Luís Gil no Mundial de 24 horas de Corrida em Albi. Fotos enviadas pelo próprio. Montagem: O Marchador |
No último fim de semana (26 e 27) de
outubro teve lugar em Albi, França, a 13.ª edição do Campeonato do Mundo das 24
horas em corrida, uma organização da Associação Internacional de Ultramaratonas
(IAU), com uma participação recorde de 375 atletas, em representação de 45
países e onde Portugal, que participou pela primeira vez, classificou-se numa
honrosa 14.ª posição, no setor masculino, entre 33 países classificados.
O que nos merece maior realce nesta
peça é evidenciar a prestação de Luís Gil, que foi o melhor atleta luso, dos
quatro que representaram o país (três vivendo em Portugal e um emigrado em
França), obtendo a 30.ª posição entre 205 atletas chegados ao fim desta
duríssima prova onde, num circuito de 1.500 metros, percorreu as 24 horas de
prova na distância de 236 quilómetros e 577 metros.
Luís Gil que começou no atletismo no
Atlético Clube Alfenense, sob orientação técnica de José Magalhães, atingiu
posição de destaque no panorama do atletismo português, especialmente na
disciplina da marcha atlética e no Campeonato de Portugal dos 50 km, prova onde
por duas vezes (2013 e 2014), subiu ao lugar mais alto do pódio conquistando
ainda, por cinco vezes, a medalha de bronze. Vestiu as cores de Portugal em
três Taças da Europa, numa delas ajudando a conquistar para o país a medalha de
bronze coletiva, em Cheboksary, na Rússia, e em quatro Taças do Mundo.
Não se pense que a preparação para o
evento e tudo o que foi necessário tratar do ponto de vista administrativo
tivesse sido um “mar de rosas”. Luís Gil, que é Guarda Prisional e trabalha por
turnos (para poder ir a Albi teve que tirar dias de férias) refere que, a
acrescer às dificuldades de tempo para treinar no período adequado às
exigências da prova, ainda tiveram que arcar com todas as despesas de viagens,
alojamentos e inscrições e foi com alguma sorte que um atleta levou quatro
camisolas do seu clube com a indicação de “Portugal” pois os equipamentos que,
supostamente, deveriam ter sido enviados pela Federação Portuguesa de Atletismo
não chegaram a tempo. Ainda não chegaram.
À chegada ao local das provas,
apanharam um valente susto quando no secretariado avisaram que a seleção
portuguesa não poderia participar pois estaria pendente por parte da FPA o
pagamento de uma quantia de mais de mil euros e além de tudo o mais, no
alojamento que marcaram numa unidade hoteleira, de acordo com as capacidades
financeiras da delegação, ainda tiveram de suportar o alojamento que a
organização reservara por, atempadamente, não ter sido cancelado, tudo isto sem
que os atletas soubessem de nada. O que valeu foi a experiência e o
extraordinário empenho do seu colega de equipa, o experimentado maratonista
João Oliveira.
Sem uma equipa de apoio nos
abastecimentos - o que terá valido foi que um familiar de um dos atletas se
prontificou a ajudá-los nessa matéria (só a seleção dos EUA levava 12 atletas
numa delegação de 20 pessoas em que se incluíam fisioterapeutas, massagistas,
treinadores e dirigentes), o resultado obtido no cômputo geral deve ser
classificado como de muito positivo. E Gil relembra o quão produtivo foi o
trabalho realizado na marcha para esta nova vertente competitiva.
“Quando deixei os 50 km marcha já
tinha feito experiências nos “trails” e participado na Maratona do Porto e
corria diariamente, do e para o trabalho, no mínimo 10 quilómetros, e em
períodos noturnos o que me proporcionou uma boa robustez mental para
ultrapassar todas as adversidades. A prática da marcha atlética foi para mim
uma grande ajuda, as várias voltas num circuito, a experiência com os
abastecimentos, o espírito de sacrifício…o estar integrado com os melhores,
apesar de naqueles tempos de seleção me sentir com pouco á vontade junto da
elite. A prova em si, na minha primeira experiência, foi – posso afirmar, uma
muito boa aprendizagem. Enquanto eu acelerei nas primeiras doze horas de
provas, no pico do calor, onde andei pelos primeiros lugares, outros, mais
experientes, optaram por fazê-lo quando as condições atmosféricas (à noite),
eram bem mais agradáveis”, afirma Gil.
Para Luís Gil atleta do Grupo
Desportivo do Estreito, que mantém uma família ligada ao desporto, – a esposa é
marchadora, o sogro juiz de atletismo – fica, no final, o doce sabor de ter
batido dois recordes nacionais, na passagem das 12 horas de prova e o das 24
horas.