Mirna Ortiz. Foto: Patricia Ramirez |
Aos 13 anos de idade, Mirna Sucely Ortiz Flores surpreendeu os amantes da marcha atlética centro-americana ao apossar-se de um recorde júnior nos respetivos campeonatos, disputados em El Salvador. De uma família de parcos recursos económicos, cedo se viu obrigada a abandonar a atividade desportiva por os pais não terem condições para, sequer, lhe comprarem uns simples ténis.
Com 11 irmãos, e aos 14 anos de idade, não lhe restou outra saída, se não a de ir trabalhar para um supermercado como repositora de produtos alimentares. Foram oito longos e duros anos de labor, ajudando a família com o pouco que recebia.
Quem nunca a esqueceu, porém, foi o treinador cubano, Lino Rigoberto Medina. Contratado pela Federação de Atletismo da Guatemala a fim de assegurar a condução técnica da marcha atlética no país, Medina foi um dos principais responsáveis pela proeza conseguida por Erick Barrondo, nos Jogos Olímpicos de Londres, ao alcançar uma medalha (a de prata), facto inédito, para o seu país.
Ora, certo dia, Ortiz é surpreendida no seu local de trabalho pela visita de Medina que a convida a ingressar no seu grupo de trabalho. Não foi nada fácil convencê-la. Com dois filhos de tenra idade (Yoshua e Rony), a angústia de trocar o pouco que era certo, pela incerteza do futuro… isso tudo fê-la pensar maduramente mas, por outro lado, havia a esperança de melhores tempos e a convicção nos talentos escondidos.
Retomados os treinos e as competições, foram vários os obstáculos com que se deparou, inclusivamente, o de não poder ver os seus filhos, durante algum tempo, até que, desanimada, apontou para o fim da carreira a participação nos 20 km dos campeonatos da Polónia, em Varsóvia, em 2011.
Sem que nada o fizesse prever, aí realizou mínimos para os Jogos de Londres para, ainda nesse ano, conquistar a medalha de prata nos Jogos Pan-americanos, começando a receber uma bolsa do Governo guatemalteco e vendo, finalmente, uma luz ao fundo do túnel, para onde o destino a empurrara.
Em 2012, em Lugano, no Memorial de Mário Albisseti, deu outro passo de gigante na sua carreira ao ser segunda nos 20 km, com o tempo de 1.28.54, recorde guatemalteco e centro-americano, curiosamente, repetindo tal lugar e tempo, na edição deste ano.
Este ano, no Grande Prémio Internacional de Rio Maior, acompanhou, durante grande parte da competição de 20 km, a superstar da marcha mundial, Elena Lashanova, registando, no final, o magnífico resultado de 1.28.32 h, a apenas 13 segundos da vencedora, com novo recorde da Guatemala e da NACAC.
Depois da competição, a atleta, de 26 anos, disse dedicar a sua bela prestação desportiva aos seus dois filhos, e acrescentou que a participação nas provas realizadas na Suíça, na Eslováquia e em Portugal se enquadra no plano estratégico delineado pelo seu treinador, com vista à presença nos Mundiais de Moscovo, submetendo-se à avaliação ditada pelos juízes internacionais europeus e ao confronto com alguns dos melhores atletas do mundo.