Em cima, a equipa de juízes de marcha do evento de Qujing, na China, e em baixo, à esquerda, a primeira prova de José Dias (Corunha 1988) e à direita a sua mais recente. Fotomontagem: O Marchador |
A recente actuação de José Dias como
juiz de marcha no Grande Prémio de Marcha Atlética de Qujing, na China, a 14 de
Agosto, constituiu um marco significativo no extenso e rico currículo deste
juiz português, que dessa forma atingiu a centésima presença em provas de
marcha realizadas fora de Portugal. Seja por nomeação institucional para provas
do calendário mundial, europeu ou de outro continente, seja por convite
individual de organizações de competições particulares ou federativas de vários
países, o mais «internacional» dos juízes de marcha portugueses tornou-se nesse
dia um dos poucos juízes portugueses de atletismo ou de qualquer outra
modalidade a atingir tal número de presenças em provas além-fronteiras.
Pioneiro da marcha em Portugal como
destacado jovem especialista, mas também principal responsável pela criação e
desenvolvimento de um painel nacional de juízes de marcha, José Dias iniciou-se
na marcha atlética em 1975, com o irmão Luís Dias (ex-treinador nacional de
marcha), como atleta do Sport Lisboa e Benfica, integrando a equipa de um dos
primeiros clubes a dedicarem-se à marcha e ao mesmo tempo um dos mais
importantes pólos de desenvolvimento da especialidade na fase inicial de
reimplantação da marcha em Portugal, a seguir à Revolução de 25 de Abril de
1974.
Terminada a carreira de atleta, com
resultados relevantes em provas de pista e de estrada, desde as distâncias
curtas aos 50 km, José Dias haveria de dedicar-se ao ajuizamento de provas de
marcha, primeiro nas condições precárias que era possível reunir na fase
embrionária da disciplina em Portugal e, depois, empenhando-se no recrutamento
e na formação de outros juízes, até à criação de um painel de juízes com
formação específica na marcha atlética.
A primeira actuação em provas
internacionais ocorreria em 1988, quando da realização, na Corunha (Espanha),
do encontro internacional entre Espanha, Portugal, RDA, Suécia, França e
Itália. Em meados dos anos 90 viria a integrar o primeiro painel internacional
de juízes de marcha, criado com base na proposta do grupo de trabalho da
federação internacional para a marcha atlética, mantendo-se nesse grupo até à
presente data.
Ao todo, José Dias regista 62
actuações em 15 países da Europa, 28 em três países da Ásia, oito em cinco
países da América e três presenças em dois países de África. Fazendo a soma,
verifica-se que o total é de 102 provas, ou seja, mais duas do que o total
assinalado de início, o que se justifica com o facto de quatro dessas competições
terem ocorrido na sequência de duas deslocações: as Taças do Mundo de Marcha
de 2014 e 2018, ambas em Taicang (China), levada a efeito em continuidade com os Campeonatos
Nacionais da China.
No conjunto das provas
internacionais em que José Dias actuou como juiz de marcha contam-se como
pontos mais altos três edições dos Jogos Olímpicos (Atenas-2004, Pequim-2008 e
Rio-2016), dois mundiais de atletismo (Edmonton-2001 e Paris-2003), quatro
taças do mundo de marcha (Corunha-2006, Saransk-2012, Taicang-2014 e
Taicang-2018), dois europeus de atletismo (Budapeste-1998 e Zurique-2014) e
quatro taças da Europa de marcha (Corunha-1996, Eisenhüttenstadt-2000,
Olhão-2011 e Múrcia-2015).
A próxima presença de José Dias em
provas internacionais está marcada para 5 a 15 de Setembro, nos Campeonatos
Europeus de Masters em pista (Jesolo, Veneza, Itália), estando o juiz português
já escalado para três outros importantes compromissos: os XVII Campeonatos
Mundiais de Atletismo (Doha, Catar, de 27 de Setembro a 6 de Outubro), a Volta
ao Taihu (China, 20 a 22 de Outubro) e os Jogos da XXXII Olimpíada (Tóquio,
Japão, com as provas de atletismo a decorrerem de 31 de Julho a 9 de Agosto do
próximo ano).
Entre o já concretizado e o
agendado, o currículo de José Dias enquanto juiz de marcha constitui, assim, um
valor importante para a marcha portuguesa, representando um dos mais
importantes percursos para o atletismo português e para a globalidade do
desporto em Portugal, onde são raros (muito raros, mesmo) os casos de juízes ou
árbitros com tão extensa e tão recheada carreira. Mas a
contagem continua.