Em 25 de junho de 1983 fazia-se história no atletismo português ao realizar-se em Portugal a primeira competição de 50 km marcha, traçada num circuito de 5.898 metros, nas ruas de Alenquer, vila dos arredores de Lisboa.
A organização do evento pertenceu ao Clube Português de Marcha Atlética, fundado em 1 de dezembro de 1982, então presidido por Luís Dias, contando com a colaboração do Sporting Clube de Alenquer, fundado em 10 de janeiro de 1927.
O Clube Português de Marcha Atlética, uma agremiação mais vocacionada para a divulgação e o apoio à organização do que para assumir o enquadramento de atletas, faceta que foi mantendo ao longo dos anos, contribuiu, acentuadamente, para o desenvolvimento da marcha atlética não só em Lisboa, onde estava sediado, mas, também, em outras regiões do país.
O Sporting Clube de Alenquer dispunha, no leque das modalidades praticadas, de uma secção de atletismo onde pontificava Paulo Santos, um jovem marchador que, inclusivamente, representou Portugal nos Mundiais de Juniores, em Atenas, no ano de 1986, então inscrito por outro clube. Francisco Reis, um dos melhores especialistas ao tempo, era outro dos atletas da terra, se bem que representando o Clube de Futebol Santa Iria.
As duas entidades, conjugando esforços, organizaram, naquele primaveril dia, com o carinho e os aplausos das gentes de Alenquer, uma longa prova de marcha atlética, tão extensa se revelou que o último dos seis participantes, um veterano – não existia limite às inscrições, chegou à meta já passava das 11 horas da noite, isto é, demorando 7 horas a concluí-la.
José Pinto, atleta do Clube de Futebol “Os Belenenses”, então uma das grandes bandeiras da marcha atlética em Portugal, tinha-se estreado, em 1982, nos 20 km marcha de uma grande competição internacional – os Europeus de Atenas, e ansiava por realizar a primeira experiência em 50 km. O seu sonho estava direcionado para Helsínquia, no ano seguinte, naqueles que seriam os primeiros Mundiais da história do atletismo.
Com a marca de 4.06 03 h, com passagem, a cada 10 km, de 46.53, 49.37, 46.55, 48.25, e 54.13, o belenense conseguia de uma assentada estabelecer o primeiro recorde português da distância e averbar os mínimos A (4.10.00 h) tanto para os Mundiais de Atletismo, como para os Jogos Olímpicos do ano seguinte, em Los Angeles.
Depois de José Pinto, que completou recentemente 57 anos, cortariam a meta Paulo Alves (CF Santa Iria), 4.57.39 h, Francisco Alves (CF Belenenses), 5.13.21 h, José Domingues (AD Oeiras), 5.32.10 h, José Dias (CCD Olivais Sul), 5.53.47 h, e Joaquim Matameu (Individual), 7.00.07 h.
Em junho desse ano de 1983, a edição impressa de “O Marchador”, órgão oficial do Clube Português de Marcha Atlética, fazia eco, na sua primeira página, do feito de José Pinto, lançando o repto à Federação Portuguesa de Atletismo para a realização de um Campeonato de Portugal sobre a distância e para a participação do nosso país na Taça do Mundo de Marcha.
A primeira edição dos Campeonatos de Portugal de 50 km. Marcha, em estrada, teve lugar em 1985, em Lisboa, na zona de Belém, com as primeiras medalhas a serem atribuídas a José Pinto, Paulo Alves e José Dias, e a estreia do selecionado português na distância, em competições da Taça do Mundo, deu-se em 1987, em Nova Iorque, com a presença de José Pinto, Carlos Albano, José Gonçalves e Jorge Esteves.