quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Associação Europeia de Atletismo em convenção anual

A Associação Europeia de Atletismo vai realizar de 14 a 16 de Outubro de 2010, em Belgrado, na Sérvia, a sua convenção anual na qual se estabelecerá o calendário de competições para 2011.
Serão conhecidas as provas de marcha que farão parte do circuito europeu e é expectável que Dudince (Eslováquia), Lugano (Suíça) e Podebrady (República Checa), regiões com grande tradição na especialidade, a integrem de novo.
A convenção iniciar-se-á no dia 14 com a reunião do Conselho da Associação Europeia. Seguir-se-á, no dia 15, a reunião na qual se estabelecerá o calendário de provas. No dia 16, ocorrerá o jantar final no qual se distribuirão os prémios “Inovação 2010”.
No evento estará presente Jorge Salcedo, secretário-geral da Federação Portuguesa de Atletismo e membro do Conselho da Associação Europeia de Atletismo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

José Eduardo Pinho orienta acção de formação em Aveiro

O treinador e formador de marcha atlética José Eduardo Pinho vai orientar, na manhã de 17 de Outubro, uma acção de formação para marchadores iniciados e juvenis do distrito de Aveiro. A iniciativa terá lugar na pista da Universidade de Aveiro, sendo aberta aos técnicos dos atletas e a qualquer treinador da área da Associação de Atletismo de Aveiro (AAA).

A sessão constará de um diagnóstico técnico e de preparação física geral, fazendo parte de um programa de formação da AAA que pode ser consultado aqui.

Pode igualmente consultar a lista de atletas convidados.

A 5 de Outubro, José Eduardo Pinho enquadrou em Seia a componente de marcha atlética de uma concentração de atletas iniciados, juvenis e juniores da Beira Interior organizada pelo Centro de Formação de Atletismo das Beiras. Entretanto, dia 10, na Covilhã, foi o prelector sobre marcha no curso de treinadores de Grau 1 que o mesmo centro de formação tem vindo a realizar em fins-de-semana.

Listas nacionais do ano nos 20 e 50 km Marcha

João Vieira e Vera Santos, nos 20 km em estrada, António Pereira, nos 50 km em estrada, e Pedro Isidro (na foto), nos 20.000 metros em pista, lideraram as listas nacionais do ano com a particularidade de todos eles terem obtido os melhores resultados da época em competições realizadas no estrangeiro.
João Vieira (1.20.49), nos Europeus de Atletismo, em Barcelona (Espanha), em prova de muito boa memória para as cores nacionais, Vera Santos (1.28.29), em Milão (Itália), em prova integrada no challenge da AIFA que venceu, António Pereira (3.55.41), no tradicional encontro internacional de Dudince (Eslováquia), e Pedro Isidro (1.25.54,7), com um excelente terceiro lugar nos Ibero-americanos realizados em San Fernando (Espanha).
De notar, no sector feminino, a excelência, no plano internacional, das nossas marchadoras Vera Santos, Inês Henriques, Susana Feitor e Ana Cabecinha, componentes da selecção nacional que é, no momento actual, uma das melhores do mundo.
Contudo, deverá ser motivo de reflexão o facto de, pelo terceiro ano consecutivo, não chegar a dez o número de atletas que concluíram a distância dos vinte quilómetros femininos.  
Este blogue disponibiliza na secção “Estatística” as listas completas do ano nas provas referidas.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Peruanas e colombiano dominam sul-americanos de juvenis

Na prova de abertura dos XX Campeonatos Sul-americanos de Juvenis (atletas com idades até 17 anos), que se realizaram no último fim-de-semana (9 e 10 de Outubro) na nova pista do Estádio Nacional de Santiago do Chile, a jovem marchadora peruana Yuli Capcha Coronación sagrou-se campeã na prova dos 5000 metros.

Yuli venceu destacadamente a competição e bateu o recorde sul-americano da categoria, com o tempo de 22.33,63 m, superando o anterior máximo que pertencia à equatoriana Miriam Ramón (22.51,10), desde 1990, curiosamente na mesma prova (Plovdiv) em que Susana Feitor se sagrou campeã mundial de juniores.

A medalha de prata foi para a sua compatriota Kimberly García León (23.25,76) e a de bronze para Karin Bustos, do Equador (23.52,55).

Nos 10.000 metros marcha masculinos, realizados no domingo, o grande destaque vai para a extraordinária marca do colombiano Eider Arevalo, que com 40.27,95 m arrecadou o título com uma vantagem de mais de seis minutos sobre o segundo classificado, Marco Rodríguez (47.00,84), da Bolívia. A medalha de bronze foi para Sérgio Carrillo Zegarra (47.36,92), do Peru, país que alcançou metade das medalhas atribuídas nas provas de marcha.

O recorde sul-americano da distância cifra-se em 40.14,50 m e está na posse do campeão olímpico Jefferson Pérez, do Equador, desde 1990.

Mundiais de Atletismo de 2011 já têm programa

Na sequência da reunião do Conselho da AIFA realizada em Kiev, em Agosto passado, foi divulgado o programa de provas dos 13ºs Campeonatos Mundiais de Atletismo, a realizar em Daegu, Coreia do Sul, de 27 de Agosto a 4 de Setembro de 2011. Os 20 km marcha masculinos terão lugar às 9h00 de 28/8 (um domingo), os 20 km femininos realizam-se à mesma hora de 31/8 (uma quarta-feira) e os 50 km masculinos iniciam-se às 8h00 de 3/9 (um sábado).
Todas as provas serão realizadas integralmente num circuito em estrada, delineado numa das principais artérias da cidade e com um perímetro de dois quilómetros.
A AIFA já divulgara os mínimos «A» e «B»: nos 50 km, 3.58.00 e 4.09.00; nos 20 km masc., 1.22.30 e 1.24.00; e nos 20 km fem., 1.33.30 e 1.38.00.
Note-se que o país anfitrião está num fuso horário oito horas mais avançado que o de Portugal continental.

domingo, 10 de outubro de 2010

Trotski vence memorial na Bielorrússia

Ivan Trotski venceu os 20 km masculinos do 19.º Memorial Internacional Pyotr Pochenchuk, realizado a 2 de Outubro, em Grodno, cidade da Bielorrússia junto à fronteira com a Lituânia. Registando 1.23.45 h, Trotski impôs-se a Andrey Talashko (1.23.59) e a Aliaksandr Liakhovich (1.26.26), que completaram o pódio, ocupado integralmente por atletas do Centro Nacional de Preparação Olímpica da Bielorrússia.

Nas senhoras, Anna Drabenya (Minsk, 47.42) superiorizou-se nos 10 km a Nadezhda Dorozhuk (Grodno, 48.24).

Com 130 marchadores a participarem nas provas dos diversos escalões na Praça Soviética, foi curioso o facto de nas competições para veteranos (1 km) terem tomado parte grandes figuras da marcha do passado recente, como Viktor Ginko (4.26), Andrey Makarov (4.36), Yevgeniy Misyulya (4.47), Larissa Khmelnitskaya (5.09) e Valentina Tsybulskaya (5.52).

Como se percebe pelo nome, este torneio anualmente realizado em Grodno homenageia um filho da terra, o marchador Pyotr Pochenchuk, vice-campeão olímpico dos 20 km nos Jogos de 1980, em Moscovo, e também segundo classificado nos Campeonatos da Europa de Atletismo de 1978, em Praga.

sábado, 9 de outubro de 2010

Tallent e Jackson triunfam na Commonwealth

O australiano Jared Tallent e a inglesa Jo Jackson venceram este sábado, em Nova Deli (Índia), as provas de marcha (20 km) dos XIX Jogos da Comunidade Britânica, que decorrem até 14 de Outubro. Tallent cumpriu a distância em 1.22.18 h, numa prova em que esteve sempre acompanhado do compatriota Luke Adams (2.º, 1.22.31), de quem se isolou a dois quilómetros do fim. Com alguma surpresa, a medalha de bronze foi conquistada pelo indiano Harminder Singh, com um novo máximo pessoal de 1.23.27 h, que lhe permitiu superiorizar-se a outros participantes mais credenciados.

No sector feminino, Johanna Jackson, de Inglaterra, impôs-se a toda a concorrência e terminou com 1.34.22 h, bem à frente da australiana Claire Tallent (1.36.55), mulher do vencedor masculino, e da queniana Grace Wanjiru (1.37.49). Depois das vitórias sucessivas de Kerry Saxby (1990 e 1994) e de Jane Saville (1998, 2002 e 2006), Jo Jackson tornou-se a primeira não australiana a vencer a marcha feminina nuns Jogos da Comunidade Britânica que, nesta edição, tiveram ainda a particularidade de premiar Luke Adams pela terceira vez consecutiva com prata.

Calendário do Challenge de Marcha da AIFA para 2011

A Federação Internacional de Atletismo anunciou já as datas definitivas das provas que integram a edição de 2011 do Challenge de Marcha: 5 de Março, Chihuahua (México); 9 de Abril, Rio Maior; 24 de Abril, Taicang (China); 1 de Maio, Sesto San Giovanni, Milão (Itália); 27 de Agosto a 4 de Setembro, Campeonatos Mundiais de Atletismo (Daegu, Coreia do Sul); 18 de Setembro, Final do Challenge (Corunha, Espanha).

É a seguinte a lista de vencedores do Challenge, que se disputa desde 2003: em masculinos, Robert Korzeniowski (Polónia, 2003 e 2004), Francisco Fernández (Espanha, 2005 e 2006), Luke Adams (Austrália, 2007), Jared Tallent (Austrália, 2008), Eder Sánchez (México, 2009) e Wang Zhen (China, 2010). Em femininos, Gillian O’Sullivan (Irlanda, 2003), Elisa Rigaudo (Itália, 2004), Ryta Turava (Bielorrússia, 2005 e 2007), Claudia Stef (Roménia, 2006), Kjersti Platzer (Noruega, 2008 e 2009) e Liu Hong (China, 2010).

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Marchadores de olhos postos na Índia

Apesar de terem estado em risco de anulação, começaram este domingo, em Nova Deli (Índia), e prolongam-se até 14 de Outubro, os XIX Jogos da Comunidade Britânica, evento multidesportivo que integra no programa duas provas de marcha atlética, ambas de 20 km.

Na competição masculina estão inscritos 16 atletas de seis países (Austrália, Canadá, Índia, Inglaterra, Malásia e Quénia), enquanto a prova feminina vai reunir 10 atletas de quatro países (Austrália, Índia, Inglaterra e Quénia). As provas de marcha terão lugar dia 9 de Outubro.

De entre todos, antevê-se a superioridade dos atletas australianos: Jared Tallent e Luke Adams nos masculinos; Claire Tallent e Cheryl Webb nos femininos. No entanto, alguma curiosidade rodeia a participação da melhor inglesa da actualidade, Johanna Jackson (à beira de baixar 1.30.00 h), e dos quenianos David Kimutai Rotich e Grace Wanjiru Njue, que em Julho saíram medalhados dos Campeonatos Africanos de Atletismo, em Nairobi: ele, com com prata e a melhor marca pessoal da época (1.21.07); ela, com ouro e um novo recorde africano de 1.34.19 h.

Recorde-se que em meados de 2007 a organização manifestou a intenção de excluir a marcha do programa dos Jogos, alegando que os problemas de tráfego urbano trariam grandes dificuldades à escolha de um local onde pudesse ser definido o percurso das provas da disciplina. Curiosamente, nenhum problema foi levantado em relação às maratonas, que, como se sabe, utilizam igualmente a rede viária para a sua realização.

No entanto, a pressão do Comité Olímpico Internacional, sob cuja égide estes Jogos são realizados, e da AIFA, que superintende a organização do torneio de atletismo, acabaram por fazer imperar a sensatez, sendo a marcha mantida no programa, ainda que sem a tradicional prova longa (50 km).

Nos últimos meses, a organização indiana viu avolumarem-se as dificuldades em gerir o processo organizativo, tendo o próprio Governo sido chamado a intervir no sentido de garantir a realização do certame. Tão má impressão deixou o comité organizador que o seu presidente, Suresh Kalmadi, recebeu uma monumental vaia durante a alocução durante a cerimónia de abertura. Talvez esse facto tenha estado na base de mais um «deslize» seu, desta vez na conferência de imprensa após a abertura dos Jogos, ao agradecer a presença da princesa Diana, que como é sabido morreu em 1997, para de seguida corrigir, dirigindo o agradecimento ao príncipe Carlos e à duquesa Camila.

De resto, a cerimónia de abertura, no Estádio Jawaharlal Nehru, foi palco de um primeiro grande momento, quando o mesmo público saudou de forma efusiva a entrada da delegação do Paquistão, o vizinho com o qual a Índia mantém de há muito uma relação política de grande tensão.

Resta esperar que o mesmo desportivismo impere nas competições, nuns Jogos que nasceram tortos mas ainda podem ficar para a história pelos melhores motivos.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nymark vence nos campeonatos escandinavos

O norueguês Trond Nymark venceu em Bergen, a 25 de Setembro, os Campeonatos Escandinavos de Marcha, impondo-se com 3.54.22 h ao sueco Christer Svensson (4.25.26) e obtendo a única marca de relevo do torneio.

Nos 20 km femininos, a primeira foi a norueguesa Merete Helgheim, com 1.52.20 h, à frente da dinamarquesa Josefine Klausen, com 1.57.19 h.

Por curiosidade, a prova teve como juiz de partida uma figura consagrada da década de 80, Erling Andersen, o maior expoente da marcha noruegesa até ao surgimento da geração actual de Kjersti Platzer e Trond Nymark.

Cédric Houssaye ganha campeonato de França de 50 km


O novo campeão de França tem como melhor marca pessoal nos 50 km 3.56.43 h, registada em 2008, quando representava o Olympique de Marseille. Nesse mesmo ano averbou também o seu melhor resultado nos 20 km: 1.23.52 h.

Cédric Houssaye conquistou domingo o título de campeão de França dos 50 km marcha, registando 3.58.51 h, numa prova ganha pelo finlandês Jarkko Kinnunen (3.57.18, extracampeonato). A competição, realizada em Bar-le-Duc, não contou com a presença do campeão europeu da distância, Yohann Diniz, colega de Houssaye no Stade Reims.

O pódio do campeonato foi completado por Kevin Campion (4.10.40) e por Xavier le Coz (4.19.29). A prova foi disputada por 38 atletas franceses e dois estrangeiros.

Nos 20 km femininos, vitória para Melissa Cartier (1.52.51), à frente de Anne-lise Giroir (1.54.08), de Lucie Auffret (1.55.13) e de mais onze atletas classificadas.

Marchadores transferidos

Terminada a época de transferências, vários foram os marchadores que mudaram de clube ou de condição. Aqui fica uma lista provisória de transferências, que será actualizada à medida que forem sendo conhecidas mais mudanças, contemplando apenas os atletas que na época transacta já eram seniores.

Andreia Freitas, do G.D. Estreito (Madeira) para o C.S. Marítimo (Madeira);
António Pereira, da J.O. Monte Abraão (Lisboa) para individual (Porto);
Augusto Cardoso, do F.C. Porto (Porto) para a A.D.R. Palhaça (Aveiro);
Cátia Guerreiro, do C.R.C.D. Luzense (Algarve) para o C.O. Pechão (Algarve);
Cristiano António, do A.C. Vermoil (Leiria) para o G.A. Fátima (Santarém);
Diogo Oliveira, da C.P. Corroios (Setúbal) para a Casa Benfica Charneca da Caparica (Setúbal);
João Vieira, do C.N. Rio Maior (Santarém) para o Sporting C.P. (Lisboa);

Jorge Costa, do C.D.C.R. CTT (Algarve) para C.O. Pechão (Algarve);
Maribel Gonçalves, do C.S. Marítimo (Madeira) para o G.D. Estreito (Madeira);
Marisa Soares Pereira, do Boavista F.C. (Porto) para o Gira Sol (Coimbra);
Sofia Avoila, do Sporting C.P. (Lisboa) para a A.D. Samouquense (Setúbal);
Susana Feitor, do C.N. Rio Maior (Santarém) para individual (Santarém);

Vera Santos, do J.O. Monte Abraão (Lisboa) para o Sporting C.P. (Lisboa).



Ainda que não se trate de uma transferência, mencione-se também a reinscrição de um dos «internacionais» da marcha portuguesa, Carlos Leitão, agora pelo Centro de Atletismo da Baixa da Banheira, duas décadas depois de ter representado o Sporting Clube Banheirense.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Taça da Rússia com marcas «vulgares»

Foram de final de época as marcas registadas na Taça da Rússia em Marcha Atlética, realizada a 11 de Setembro, em Voronovo.

Nos 20 km fem., Yelena Kruchinkina impôs-se com 1.32.01 h, à frente de Tatiana Korotkova (1.35.05), de Nelly Lekareva (1.35.48) e de mais 11 atletas que completaram a prova.

Mas era no sector masculino que estava centrada maior curiosidade, pelo regresso de Sergei Morozov, Vladimir Kanaykin e Igor Yerokhin após dois anos de suspensão por controlo positivo de dopagem. Os dois primeiros impuseram-se nos 20 km, com Kanaykin a superiorizar-se a toda a concorrência (1.22.23), à frente de Morozov (1.22.45), de Anatoly Kukushkin (1.24.43) e mais quatro atletas. Yerokhin venceu nos 35 km, com 2.29.42 h, ante Ivan Zhbanov (2.38.08), Semen Lovkin (2.41.19) e mais três companheiros.

Nenhum dos atletas russos presentes nos europeus de Barcelona participou na Taça da Rússia de Marcha Atlética.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A marcha e a implantação da República

O blogue «O Marchador» nasce no momento em que Portugal assinala o centenário da implantação da República, revolução triunfante em 5 de Outubro de 1910 e que constitui momento da maior importância nos quase novecentos anos de história do país.

Naquele início do século XX, o desporto português conhecia uma fase de significativo desenvolvimento, ainda que procurando apenas recuperar do mesmo atraso que caracterizava tantos outros sectores da vida nacional. Nos anos finais do século XIX e no início do século XX, Portugal conheceu o surgimento de importantes colectividades desportivas e o desenvolvimento de competições regulares, numa adesão crescente dos portugueses à actividade física.

É certo que, por esta altura, esses «portugueses» não incluíam muito mais do que alguns aristocratas, mas o processo de desenvolvimento desportivo sentiria forte impulso com a vitória dos republicanos em 1910, fortemente apoiados nas classes populares. A vinda do povo para a rua, em armas, foi decisiva para o triunfo dos revolucionários. E seria sobretudo nesse nível social que o desporto viria a crescer nas primeiras décadas do século XX, incluindo os primeiros anos da República.

A marcha atlética contou-se no role das modalidades desportivas adoptadas na prática de alguns dos novos entusiastas das competições ao ar livre. De 1912 data a primeira referência a provas de marcha integradas no programa dos Jogos Olímpicos Nacionais, que nesse ano conhecia a terceira edição. Os relatos mencionam a vitória de Djalma Bastos, do CIF, a quem sucedeu, nos dois anos seguintes, o colega de clube Sousa Flores, já com o torneio rebaptizado Jogos Desportivos Nacionais.

Mas a referência mais antiga a provas de marcha em Portugal apontava para 1907, ainda na monarquia, quando uma vintena de pedestrianistas mais ou menos aventureiros se abalançaram a ligar (em marcha) Lisboa a Sintra, com regresso. O percurso incluía passagens por Benfica, Porcalhota, Queluz, Cacém, Rio de Mouro e S. Pedro. Dessa prova, um nome ficou para a história: o de Vítor Guedes Júnior, primeiro classificado, que «chegou a Sintra em menos de quatro horas e fez o percurso de regresso em pouco mais de três», conforme se lia na imprensa da época. Guedes Júnior tornou-se, assim, o primeiro vencedor de provas de marcha conhecido no nosso país.

Não se sabe qual terá sido em rigor o percurso seguido pelos atletas nem se a prova decorreu sob a égide de alguma entidade habilitada para ajuizar o cumprimento de regras previamente estabelecidas. Mas sabe-se que, como notou o olisipógrafo Appio Sottomayor na coluna regular que durante anos manteve no vespertino «A Capital» (ver edição de 4 de Agosto de 1997): «Como não consta que na época houvesse 'doping' ou especiais estimulantes, mas, em contrapartida, se notabilizavam as localidades mencionadas pela existência de algumas locandas onde os líquidos tintos e brancos ascendiam a néctares, não será talvez demasiado ousado supor que alguns atletas se foram dessedentando pelo caminho.»

A prova pode não ter sido muito canónica, mas não deixa de ser uma importante referência para a história da marcha atlética em Portugal. E de constituir uma espécie de resposta ao «apelo» à prática desportiva, em geral, e da marcha, em particular, numa época em que o país fazia por tentar aproximar-se das melhores tradições internacionais.

A disciplina da marcha atlética tinha uma já longa tradição nas ilhas britânicas e em França, onde eram famosas as grandes caminhadas individuais, realizadas com fins de aventura em forma de aposta ou a título simplesmente diletante.

Essa era também a época em que a marcha surgia reconhecida internacionalmente como disciplina do atletismo em pé de igualdade com as restantes especialidades, como denota o facto de a marcha ter passado a fazer parte dos programas de competições como os Jogos Olímpicos, em Londres-1908 (não contando com a inclusão de uma prova de meia milha de marcha numa espécie de decatlo nos Jogos de 1904, em St. Louis). E assim faria o seu caminho mundo fora, até aos nossos dias, numa universalização crescente.

Por cá, a forma como a elite política tratou a República determinou-lhe o percurso e o destino que se conhece: das grandes esperanças de 1910 à ditadura de 1926, aquela foi uma I República que viveu na maior instabilidade governativa e social, com o povo cada vez mais consciente de que, afinal, voltava a ser esquecido.

Ainda que não possa falar-se com rigor em qualquer relação de causa-efeito, não pode deixar de constatar-se a coincidência entre esta perda de ilusões sociais e o desaparecimento da prática da marcha atlética em Portugal, pelo menos em contexto de competição.

A República fez um intervalo. A marcha atlética copiou o exemplo. E o programa seguiu «dentro de momentos». Em 1974.

Portugueses em força na final de Pequim

Foi boa a colheita de resultados dos atletas portugueses na Final do Challenge Mundial de Marcha da AIFA, realizada em Pequim, a 18 de Setembro.

Nos 20 km masculinos, João Vieira averbou 39.06 m, para concluir no 12.º lugar com a sua melhor marca de sempre na distância. A prova foi ganha pelo chinês Wang Zhen, com 37.44 m, à frente do compatriota Zhu Yafei (37.57) e do italiano Giorgio Rubino (38.00).

O resultado de João Vieira é também a melhor marca alguma vez conseguida por atletas portugueses nos 10 km, superando os 39.41 m alcançados por José Urbano em 1989, no Criterium Mondial di Marcia, em Voghera (Itália). A marca é igualmente superior à que o mesmo Urbano alcançara em pista (10.000 metros, 39.55,9) na Maia, em 1989.

No sector feminino, Inês Henriques apresentou-se numa forma excelente para a fase da época, terminando com magníficos 43.09 m, a que correspondeu o 5.º lugar. Os lugares do pódio foram conquistados pela russa Tatyana Sibileva (41.53), pela chinesa Liu Hong (42.30) e pela alemã Melanie Seeger (42.36).

Para além de Inês, também Ana Cabecinha e Susana Feitor estiveram em bom plano na capital chinesa, creditando-se respectivamente com 43.17 m e 43.41 m, nos 6.º e 7.º lugares.

Mais discreta revelou-se a participação de Vera Santos, que ainda na primeira metade da prova começou a atrasar-se das primeiras portuguesas, facto que talvez as duas notas de desclassificação averbadas ajudem a compreender. Terminaria na 10.ª posição, com 44.53 m. Mas para a atleta agora do Sporting a temporada já tinha sido muito fértil noutros momentos.

Resultados:
20 km masc. – 1.º, Wang Zhen (China), 37.44; 2.º, Zhu Yafei (China), 37.57; 3.º, Giorgio Rubino (Itália), 38.00; 4.º, Wang Hao (China), 38:00; 5.º, Luis Fernando Lopez (Colômbia), 38.10, 6.º, KIM, Hyun-Sub Kim (Rep. Coreia), 38.13; 7.º, Chen Ding (China), 38:23; 8.º Jared Tallent (Austrália), 38.29; 9.º, Luke Adams (Austrália), 38.41; 10.º, Chil-Sung Park (Rep. Coreia), 38.42; 11.º, Chris Ercikson (Austrália), 38.59; 12.º, João Vieira (Portugal), 39.06; 13.º, Cai Zelin (China), 39.06; 14.º, Matej Toth (Eslováquia), 39.07; 15.º, Adam Rutter (Austrália), 39.20; 16.º, Hirooki Arai (Japão), 40.11; 17.º, Zhao Chengliang (China), 40.12; 18.º, Jung-Hyum Hyim (Rep. Coreia), 41.28; 19.º, Se-Han Oh (Rep. Coreia), 42.11.
20 km fem. – 1.ª, Tatyana Sibileva (Rússia), 41.53; 2.ª, Liu Hong (China), 42.30; 3.ª, Melanie Seeger (Alemanha), 42.36; 4.ª, Li Yanfei (China), 42.41; 5.ª, Inês Henriques (Portugal), 43.09; 6.ª, Ana Cabecinha (Portugal), 43.17; 7.ª, Susana Feitor (Portugal), 43.41; 8.ª, Zuzana Malikova (Eslováquia), 44.12; 9.ª, He Qing (China), 44.20; 10.ª, Vera Santos (Portugal), 44.53; 11.ª, Jessica Rothwell (Austrália); 46.05.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uma análise muito lúcida

A propósito da magnífica vitória da equipa feminina portuguesa na Taça do Mundo de Marcha de Chihuahua, António Manuel Fernandes publicou na edição de Junho da «Revista Atletismo» um editorial que revela uma visão muito lúcida sobre a realidade actual da marcha atlética portuguesa. A ausência de qualquer atleta júnior português dessa mesma Taça do Mundo é, de resto, testemunho eloquente do que António Fernandes designa como «vazio».
Relevante é também a conclusão relativa ao modelo de coordenação da marcha, caracterizado pela «falta de uma figura aglutinadora de vontades colectivas objectivas». Sem essa coordenação, cada um rema para seu lado até o barco se desmantelar.
Com a devida vénia à «Revista Atletismo» e a António Manuel Fernandes, aqui fica o editorial reproduzido.


A marcha «rainha»
A marcha atlética feminina vive bons tempos. De facto, ainda com Susana Feitor em forma de alta competição, com Vera Santos e Inês Henriques a potenciarem todo o seu valor a um patamar bem elevado e com Ana Cabecinha a seguir-lhes as pisadas ganhando um espaço próprio, a selecção nacional, em termos de equipa, tem conseguido resultados espectaculares, com a conquista de medalhas que, há algum tempo, apenas surgiam nas ideias dos marchadores, realistas em função do trabalho desenvolvido, apesar de muitas contrariedades.Estas medalhas são fruto de uma época em que a marcha estava muito unida e em busca de um objectivo comum.
Mas a realidade agora é diferente e as pessoas necessitam preparar-se para o futuro, que poderá não ser tão risonho.

Este estado actual das marchadoras, acreditamos, vai durar mais algum tempo, pois Susana Feitor é a única «trintona» e as outras ainda têm margem para progredir. Mas, após elas é o vazio, tal como já se vê no sector masculino.

De facto, a marcha nacional pode vir a sofrer de uma «doença» parecida com o meio-fundo nacional, que tem definhado, de uma forma geral. Esporadicamente vai conseguindo um excelente resultado, mas depois…

Esta deverá ser uma preocupação geral, com uma actuação centrada em objectivos únicos e com toda a gente envolvida nesses objectivos. Infelizmente, tal não acontece actualmente, com a marcha a sofrer a falta de uma figura aglutinadora de vontades colectivas objectivas.

Marchadores portugueses em destaque nos mundiais de Síndrome de Down

Com duas medalhas de ouro, Maria João Silva foi a mais brilhante representante da marcha portuguesa nos I Campeonatos do Mundo de Atletismo para Atletas com Síndrome de Down, disputados em Puerto Vallarta (México) de 9 a 11 de Setembro. A atleta açoriana (SCM Pico) impôs-se nos 400 metros marcha, com 3.22,46 m, e nos 1500 metros marcha, com 13.34,50 m. Na prova curta, foi secundada pela compatriota Milene Patrocícnio (3.31,90), da APERCIMM (Mafra), tendo Helena Soares (AICIA, Arouca) terminado na quarta posição, com 3.41,96 m. Helena Soares viria ainda a conquistar a medalha de prata na prova longa, com 13.57,70 m.

No sector masculino, Bruno Leitão (APPACDM e do CCD «O Alvitejo»), conquistou uma medalha de prata nos 1500 m marcha e outra de bronze nos 400 m marcha. O atleta ribatejano registou as marcas de 11.40,80 m e 3.03,65 m, tendo ambas as provas sido ganhas pelo mexicano Jesús Morales (11.31,50 e 2.56,02). Na prova longa participou outro atleta português, Hugo Moniz (APACDA, Ponta Delgada), que foi desclassificado.

A selecção nacional de atletismo conquistou ao todo seis medalhas de ouro, nove de prata e quatro de bronze, sendo suplantada apenas pela selecção do México. Nas provas de marcha, com classificações separadas para portadores de trissomia 21 e de mosaicismo, participaram atletas de Portugal, Brasil, China, México e Venezuela.

Nicola Maggio premiado pela AEA

A Associação Europeia de Atletismo decidiu atribuir ao juiz internacional de marcha, Nicola Maggio (Itália), em parceria com o alemão Kurt Kaschke, o prémio de «Inovação 2010», em categoria aberta, pelo trabalho apresentado em nome da Academia da Associação Europeia de Veteranos de Atletismo, de que o referido juiz é membro, intitulado «Oficiais de Segurança no Atletismo para Veteranos»(1).
O prémio, de periodicidade bienal, é instituído pela AEA desde 1998 e tem por objectivo incentivar a investigação e o estudo de novas ideias em prol do desenvolvimento do atletismo.
De entre os 30 projectos submetidos a concurso, provenientes de 16 países europeus,  encontram-se dois relacionados directamente com a marcha atlética, um que mereceu igualmente um prémio, na categoria de «Treino», da autoria de Esa Hynynem e Ari Nummela, da Finlândia, com o título «Estudo de três anos de acompanhamento do desempenho de resistência e da variação nocturna do ritmo cardíaco de um marchador de nível internacional», e outro apresentado pela Universidade de Leeds (Grã-Bretanha), com o título «Optimização da eficiência biomecânica na marcha de alto nível»,  da autoria de Brian Hanley, Andrew Drake e Athanassios Bissas.
A entrega dos prémios terá lugar em Belgrado, Sérvia, no dia 16 de Outubro de 2010.

(1) Neste contexto, o termo «segurança» não deve ser entendido como «segurança policial» mas como «segurança médica».

Amigos do atletismo gratos a Eduardo Cunha

Por iniciativa da secção de atletismo do Clube de Futebol «Os Belenenses», à qual aderiram antigos e actuais atletas, treinadores e dirigentes, Eduardo Cunha, que foi treinador de atletismo do CDUL, Benfica, Sporting e Belenenses e ainda técnico nacional, mereceu grande ovação no almoço de gratidão realizado no dia 2 de Outubro, no estádio do clube do Restelo.
Eduardo Cunha, sabemos, não é nem nunca foi um especialista na área da marcha atlética. No entanto, a comunidade da marcha atlética não esquece os tempos em que exerceu funções na Federação Portuguesa de Atletismo e se distinguiu pela sua determinação e pragmatismo.
Nesse tempo, entre outras decisões implementadas em prol do desenvolvimento da especialidade, foram estabelecidos, pela primeira vez, mínimos para uns Europeus de Atletismo, no caso os de Atenas, em 1982, e a distância nos juniores masculinos passou a ser realizada sob 10.000 metros.
Ao professor Eduardo Cunha, que completou recentemente 84 anos e continua a treinar diariamente atletas, no Estádio Universitário de Lisboa, o nosso reconhecimento e um grande Bem-haja!

Manifesto de «O Marchador»

O blogue O Marchador é um projecto de comunicação destinado a transmitir informação sobre a actividade da marcha atlética.
Neste espaço, o visitante poderá encontrar notícias variadas, programas e regulamentos de provas, resultados de competições, anúncio de eventos relacionados com a marcha atlética, «rankings», artigos técnicos e textos de carácter histórico ou opinativo. (ver texto completo >)