Fotos: ADAL e FOTOS Oliveirinha. Montagem: O Marchador |
Quando ressurgiu em Portugal, nos anos de 1974 e 1975 a marcha atlética viu desenvolver-se à sua volta um ambiente de festa, amizade e solidariedade, que não se comprometia mesmo nos momentos de disputa competitiva mais acesa. No final de cada torneio, campeonato ou grande prémio, os participantes juntavam-se em convívio (geralmente à volta da mesa) congregando num mesmo abraço, atletas, treinadores, dirigentes, juízes, autarcas, familiares e amigos.
Com o crescimento verificado e desejado para uma modalidade em ascensão, os intervenientes tiveram de definir modelos de desenvolvimento, opções estratégicas, planos de actividade, tanto vertente do clube como na da associação ou ainda da autarquia e, mais tarde no âmbito federado. Para cada caso foi adoptada uma solução, nem sempre coincidente com a opção do vizinho, por vezes com registo mesmo divergente das linhas adoptadas por outras entidades congéneres. No entanto, a diferença de opiniões e de acções não dava origem a conflitos, apenas a diferentes escolhas traduzindo modos também distintos de ver os problemas.
Se uns consideravam prioritário avanços na formação de treinadores, outros preferiam formar juízes; se uns queriam sensibilizar dirigentes, outros procuravam mobilizar as autarquias; se uns apostavam na internacionalização das suas realizações, outros contentavam-se com a dimensão local dos eventos que promoviam – mas todos, cada um a sua maneira e com os recursos de que dispunha, visavam o crescimento e o desenvolvimento da marcha. Qualquer discordância que surgisse, fosse de interpretação técnico-regulamentar fosse de estratégia directiva, ficava no plano do confronto de ideias, aí nascia, se desenvolvia e, por fim morria.
Alguns casos recentes dão ideia que esta realidade pode estar em perigo por intervenção de agentes pouco identificados com os princípios e os valores que têm marcado a marcha atlética em Portugal nas ultimas décadas. Situações em que se chega a confronto físico ou em que sistematicamente se perseguem juízes, responsabilizando-os pelo insucesso de tal ou tal atleta (ao ponto de se chegar à ameaça e ao insulto) são sintoma de que há quem esteja a mais no mundo do desporto e em particular da marcha atlética. Está a mais quem pratica actos como esses; está a mais quem, podendo, não intervém para pôr cobro a este tipo de situações; está a mais quem anda de braço dado com agentes que não reflectem (antes desrespeitam) um património de valores que tornaram a marcha atlética numa modalidade ou disciplina atlética de referencia em Portugal, tanto pela qualidade dos resultados desportivos que foi alcançando de forma crescente como pelo exemplo de dirigentes, atletas, treinadores, juízes e familiares de dedicação e empenho ético no desenvolvimento da última especialidade do atletismo a afirmar-se no plano nacional.
Havia alguma necessidade de chegar a este ponto? Falta assumir responsabilidades e pôr à margem quem está a mais.