nota biográfica sobre o vencedor, a que juntou uma nota sobre a
festa feita na terra natal de Alberto de Sousa, o Bombarral.