Alertado pelo jornalista e atleta
Cipriano Lucas para a realização de uma prova de marcha em Lisboa em Abril de
1938, o blogue «O Marchador» publicou em 21 de Novembro de 2012 uma peça sobre
essa competição pouco conhecida. Corrigindo desde já a data dessa prova, que
não foi a 11 de Abril de 1938 (como erradamente se mencionou na referida peça)
mas um dia antes, cabe agora fazer um apanhado mais desenvolvido sobre o grande
impacte que a prova teve à época.
O impulso organizativo pertenceu à
equipa do jornal «Os Sports», um bissemanário desportivo publicado em Lisboa às
segundas e sextas, que levava já 19 anos de existência e iria passar a
trissemanário (2.ª, 4.ª e 6.ª) precisamente no dia em que publicou a reportagem
da prova. E «Os Sports» não se fizeram rogados na publicitação do evento, que
serviu de promoção tanto da marcha como do próprio jornal, organizador regular
de provas e torneios de diferentes modalidades em seu próprio nome. Para o
efeito não se furtou mesmo a usar as páginas mais nobres do jornal (primeira e
última) para a divulgação da prova, iniciada na capa da edição de 18 de
Fevereiro, quase dois meses antes da data marcada para o encontro dos atletas.
O acontecimento era anunciado como sendo
«o renascimento da marcha», expressão tantas vezes usada nos anúncios ao longo
daquelas semanas que acabou quase tomada como designação oficiosa do evento. E
para atrair mais ainda a atenção dos leitores e o interesse dos potenciais
atletas, evocava-se os nomes de alguns dos melhores marchadores portugueses
conhecidos até então, como Djalme Bastos, vencedor da primeira prova de marcha
integrada nos Jogos Olímpicos Nacionais, organizados de 1910 a 1913 pela
Sociedade Promotora da Educação Física Nacional, entidade que constituiu a
origem remota do comité olímpico.
Pelo interesse histórico, transcreve-se
de seguida o texto com que, em 18 de Fevereiro de 1938, «Os Sports» iniciaram a
divulgação da prova. Em próximos «posts», o blogue «O Marchador» desenvolverá
este tema, até ao relato da competição, ao desenvolvimento posterior que o
jornal lhe concedeu e à referência a outras três provas surgidas nas semanas
seguintes, por inspiração nestes 25 km de 10 de Abril de 1938.
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O renascimento da
marcha
Uma prova de marcha
A marcha é uma
especialidade que entre nós tem estado abandonada. Pois vamos reanimá-la!
Tempos houve em que a
marcha fazia parte dos nossos programas oficiais e tinha fervorosos cultores,
entre os quais podem recordar-se Djalme Bastos, Ilídio Costa, Deodoro Ferreira,
etc.
Depois esqueceu — e as
causas desse esquecimento não interessam.
No entanto em todos os
países em que o atletismo está desenvolvido, e especialmente na Inglaterra,
Suécia, Suíça, França e Itália, a marcha continua sendo uma das mais apreciadas
modalidades atléticas, figurando, mesmo, nos programas olímpicos.
Algumas provas de
marcha adquiriram grande fama, podendo citar-se a de Paris-Estrasburgo, uma das
mais formidáveis competições de todo o Mundo.
Entendemos que o
renascimento de tão interessante modalidade constitue uma necessidade do nosso
atletismo, e por isso nos dispusemos a organizar uma prova de marcha,
despertando, assim, o gosto por um exercício excelente entre os melhores.
A distância dessa
prova será de 25 quilómetros, num traçado que em breve será escolhido e a data
da realização está marcada para 10 de Abril.