sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Tóth ganha emocionantes 50 km olímpicos do Rio

Matej Tóth voltou a impor um segundo lugar a Jared Tallent.
Foto: SB Nation
O eslovaco Matej Tóth sagrou-se este início de tarde campeão olímpico dos 50 km marcha, ao vencer no Rio de Janeiro a emocionante prova da distância dos Jogos da XXXI Olimpíada, com 3.40.58 h, adiante do australiano Jared Tallent (3.41.16) e do japonês Hirooki Arai (3.41.24).

A prova animou-se logo com a saída à campeão do sérvio Vladimir Savanovic, com o francês Yohann Diniz a disparar logo de seguida na sua peugada, para passar já isolado na frente aos 1000 metros, a menos de 4.30 por quilómetro. Matej Tóth e o trio japonês lideravam o primeiro pelotão. À primeira légua, cumprida em 22.10 m, Diniz detinha já quase 120 metros de avanço sobre Tóth, Tallent, Nava, Heffernan e restante primeiro grupo, composto por nove atletas.

Ao sétimo quilómetro, Tóth fez uma primeira tentativa para se isolar, forçando a aceleração do grupo, que recolou de imediato. Repetiria o procedimento dois quilómetros mais à frente, de novo arrastando os companheiros, mas ainda assim a vantagem de Diniz na frente, à passagem pelos dez quilómetros, até aumentava um pouco, de 28 para 30 segundos.

Com cerca de uma hora de prova, João Vieira abandonava, enquanto na frente Yohann Diniz mantinha a marcha de um líder convicto, cumprindo a terceira légua em 1.05.58 h, detendo nesse momento um avanço que crescia para 53 segundos, graças a um parcial de 21.40 m entre os 10 e os 15 quilómetros, menos 23 segundos que Matej Tóth, ainda e sempre na segunda posição.

Na quarta légua, a tendência manteve-se, agora com o francês a registar um parcial de 21.43 m, para 1.27.41 h aos 20 quilómetros, já com mais de 300 metros de vantagem sobre os mesmos nove que o perseguiam desde quase o início da prova.

A meio da competição, a vantagem do francês aumentava para um minuto e 40 segundos sobre o primeiro grupo, reduzido a oito unidades por atraso do japonês Takayuki Tanii. Foram mais 17 segundos ganhos por Diniz em cinco quilómetros, cumpridos agora em 21.50 m, contra 22.07 m do grupo liderado por Matej Tóth. Na frente, Yohann Diniz perfazia 1.49.31 h, prefaciando um resultado final bem abaixo de três horas e 40 minutos.

Entre os portugueses, Pedro Isidro tinha cumprido léguas iniciais em 24.03 e 23.53, apontando assim para marca final a rondar as quatro horas ou pouco menos. No entanto, iria quebrar um pouco nas voltas seguintes, passando a meio da prova no 60.º lugar (2.01.27) e  já ultrapassado por Miguel Carvalho, com início mais prudente e dentro da casa dos 24 minutos por légua, subindo do 74.º posto aos cinco quilómetros para o 59.º lugar a meio da competição, quando era o melhor português em prova.

Na frente, o início da segunda metade dos 50 km ditou algumas mudanças da paisagem da competição, com ligeiro abaixamento do ritmo de Yohann Diniz (21.58 na sexta légua) e aceleração evidente no grupo perseguidor, a marcar 21.46 m para o canadiano Evan Dunfee e 21.48 para Tóth. O pelotão fragmentava-se, com Dunfee e Tóth mais adiantados e o mexicano Horacio Nava a atrasar-se, na nossa posição, 14 segundos depois do grupo.

À passagem dos 32 quilómetros, Diniz parou com problemas intestinais, retomando a prova quando Evan Dunfee passava por ele. Seguiram juntos por algum tempo, mas o canadiano continuaria a aumentar o ritmo e aos 35 quilómetros detinha já oito segundos de vantagem sobre o francês. Dunfee fazia um parcial de 21.42 m, enquanto mais atrás, seis segundos após Diniz, surgiam Matej Tóth, Jared Tallent, Hirooki Arai e o chinês Wei Yu, que tinham apenas uns dez metros atrás o irlandês Robert Heffernan.

A prova estava a ganhar interesse crescente e mais emocionante ficou com a aproximação aos 40 quilómetros, fase em que o australiano Tallent iria jogar importante cartada, desferindo um ataque que o isolou perto da entrada para os dez quilómetros finais. O campeão olímpico em título assumia dessa forma a defesa do ceptro de Londres com uma légua em 22.01 m, enquanto todos os outros registavam quebras mais ou menos evidentes de ritmo.

Com os primeiros já separados em posições individuais e intercalados por atletas atrasados, Jared Tallent foi consolidando a liderança, entrando na légua final com 22 segundos de vantagem sobre Matej Tóth, 26 sobre Arai, 41 para Dunfee, 57 sobre Yu e 1.27 minutos para Heffernan. Tudo em aberto para um final de prova sem nada decidido no tocante a vitória e a medalhas. Entretanto, Yohann Diniz continuava a sofrer as agruras intestinais, parava, deitava-se, recebia assistência mas resistia e entrava na légua final na sétima posição, quase a três minutos de Heffernan e a mais de quatro da liderança. Mas o gaulês não cedia.

E a incerteza só ficaria desfeita mesmo nos quilómetros finais, com Matej Tóth a reagir e a recuperar em relação a Tallent, ultrapassando o australiano pouco antes da entrada no último quilómetro e assumindo o primeiro lugar para não mais o largar. Registaria na meta 3.40.58 h, contra 3.41.16 h de Jared Tallent e 3.41.24 h de Hirooki Arai, que, no entanto, seria depois desclassificado e de novo reclassificado na sequência de protesto, tornando-se o primeiro medalhado olímpico do Japão na marcha atlética. Nesse processo, Evan Dunfee (3.41.38) reentrava no pódio, do qual voltaria a sair pouco depois, mas sempre adiante do chinês Wei Yu (3.43.00).

Ainda antes de Yohann Diniz, que conseguiu concluir na oitava posição, com 3.46.43 h, chegaram o irlandês Robert Heffernan (6.º, 3.43.55) e o surpreendente norueguês Havard Haukenes (7.º, 3.46.33), a suportar bem a  fase decisiva da competição, onde tantos outros claudicaram.

Logo a seguir, Caio Bonfim honrou a casa, terminando na nona posição, com 3.47.02 h, à frente do magnífico australiano Chris Erickson, a fechar o «top 10» com 3.48.40 h.

Pedro Isidro, mesmo não se aproximando do recorde pessoal, confirmou-se como o primeiro português nestes 50 km olímpicos, terminando na 32.ª posição, com 4.03.42 h, valendo-lhe uma boa recuperação daquela fase intermédia com grandes dificuldades e acabando a prova com duas léguas impressionantes, registando parciais de 22.26 m e 23.18 m.

Miguel Carvalho concluiria no 36.º lugar, com 4.08.16 h e uma segunda fase de prova em que as condições impediram o atleta do Benfica de atingir o objectivo de baixar as quatro horas na estreia olímpica.

De assinalar que dos 80 atletas à partida, nada menos que 12 foram desclassificados e 19 desistiram, numa evidente demonstração das grandes dificuldades a que os atletas estiveram sujeitos no circuito de 2000 metros definido no Pontal e cumprido por 25 vezes por quem chegou à meta.

Uma nota final para registar que o pódio destes 50 km olímpicos do Rio de Janeiro repetiu quase na íntegra o do mundial de Pequim de 2015, com a única diferença de que o japonês da medalha de bronze não foi Takayuki Tanii mas Hirooki Arai.

Classificação
1.º, Matej Tóth (Eslováquia), 3.40.58
2.º, Jared Tallent (Austrália), 3.41.16         
3.º, Hirooki Arai (Japão), 3.41.24

4.º, Evan Dunfee (Canadá), 3.41.38
5.º, Wei Yu (China), 3.43.00
6.º, Robert Heffernan (Irlanda), 3.43.55
7.º, Havard Haukenes (Noruega), 3.46.33
8.º,  Yohann Diniz (França), 3.46.43
9.º, Caio Bonfim (Brasil), 3.47.02
10.º, Chris Erickson (Austrália), 3.48.40
11.º, Zhendong Wang (China), 3.48.50
12.º, Quentin Rew (Nova Zelândia), 3.49.32
13.º, Horacio Nava (México), 3.50.53
14.º, Takayuki Tanii (Japão), 3.51.00
15.º, Adrian Blocki (Polónia), 3.51.31
16.º, Omar Zepeda (México), 3.51.35
17.º, Jorge Armando Ruiz (Colômbia), 3.51.42
18.º, Serhiy Budza (Ucrânia), 3.53.22
19.º, Brendan Boyce (Irlanda), 3.53.59
20.º, Jesús Ángel García (Espanha), 3.54.29
21.º, Marco de Luca (Itália), 3.54.40
22.º, Rafal Augustyn (Polónia), 3.55.01
23.º, Jarkko Kinnunen (Finlândia), 3.55.43
24.º, Rafal Fedaczynski (Polónia), 3.55.51
25.º, José Leyver Ojeda (México), 3.56.07
26.º, Dusan Majdan (Eslováquia), 3.58.25
27.º, Koichiro Morioka (Japão), 3.58.59
28.º, Alexandros Papamichail (Grécia), 3.59.21
29.º, Jonathan Rieckmann (Brasil), 4.01.52
30.º, Ronal Quispe (Bolívia), 4.02.00
31.º, Narcis Stefan Mihaila (Roménia), 4.02.46
32.º, Pedro Isidro (Portugal), 4.03.42
33.º, Tadas Suskevicius (Lituânia), 4.04.10
34.º, Rolando Saquipay (Equador), 4.07.29
35.º, Sandeep Kumar (Índia), 4.07.55
36.º, Miguel Carvalho (Portugal), 4.08.16
37.º, Arnis Rumbenieks (Letónia), 4.08.28
38.º, Marc Mundell (África do Sul), 4.11.03
39.º, Ivan Banzeruk (Ucrânia), 4.11.51
40.º, Brendon Reading (Austrália), 4.13.02
41.º, Mario Alfonso Bran (Guatemala), 4.15.14
42.º, Vladimir Savanovic (Sérvia), 4.15.53
43.º, John Nunn (EUA), 4.16.12
44.º, Bence Venyercsan (Hungria), 4.19.15
45.º, Claudio Villanueva (Equador), 4.19.33
46.º, Nenad Filipovic (Sérvia), 4.25.41
47.º, Yucheng Han (China), 4.32.35
48.º, Pavel Chihuan (Peru), 4.32.37
49.º, Predrag Filipovic (Sérvia), 4.39.48

Desistentes: Hyunsub Kim (Coreia do Sul), Ivan Trotski (Bielorrússia), Ihor Hlavan (Ucrânia), Miguel Ángel López (Espanha), Carl Dohmann (Alemanha), Hagen Pohle (Alemanha), Matteo Giupponi (Itália), Mathieu Bilodeau (Canadá), Artur Mastianica (Lituânia), José Leonardo Montana (Colômbia), Alex Wright (Irlanda), José Ignacio Díaz (Espanha), Marius Cocioran (Roménia), Sandor Racz (Hungria), Luis Henry Campos (Peru), Mário José dos Santos Júnior (Brasil), Veli-Matti Partanen (Finlândia), Yerenman Salazar (Venezuela) e João Vieira (Portugal).
Desclassificados: Edward Araya (Chile), Teodorico Caporaso (Itália), Andres Chocho (Equador), Lukas Gdula (Rep. Checa), Dominic King (Grã-Bretanha), Luis López (El Salvador), Aleksi Ojala (Finlândia), Chilsung Park (Coreia do Sul), Jaime Quiyuch (Guatemala), James Rendon (Colômbia), Miklos Srp (Hungria) e Martin Tistan (Eslováquia).