domingo, 14 de janeiro de 2024

1980, multiplicam-se as provas de marcha

O pódio do Campeonato de Portugal de 20 km no Restelo (Carlos Albano, 3.º,
José  Pinto, 1.º, e Dinis Santos, 2.º), Paulo Alves a bater o recorde nacional de
 5.000 m no Estádio Nacional, um grupo de atletas participantes no G. Prémio de
Natal em Lisboa, Hélder Madeira a vencer uma prova em Belém, Mário Paiva
 e Aires Denis, presidente e vice-presidente da AAL, e as capas das
publicações da Comissão Regional de Marcha da AA Lisboa.
Fotos: arquivo «O Marchador», Mundo Desportivo e Avante.

É num ambiente de incerteza que começa o ano de 1980 e, com ele, uma nova década. No plano internacional agudiza-se o clima de confronto leste-oeste e, logo nos primeiros dias de Janeiro, surge no horizonte a ameaça de boicote ocidental aos Jogos Olímpicos de Moscovo, marcados para o Verão desse ano. No plano nacional, eleições legislativas antecipadas resultaram na formação de novo Governo e consequente reorientação política da administração do país, com consequências sobre o desporto. Ao longo de meses, o universo desportivo do país discute se Portugal deve participar ou não nos Jogos Olímpicos da capital soviética. Em círculos de decisão política, discute-se até a eventual participação do país num plano internacional de organização de Jogos Olímpicos alternativos. Mas nenhuma destas questões tem reflexo directo sobre a marcha atlética, dado que, apesar do desenvolvimento que a disciplina conheceu durante a meia década anterior, a eventual estreia olímpica ainda está longe dos pensamentos e das preocupações dos marchadores portugueses. E, como se verá, 1980 será o último ano sem que o país tenha presença nas competições de marcha atlética dos Jogos Olímpicos.

Atestando pelos resultados o crescimento nacional da marcha, vários novos recordes nacionais foram estabelecidos ao longo de 1980. O «Balanço Geral 1980», documento elaborado pela Comissão Regional de Marcha da Associação de Atletismo de Lisboa para funcionar como «ranking» regional (e nacional) de marcha, assinalava os recordes nacionais absolutos e de juniores de Paulo Alves (CF Santa Iria), nos 5.000 m pista, com 24.27,0 m, durante as Provas de Preparação da AAL no Estádio Nacional, a 1 de Março, e, nos 20 km estrada, com 1.34.04,5 h, no Grande Prémio da Urgeiriça, a 20 de Abril. Este último resultado já demonstrava que os marchadores portugueses estavam a aproximar-se consideravelmente do nível internacional da marcha atlética, onde o limiar de qualidade se encontrava cada vez mais próximo. Se se fizesse uma extrapolação do valor da marca de Paulo Alves para um nível internacional a iniciar-se com marcas de uma hora e 30 minutos, poderia concluir-se que o resultado do marchador de Santa Iria da Azóia valeria cerca de 95 por cento do necessário para se ser «reconhecido» como atleta de nível internacional. Ou seja, começava a faltar pouco aos marchadores portugueses para lá chegar.

O mesmo documento da AAL registava ainda o novo recorde nacional absoluto dos 10 mil metros marcha em pista, averbado por Carlos Albano (CP Minas da Urgeiriça) em 11 de Maio, com 49.26,3 m. O atleta de Viseu competia pela selecção do Resto do País na pista do Estádio José Alvalade, durante o Encontro Lisboa-Madrid-Barcelona-Resto do País. À parte os recordes assinalados pelo «Balanço Geral 1980», pode também referir-se o novo recorde nacional feminino de 3000 metros em pista alcançado por Evelina Fernandes (CF Santa Iria), com 18.34,0 m, na pista do Estádio do Restelo, a 15 de Junho.

De assinalar também a criação do «Balanço da Marcha de Infantis e Iniciados», com base em provas realizadas nas pistas do Estádio da Luz (2), do Estádio do Restelo (2) e do Barreiro (1), nas quais tinham começado a destacar-se os iniciados Paula Gracioso (CCD Olivais Sul), que viria a notabilizar-se no plano nacional, e Paulo Machado (AD Oeiras).

No âmbito organizativo, ocorreu o regresso de Aires Denis à direcção da Associação de Atletismo de Lisboa, demitindo-se da direcção da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA). Esta mudança foi referida por Américo Ferreira, da FPA, em entrevista a Vítor Serpa, para a edição de 17 de Abril do tri-semanário desportivo «A Bola», esclarecendo que Aires Denis «saiu para a Associação de Atletismo de Lisboa porque vê ainda outras condições para fomentar a prática da marcha, uma modalidade por que ele se bate com entusiasmo». De facto, era diferente a capacidade de intervenção de Aires Denis na FPA e na AAL, com vantagem de produtividade nesta última, que conheceu em 1980 um processo eleitoral.

Das eleições na AAL resultou uma direcção que vinha na continuidade da que gerira aquela entidade no mandato terminado em 1980. A direcção continuaria presidida por Mário Paiva, cabendo a Aires Denis uma das vice-presidências (a das Actividades Administrativas), a par de António Duarte Gonçalves (Actividades Desportivas) e de Jorge Salcedo (Departamento Técnico). Mas a participação da marcha na estrutura dirigente da AAL não se esgotava aí, em virtude da integração de Luís Dias na Direcção Técnica, sendo essa a estreia de elementos da marcha nos órgãos da área dos treinadores. De resto, demonstrando o interesse e a sensibilidade daquela equipa dirigente do atletismo lisboeta pela marcha atlética, o próprio manifesto eleitoral enviado pela lista aos clubes associados já reservava para essa disciplina atlética dois dos 14 «tópicos» do plano de acção posto à consideração, apontando um para «divulgar com maior intensidade a Marcha Atlética» e outro para a «criação de monitores para a Marcha Atlética».

No caso de Luís Dias, o principal problema diagnosticado na marcha da área de Lisboa era o paradoxo entre a melhoria técnica dos marchadores e a estagnação quantitativa em clubes e atletas praticantes. Para resolver o problema, a intervenção proposta apontava para o apoio técnico aos atletas, a realização de demonstrações técnicas teóricas (debates, slides técnicos, etc.) e práticas (treinos de aperfeiçoamento), ao mesmo tempo que se propunha a intensificação de contactos com os clubes e a sua mobilização para a organização de provas da especialidade.

Mas se os protagonistas dos principais resultados ganhavam expressão mediática, desde logo através das notícias dos respectivos feitos, outros atletas também começavam a ser objecto da atenção de jornalistas, como sucedeu com Hélder Madeira, atleta do Pax Julia Clube Atlético, de Beja, a quem Sequeira Andrade, na edição de 22 de Dezembro do «Diário de Notícias», reservou as seguintes palavras após referir o segundo lugar do marchador no Grande Prémio de Natal de Lisboa: «De notar a presença do atleta alentejano em lugar de honra, já que pode ser uma motivação para o desenvolvimento da modalidade fora da zona de Lisboa.» O mesmo atleta já tinha sido também objecto de referência elogiosa (com breve entrevista) no jornal «Avante!», a propósito de uma prova que tinha vencido em 29 de Junho, junto à Torre de Belém.

Em todo o caso, o momento competitivo mais importante do ano ocorreu em 15 de Junho, com a realização do Campeonato de Portugal dos 20 km marcha, sendo essa a primeira vez que era atribuído um título de campeão nacional numa distância olímpica. A prova desenrolou-se nos arruamentos do bairro do Restelo, em Lisboa, com partida e chegada dentro do Estádio do Restelo, e teve como vencedor José Pinto (entretanto transferido do SL Benfica para o CF «Os Belenenses»), com um tempo que a reportagem de Luís Lopes para «A Bola» classificou como «apenas médio»: 1.42.14,0 h. Todos os nove concorrentes que alinharam à partida concluíram a prova, tendo o pódio sido completado por Dinis Santos («Os Kapas», 1.43.57) e Carlos Albano (CP Minas da Urgeiriça, 1.44.52). Terminaram ainda Luís Dias (SL Benfica, 1.47.10), Francisco Reis (CF Santa Iria, 1.49.45), Paulo Alves (CF Santa Iria, 1.50.29), Avelino Ferreira (CV Atletismo, 1.54.16), José Tavares (CF Santa Iria, 1.54.44) e José da Cândida (CV Atletismo, 2.01.02).

Elenca-se de seguida o conjunto de outras provas levadas a efeito em diferentes locais durante o ano de 1980, ainda que seja de admitir a existência de competições não incluídas neste registo.

6 de Janeiro, Grande Prémio dos Reis, Buraca (org. Real Clube da Buraca, com uma prova de marcha), aprox. 1800 m, 10 participantes: 1.º, José Pinto (CF «Os Belenenses»); 2.º José Dias (SL Benfica) (terminaram ao sprint, separados por 1,1 segs.); 3.º, Vítor Marta (SL Benfica, juvenil).

27 de Janeiro, Grande Prémio de Marcha de Alenquer (org. Sporting Clube de Alenquer), todos os escalões; AD Oeiras com 37 atletas e «Os Kapas» com 32. Prova principal, 10 km (12 participantes): 1.º, Dinis Santos («Os Kapas»); 2.º José Pinto (CF «Os Belenenses»); 3.º Paulo Alves (CF Santa Iria). Colectivamente: AD Oeiras, «Os Kapas» e Juventude Castanheira (8 clubes).

17 de Fevereiro, II GP Atletismo (Grupo Dinamizador de Atletismo de Caxias), inclusão de prova de 5 km marcha, 16 participantes: 1.º, Paulo Alves (CF Santa Iria); 2.º, José Dias (SL Benfica); 3.º, Dinis Santos («Os Kapas»).

1 de Março, Provas de Preparação, Estádio Nacional (org. Associação de Atletismo de Lisboa), 5000 m pista, 12 participantes: 1.º, Paulo Alves (CF Santa Iria), recorde nacional absoluto e de juniores; 2.º, Carlos Albano (CP MInas da Urgeiriça); 3.º, Dinis Santos («Os Kapas»).

8 de Março, I Fase Torneio de Abertura, 1.ª categoria, Estádio Nacional (org. AA Lisboa), 10.000 m pista, 10 participantes: 1.º, Dinis Santos («Os Kapas»); 2.º, José Dias (SLB Benfica), 3.º, Paulo Alves (recorde nacional de juniores) (...) 7.º, Avelino Ferreira (CV Atletismo), recorde nacional de veteranos.

23 de Março, 20 km marcha (org. CF «Os Belenenses»), Restelo, 9 participantes: 1.º, Paulo Alves (CF Santa Iria), recorde nacional absoluto; 2.º, Carlos Albano (CP MInas da Urgeiriça); 3.º, Dinis Santos («Os Kapas»).

29 de Março, III Fase Torneio de Abertura, Estádio Nacional (org. AA Lisboa), 5000 m pista: 1.º, José Dias (SL Benfica); 2.º, Francisco Alves (AD Oeiras); 3.º, José Domingos (AD Oeiras).

20 de Abril, V GP Marcha da Urgeiriça, vários escalões, 20 km masc.: 1.º, Paulo Alves, recorde nacional absoluto, 1.34.04,5 h; 2.º, Carlos Albano (CP Minas da Urgeiriça), 1.34.05,3 h; 3.º Luís Dias (SL Benfica).

27 de Abril, GP do Grupo Recreativo e Desportivo «Os Kapas», Benfica, 5,5 km: 1.º, Luís Dias (SL Benfica); 2.º, Paulo Vieira (CF «Os Belenenses»); 3.º, José Domingos (AD Oeiras).

4 de Maio, Campeonatos Absolutos de Lisboa - Pista (org. AA Lisboa), Estádio José Alvalade, 10.000 m pista, 10 participantes: 1.º Luís Dias (SL Benfica); 2.º, José Pinto (CF «Os Belenenses»); 3.º, Paulo Alves (CF Santa Iria).

11 de Maio, Encontro Lisboa-Madrid-Barcelona-Resto do País, Estádio José Alvalade, 10.000 m pista, 5 participantes: 1.º Miguel Sans (Madrid, sub-18), 48.42,7; 2.º, Carlos Albano (Resto do País), 49.26,3, recorde nacional absoluto; 3.º, Dinis Santos (Lisboa); 4.º, José Pinto (Lisboa); 5.º, Luís Dias (Lisboa).

21 de Maio, Campeonatos Regionais de Lisboa de Juvenis (org. AA Lisboa), 5000 m masc. e 3000 m fem.: 1.ª, Sandra Ramos (CA Galinheiras), 6 participantes.

24 de Maio, Campeonatos Regionais 2.ª categoria (org. AA Lisboa), Estádio Nacional, 10.000 m pista: 1.º, José Pinto (CF «Os Belenenses»); 2.º, Paulo Alves (CF Santa Iria); 3.º, Francisco Alves (AD Oeiras).

1 de Junho, II Marcha Atlética de Beja (org. Associação de Desportos de Beja), Pista de Beja, todos os escalões etários, 74 atletas de 12 clubes. 10.000 m: 1.º, Dinis Santos («Os Kapas»); 2.º, Paulo Alves (CF Santa Iria); 3.º, Luís Dias (SL Benfica). 1.500 m fem. absolutos: 1.ª Evelina Fernando (CF Santa Iria, júnior); 2.ª, Paula Gracioso (CCD Olivais Sul, iniciados e juvenis); 3.ª, Maria Almeida (AD Oeiras, infantis). Clubes: AD Oeiras, Andorinha FC, Bejauto, Castelo, CF «Os Belenenses», CF Santa Iria, GRD «Os Kapas», CCD Olivais Sul, Pax-Julia, SL Benfica, Tribunas e Zona Azul.

5 de Junho, 1000 m femininos e 2000 m masculinos para infantis e iniciados, pista do Estádio do Restelo (org. AAL/Direcção Geral dos Desportos), 27 participantes. Femininos: 1.ª, Paula Gracioso (CCD Olivais Sul). Masculinos: 1.º, Paulo Machado (AD Oeiras).

10 de Junho, Festas da Cidade de Lisboa (org. AAL/Câmara Municipal de Lisboa), trajecto da Praça do Comércio à Torre de Belém, 7.500 m, 15 participantes: 1.º, José Pinto (CF «Os Belenenses»). 1.ª, Maria Evelina Fernandes (CF Santa Iria). No mesmo dia realizaram-se provas de iniciação em Torres Vedras, organizadas pela Juventude do Sarge.

15 de Junho, I Grande Prémio de Marcha do Belenenses, pista, infantis a juvenis, 44 participantes. 5000 m juvenis masculinos: 1.º, Paulo Vieira (CF «Os Belenenses»). 3000 m femininos: 1.ª, Maria Evelina Fernandes (CF Santa Iria).

29 de Junho, III Marcha da Saúde e Alegria, 4 km da Ponte 25 de Abril à Torre de Belém, 25 participantes: 1.º, Hélder Madeira (Pax-Julia); 2.º, Joaquim Caniço (Sorefame); 3.º, Jorge Bagulho (individual).

29 de Junho, Torneio Regional de Iniciados (org. AAL), Estádio da Luz. 2000 m masculinos: 1.º, José Nunes (Andorinha FC). 1000 m femininos: 1.ª, Paula Gracioso (CCD Olivais Sul).

26 de Julho, Alenquer (org. GDR Operário do Paiol), 10 km, 3 atletas.

15 de Agosto, Beja 10.000 m (org. Pax-Julia).

7 de Setembro, Estádio Nacional (org. FPA), 10.000 m masculinos, 6 participantes: 1.º, Paulo Alves (CF Santa Iria); 2.º, Hélder Madeira (Pax-Julia); 3.º, Avelino Ferreira (CV Atletismo).

30 de Novembro, A-dos-Cunhados, Torres Vedras (org. CD A-dos-Cunhados), 20 km marcha (durante a Meia-maratona de A-dos-Cunhados), 17 participantes: 1.º, José Pinto (CF «Os Belenenses»); 2.º, Luís Dias (SL Benfica); 3.º, Paulo Alves (CF Santa Iria).

21 de Dezembro, Grande Prémio de Natal (org. AA Lisboa), 6,4 km (do Estádio da Luz aos Restauradores), 25 participantes: 1.º, Paulo Alves (CF Santa Iria); 2.º, Hélder Madeira (Pax-Julia); 3.º, José Pinto (CF «Os Belenenses»).