sexta-feira, 6 de maio de 2016

Igualdade de género nos 50 km marcha

Erin Taylor-Talcott. Foto: Ken Stone, Times of San Diego
Este domingo, em Roma, a prova dos 50 km marcha, competição integrada no Campeonato Mundial de Nações, constituirá um marco histórico para o atletismo mundial porque, pela primeira vez, verá igualado o conjunto de disciplinas entre homens e mulheres – 24 provas, numa decisão da Federação Internacional de Atletismo (IAAF).

Em 2014, o escritório de advocacia Winston Strawn, que representa a marchadora norte-americana Erin Taylor-Talcott, em petição dirigida à USATF (Federação de Atletismo dos EUA), solicitou a participação da atleta nos campeonatos norte-americanos de 50 km marcha, antes exclusivamente abertos ao setor masculino, obtendo a anuência daquele organismo. Também foi acordado junto da USATF a igualização dos prémios monetários e a intervenção junto da IAAF, fazendo «lobby» pela participação das mulheres em eventos internacionais da distância.

Em maio deste ano, Taylor-Talcott (e mais outras quatro atletas), participou nos campeonatos norte-americanos e obteve a marca mínima exigida para participar nos mundiais de marcha, com o tempo de 4:44:26. Em 2011, nos «Trials» americanos para os Jogos Olímpicos de Londres, tornou-se na primeira mulher a conseguir a marca exigida pela IAAF para o efeito, com 4:33:23, o seu recorde pessoal, mas foi-lhe negada a participação na prova tendo, no entanto, sido convidada a assistir à competição.

Com a decisão da IAAF em considerar elegíveis os recordes mundiais femininos dos 50 km marcha, a partir de 1 de novembro de 2015, a atleta norte-americana foi a primeira a inscrever o seu nome na listagem, com a marca de 5:03:34, obtida em 22 de novembro de 2015, em San Diego.

Em abril deste ano, fruto dos esforços norte-americanos, o Conselho Executivo da IAAF autorizou a participação de Taylor-Talcott nos mundiais de Roma, integrando a prova masculina dos 50 km. Certamente que em futuros eventos internacionais, nomeadamente nos próximos campeonatos mundiais de atletismo, em 2017, em Londres, haverá a prova feminina, disputada separadamente.

Sebastian Coe, presidente da IAAF, foi um dos grandes defensores da ideia, congratulando-se com a mudança, que a vê como um dos últimos passos para a correção dos desequilíbrios passados, assegurando-se a igualdade de oportunidades competitivas entre homens e mulheres.

Erin Taylor-Talcott, professora universitária, nasceu a 21 de maio de 1978, em Portland, Oregon, residindo em Nova Iorque. Depois de ter sido treinada durante 7 anos pelo australiano Jim Leppik, desde março do ano passado que se responsabiliza pelo seu próprio treino. É casada com Dave Talcott, ex-marchador internacional.

Foi com grande satisfação que a atleta acolheu a decisão de integrar a equipa norte-americana dos 50 km marcha. Referiu-se ao facto como sendo um dos momentos mais marcantes da sua vida, algo de absolutamente incrível, para o qual trabalhou e sonhou, persistindo contra muitos dos que lhe diziam que tal nunca iria acontecer.

E porque é que a medida não foi tomada mais cedo? À questão colocada por um jornalista do «Sunday Times» respondeu que talvez tenha havido a crença de que as mulheres não estariam aptas a fazer provas de resistência, mas, com a inclusão da maratona, da corrida de obstáculos, entre outras provas, no programa feminino, ficou claro que a inclusão da prova dos 50 km marcha seria apenas uma questão de tempo. Na opinião de Taylor-Talcott, não existem problemas físicos que impeçam as mulheres de competir na referida prova, acrescentando que estas tendem a ser mais fortes em provas de resistência.

Sobre a prova de domingo, a única mulher a participar nos 50 km afirmou que vai competir para, essencialmente, desfrutar do momento, com muita emoção, e ao lado dos melhores do mundo. É algo que, segundo Taylor, outras mulheres poderão fazer no futuro, tendo sido, segundo ela, um enorme passo dado em defesa dos direitos das marchadoras de todo o mundo.

Entre nós, não tardará o dia em que marchadoras portuguesas competirão nos 50 km, também com objetivos de participarem nos grandes eventos internacionais. E uma das que, neste contexto, se poderá apresentar na linha de partida é Inês Henriques, atleta do Clube de Natação de Rio Maior que, recentemente, manifestou publicamente a sua simpatia face a tal possibilidade.