Yohann Diniz após cortar a meta na prova de 50 km de Londres-2017. Foto: Lusa/Facundo Arribazalaga |
De Yohann Diniz já toda a gente se habituou a esperar qualquer coisa.
Desde recordes do mundo batidos em pista com música de fundo até fracassos
olímpicos devidos a problemas intestinais ou desclassificações por
abastecimento fora dos locais estipulados. *A mistura, três títulos europeus
consecutivos de 50 km, os recordes mundiais de 20 e 50 km marcha em estrada, no
último dos quais parando a cem metros da meta à espera de uma bandeira que
pediu emprestada. Ou ainda alguns famosos tropeções com quedas aparatosas e
corridas inesperadas a casas de banho para tratar do que devia ter sido
resolvido antes da partida.
No meio de tanta invulgaridade, ainda faltavam duas coisas a Yohann
Diniz antes de participar nos recentes mundiais de atletismo de Londres: o
título de campeão do mundo e o título de campeão olímpico. O segundo problema
mantém-se; o primeiro ficou resolvido com a vitória nos 50 km marcha, ao fim de
quatro presenças em campeonatos do mundo. E não só conseguiu o ceptro mundial
como o fez com assombrosos oito minutos de avanço sobre o segundo classificado.
À beira de cumprir 40 anos, que completará no próximo dia de ano novo,
Yohann Diniz sente ainda ter por cumprir esse desígnio de ser campeão olímpico.
Só daqui a três anos poderá tentar concretizar esse desejo. Será,
possivelmente, a sua última oportunidade, já que no Verão de 2020 terá uns
respeitosos 42 anos. Qualquer idade é respeitosa, mas ter 42 anos e poder lutar
por um título europeu, mundial ou olímpico de marcha atlética é muitíssimo
invulgar. Aliás, se Yohann Diniz conseguir registar tal sucesso nos Jogos
Olímpicos de Tóquio, tornar-se-á o atleta a sagrar-se campeão olímpico no
atletismo com idade mais avançada.
Nestes mundiais de 2017, onde também se tornou o mais velho campeão
mundial de atletismo, o avanço de oito minutos na meta disfarçou algumas
dúvidas surgidas em fases intermédias da prova. Após a competição declarou que
por volta dos 20 quilómetros começou a sentir dificuldades, mas como os treinos
tinham assentado em numerosas sessões de variações de ritmo, manteve-se calmo e
continuou o esforço. Foi também nessa fase da competição que averbou uma nota
de desclassificação. «Só tenho uma coisa a fazer: não estragar tudo!», pensou
para consigo, ao mesmo tempo que se concentrava na vertente regulamentar da sua
técnica.
Tinha sido para isso que se dedicara em treino a diversas práticas
distintas da marcha, como o ciclismo e a natação, tudo a pensar nos 50 km dos
mundiais de Londres. O esquema de preparação resultou e o sucesso foi de
arromba. Resta agora ir esperando mais três anos até aos próximos Jogos
Olímpicos. Mas, até lá, ainda haverá muitas metas intermédias. E, certamente,
muitas histórias para contar.