domingo, 6 de dezembro de 2015

Fernando Elias (Brasil), o demolidor de recordes – II

Fernando Elias vitorioso. Fotos remetidas pela família Elias.
Montagem: O Marchador
Em 1970, a Federação Paulista de Atletismo, presidida por António Santarnecchi, cria um departamento de marcha e, em 1973, os campeonatos brasileiros de atletismo integram, pela primeira vez, a disciplina no seu programa. Fernando Elias conquista o título nacional, fazendo história na disciplina. Assim, narra-nos o seu percurso desportivo:

“ O Início:

Em 1949 com 14 anos, era morador do bairro da Mooca na cidade de São Paulo, e escutei a narração da famosa corrida de rua São Silvestre no rádio com meu pai, e após o término da competição eu disse ao meu pai que um dia seria um atleta tal qual os corredores, e que um dia ainda iria participar da corrida de São Silvestre. Como eu tinha um grave problema respiratório que me prejudicou durante toda infância e adolescência, meu pai me disse que esse tipo de esporte era somente para pessoas muito fortes fisicamente, e que eu teria dificuldades em fazê-lo.

Após 10 anos, já adulto eu comecei a me envolver com o pedestrianismo. Iniciei fazendo treinamentos leves e na primeira competição que participei em corrida de rua obtive a última colocação. Em 1959, decidi participar da corrida preliminar da São Silvestre, porém a mesma não foi realizada devido à uma forte chuva, dessa forma todos os inscritos foram convidados à participar da famosa corrida de São Silvestre. Naquele ano cerca de 1200 atletas participaram da corrida e nessa competição eu conquistei a 608ª colocação. Esse resultado me motivou muito, e a partir de então resolvi me dedicar mais aos treinamentos. Sentia que a promessa feita ao meu querido pai havia sido cumprida. (Acabei participando de várias outras edições da São Silvestre).

Em 1970 iniciei os treinamentos na modalidade de marcha atlética. Comecei me inscrevendo numa competição que tinha ido apenas para assistir. Eram 10Km de marcha atlética e a mesma fora vencida pelo atleta Ricardo Nuske, o segundo lugar ficou com o atleta Sebastião Bueno do Prado que era meu amigo e grande incentivador da modalidade junto do sr. Antonio Santarnecchi, que introduziu a marcha atlética no Brasil. Nessa competição consegui o 3º lugar. Após o término dessa competição acreditei que havia descoberto a modalidade a qual deveria me dedicar. Assim intensifiquei meus treinamentos em marcha atlética buscando o aprimoramento técnico. Obtive minha primeira vitória em uma competição no mesmo ano na pista do Centro Olímpico do Ibirapuera. Essa foi a primeira vitória da minha carreira na marcha atlética e depois dessa competição todas as minhas colocações em competições oficiais foram logradas com pódio.

Competições marcantes:

- Primeiro 50Km de Marcha Atlética, em dezembro de 1971 na pista do Gremio da Policia Militar do Estado de São Paulo. Naquele dia a competição iniciou-se com 7 atletas, porém somente eu terminei a competição com o tempo de 5h:58m. Recebi a medalha de primeiro colocado e me chamou a atenção o fato de não haver a gravação da competição na mesma. Questionei ao Antonio Santarnecchi, que fazia parte da organização da competição qual o motivo da medalha não possuir as informações da competição e ele me respondeu sorrindo que era porque ninguém acreditava que algum atleta conseguiria completar os 50Km. Essa expectativa pessimista se dava devido ao fato de que 3 anos antes (1968) quando se realizaram os Jogos Panamericanos na cidade de São Paulo não houve nenhum competidor brasileiro na competição de 50Km de marcha atlética. Para muitos essa competição era considerada loucura.

-Campeonato Brasileiro de Atletismo em 1973, na pista da PUC em Campinas. A competição era de 20Km e consegui vencer com o tempo de 1h:40m;4s que foi registrado como recorde brasileiro e sul-americano da modalidade.

- Segunda competição de 50Km de marcha Atlética. Competição dos Autonomistas em 1972 realizada na cidade de São Caetano do Sul. Nessa competição eu conquistei o primeiro lugar com o tempo de 4h38m13s, esse resultado foi lançado como um dos melhores resultados das 3 Américas na época e foi registrado como recorde brasileiro. Com o término da competição o sr. Antonio Santarnecchi, que já era um grande amigo e incentivador da minha carreira, se lançou às minhas pernas e começou a chorar. Ele levou pra casa minha camisa e bradava afirmando que o que eu tinha feito era algo impossível e que marcaria a história da modalidade no país. Algum tempo depois (Abril/1976), já com 41 anos de idade, eu consegui quebrar esse mesmo recorde com o tempo de 4h:27m que permaneceu como recorde brasileiro dos 50km de marcha atlética por mais de 15 anos.